Paulínia (SP) - De olho em acelerar o desenvolvimento de seu portfólio no Brasil, a gigante de insumos agrícolas Syngenta acaba de construir seu primeiro centro de tecnologia e engenharia de produtos da América Latina.
O local escolhido foi a fábrica de Paulínia, a 118 quilômetros da capital paulista, unidade que, segundo a multinacional, seria a maior da companhia no mundo para formulação e envase de ingredientes ativos.
A companhia está investindo R$ 65 milhões para a realização do projeto, que vai permitir à Syngenta aumentar em 35% a capacidade de produção, abrangendo o desenvolvimento de formulações, tecnologia de aplicação, engenharia de embalagem e de processos.
No pipeline, estão previstos ainda mais R$ 40 milhões (US$ 8 milhões) em investimentos adicionais de tecnologia a serem feitos a partir do ano que vem, segundo Rodrigo Marques, diretor de engenharia e tecnologia de produtos da Syngenta.
Ao todo, são seis laboratórios distribuídos num prédio de 2,5 mil metros quadrados, que já existia e vem sofrendo um processo de modernização desde fevereiro do ano passado.
O AgFeed visitou as instalações do novo centro, com um grupo de jornalistas, nesta terça-feira, dia 1º de outubro.
Alguns laboratórios já estão em funcionamento, mas a inauguração oficial está marcada para o próximo dia 23 de outubro.
Globalmente, a Syngenta possui outros seis centros do tipo, localizados em países como Estados Unidos, Suíça, Inglaterra, China, Índia e Cingapura.
O novo centro, segundo a empresa, não fica devendo nada em termos de tecnologia em relação a outras instalações que a Syngenta possui no exterior. Na verdade, por ter sido pensado do zero, ele até se diferencia dos demais, segundo Ricardo Correa, diretor geral da unidade de Paulínia.
“Lá fora, a gente tem uma característica que é bem particular do europeu, americano, que você vai ver vários pequenos laboratórios, cada cientista com um laboratório com seu equipamento. Aqui a gente traz um aspecto diferente. Todo esse prédio fomenta colaboração e inovação aberta”, afirma Correa.
A criação do centro de tecnologia faz com que o processo de desenvolvimento de produtos – que dura ao todo três anos – aconteça de forma mais acelerada, segundo Rodrigo Marques, diretor de engenharia e tecnologia de produtos da Syngenta.
“A gente demorava em torno de 18 meses em desenvolvimento da formulação. Hoje, a gente já conseguiu acelerar esse desenvolvimento para em torno de seis meses”, afirma.
Dessa forma, é possível ter protótipos de um produto que começou a ser desenvolvido em maio sendo testado no campo quando começa a safra do ano corrente, de acordo com o diretor da companhia.
“Eu consigo aproveitar dentro de uma janela de safra (para) começar a testar se aquele conceito, se aquela formulação faz sentido. Com isso, dá para levar a solução ao mercado de forma muito mais rápida, mas também muito mais eficiente, endereçando bem melhor necessidade e expectativa do que vai ser aquele desenvolvimento do campo”, diz Rodrigo Marques.
O centro de tecnologia brasileiro proporciona ainda o desenvolvimento de produtos em Paulínia que antes eram importados e agora poderão ser fabricados, das primeiras análises ao produto final, no interior paulista.
“Isso representa volume (de produção) para o Brasil, para ser fabricado aqui e tem acelerado bastante a introdução de novos produtos dentro de Paulínia”, afirma Correa.
“Ao mesmo tempo que estamos com a abordagem de trazer novas formulações para cá, e acelerada com o tipo de tecnologia, a gente também tem alguns investimentos acontecendo (na unidade) para a construção de capacidade, principalmente (para a produção de) inseticida e fungicida.”
A criação do centro decorre de uma mudança de estratégia da Syngenta nos últimos anos, explica Marques. Até 2018, os desenvolvimentos de novos produtos eram feitos em países como Suíça e Inglaterra e só depois transferidos ou tropicalizados para o Brasil.
"(Desde então,) a Syngenta decidiu levar capacidades mais próximas aos clientes, começamos a fazer investimentos e contratações para capacidades locais e, nos últimos três anos, intensificamos bastante (esses) investimentos", afirma.
A ideia de descentralizar a área de tecnologia e engenharia de produtos, segundo Marques, veio a partir de uma percepção da companhia que o desenvolvimento tecnológico precisava estar mais perto de seus clientes, até pelas características climáticas e agronômicas do Brasil serem diferentes de outras regiões do mundo.
"A gente entende, como negócio, que não temos clientes globais. Não temos clientes no Brasil que estão nos Estados Unidos e na Europa. Nossos clientes são locais, é quem está na região. Ter a proximidade de endereçar necessidades atuais e futuras e traduzir necessidades faz total diferença", afirma Marques.
Apesar da criação do novo centro no Brasil, os ingredientes novos ainda virão de fábricas em países como Inglaterra, Estados Unidos e China, entre outros, mas a unidade de Paulínia fará um desenvolvimento desses ativos.
“Essas tecnologias poderão ser tantos utilizadas ou aplicadas localmente como também exportadas globalmente”, diz Marques.
Os novos laboratórios
Dentro das instalações do novo prédio, ficam os seis laboratórios em sequência, que ficam um do lado do outro um formato de U dentro da construção: formulações, química analítica, biológicos, engenharia de processos, embalagens e tecnologia de aplicações.
As estruturas já existiam, mas estavam dispersas dentro da unidade industrial de Paulínia e agora estão mais bem organizadas e trabalhando com novos equipamentos.
Tudo começa pelo laboratório de formulações, existente desde 2018, e importante para o desenvolvimento de todo o processo de criação das soluções.
Quando o AgFeed visitou o laboratório, o químico Guilherme Martinate fazia a avaliação de imagens de micróscopio de cápsulas com ativos encapsulados.
A observação é parte da rotina dos profissionais deste laboratório, que fazem testes de estresse para analisar como as partículas se comportam em diferentes ambientes, evitando riscos na produção em escala.
“Quando o produto entra na fábrica, esses testes já foram feitos previamente e extensivamente. A gente consegue ter um bom banco de dados para garantir que o que está sendo introduzido na fábrica vai ter um comportamento muito próximo ao que a gente fez no laboratório”, afirma Martinate.
De acordo com Rodrigo Marques, diretor de engenharia e tecnologia de produtos da Syngenta, esse processo também é importante para evitar problemas de aplicação mais à frente.
“O que precisa olhar muito é se essa formulação (de células) está dispersa. Se ela começa a aglomerar (e o produto é fabricado com esse problema), no campo, entope o bico de pulverização e aí, como o agricultor gosta de falar: “parece que a aplicação talhou no campo””, diz.
Na sequência, vem o laboratório de química analítica, onde são desenvolvidos o passo-a-passo de como vão ser analisadas as amostras, relevante por uniformizar os processos, segundo Marques.
No laboratório de biológicos, criado em 2022, os pesquisadores desenvolvem formulações e processo para o desenvolvimento de produtos de biocontrole.
De acordo com Marques, essa área é importante para garantir que as formulações dos biológicos, mais sensíveis, não sofram com as oscilações de temperatura que podem acontecer no processo de armazenagem.
“A gente não vai ao mercado com um produto que não tem a qualidade e o shelf life, a robustez adequada. A gente vai tomar o tempo necessário para que a gente possa garantir isso para os nossos clientes”, diz.
O laboratório de engenharia de processos, por sua vez, permite à companhia desenvolver tecnologias de processos produtivos.
Ali, a Syngenta tem uma reprodução de uma tecnologia de granulação presente na unidade industrial que se chama Pepite, lembra um fermentador de cervejaria e permite a produção de grânulos solúveis em água em laboratório.
A ideia, segundo Rodrigo Marques, diretor de engenharia e tecnologia de produtos da Syngenta, é ampliar essa área dentro do plano de investimentos adicionais de R$ 40 milhões, previsto para os próximos anos.
Ele diz que a intenção da empresa é construir um prédio de 1 mil metros quadrados, anexo ao que está sendo lançado neste momento.
Com isso, haveria um aumento de geração de aproximadamente 3 mil litros de produtos formulados em laboratório para cerca de 50 mil litros por ano.
O repórter viajou a convite da Syngenta