O produtor rural demorou a comercializar a safra e com isso também atrasou a compra de sementes. Isso acabou refletindo nos resultados financeiros da Boa Safra, que registrou prejuízo líquido de R$ 13,6 milhões no primeiro trimestre de 2023, quase o dobro das perdas do mesmo período do ano passado.

A Boa Safra Sementes, porém, ressalta em seu balanço que é uma empresa de extrema sazonalidade, já que nos primeiros meses do ano adquire os insumos e somente contabiliza a receita da venda das sementes no segundo semestre, mais próximo do plantio da soja, que começa em setembro.

Por este motivo, a empresa costuma destacar o resultado do acumulado de 12 meses, o que no balanço divulgado hoje mostra um aumento no lucro líquido, que chegou a R$ 168,7 milhões, avanço de 36,4%. Na receita líquida houve um crescimento de 64% em 12 meses, atingindo R$ 1,8 bilhão.

"O que consideramos mais importante é o volume de pedidos. Começamos o ano com R$ 900 milhões em contratos de venda de sementes, um aumento de mais de 21%, o que nos deixa otimistas", disse o diretor financeiro e de relações com investidores da Boa Safra, Felipe Marques, em entrevista ao AgFeed.

O executivo diz que o crescimento dos contratos de venda está em linha com o plano da empresa em relação ao aumento da capacidade instalada, que era de 170 mil big bags e chegará até o final do ano a 200 mil big bags.

Apesar disso, Marques reconheceu que o crescimento poderia ter sido maior, mas que as vendas não se concretizaram pela demora dos agricultores em fechar os negócios este ano.

"O que acontece é que o produtor rural, pela volatilidade de preços dos insumos, está mais receoso em comprar com tanta antecedência, assim como vinha fazendo nos últimos dois anos", explicou.

Marques estima que o atraso nas vendas de sementes este ano esteja entre 10% e 20%, dependendo da região, já que o estado de Mato Grosso, por exemplo, tem tradição de fazer negócios com maior antecipação.

O ritmo mais lento acompanha também a comercialização da safra de grãos que já é considerada uma das mais atrasadas da história. Relatório recente da consultoria Safras & Mercado indica que até o final de abril apenas 6% da safra de soja 2023/2024 já havia sido comercializada antecipadamente, enquanto no ano passado o índice era de 12% e a média para o período é de 17%.

Sobre o prejuízo maior no trimestre, o diretor da Boa Safra garante que é algo sazonal, que reflete a demora na tomada de decisão do produtor rural e também a queda nos preços das commodities agrícolas, que se intensificou nos últimos meses.

"A margem líquida piorou porque os preços dos grãos ficaram abaixo daqueles que estavam marcados a mercado em dezembro, mas é uma questão temporal”, destaca Marques.

A expectativa de que não haja perdas reais para a empresa é justificada pelas operações de hedge. Como a Boa Safra compra a semente numa época do ano, para depois beneficiar e só então comercializar aos agricultores, costuma fazer operações de hedge para se proteger destas oscilações de preços das commodities e também da taxa de câmbio.

“Desta forma a ponta da receita não estamos vendo ainda, somente no segundo semestre", disse ele. As operações de hedge ajudam a "casar" o que já foi vendido de semente e o que já foi comprado de matéria prima.

Outro destaque do balanço trimestral foi um aumento na receita líquida, de 55%.

Marques explicou que o motivo foi a venda de grãos, a parte do que que é adquirido e, normalmente por questões de qualidade, acaba não sendo comercializado como semente.

"Tínhamos um estoque de grãos elevado no balanço que não conseguimos vender para as tradings e acabamos vendendo no primeiro trimestre, por isso ficou mais carregado, foi a soma do estoque, mis o chamado descarte do período atual”, afirmou.

Perguntado se os preços mais baixos da soja não podem acabar desencorajando produtores a expandir área plantada, o que reduziria a venda de sementes, o executivo garantiu que não há este receio.

"No curto prazo isso não ocorre, as áreas já estão abertas, a decisão já está tomada”, diz ele. Marques, no entanto, admite que se os preços seguirem em patamares mais baixos nos anos seguintes, e não nesta safra 2024, poderá haver algum efeito.

De qualquer forma, a Boa Safra garante que a previsão de investir R$ 152 milhões está mantida, com o aumento da capacidade instalada para 240 mil big bags em 2024.

Em setembro do ano passado a Boa Safra entrou no mercado de sementes de milho, com a aquisição de uma fatia majoritária na Bestway Seeds. O balanço divulgado hoje revela que a receita com as sementes do milho no trimestre foi de R$ 11 milhões, mas não fornece um comparativo, já que o segmento é recente.