A tempestade perfeita que vive a Raízen, do grupo Cosan, ganhou mais um capítulo nesta sexta-feira, com a divulgação do balanço referente ao terceiro trimestre do ano-safra 2024/25, período que engloba os meses de outubro a dezembro de 2024.
A subsidiária da Cosan encerrou o período com um prejuízo líquido de R$ 2,57 bilhões, revertendo o lucro de R$ 793 milhões visto no mesmo período na safra 2023/24.
O trimestre foi o primeiro “sob nova direção” na Raízen, que passou a ter Nelson Gomes como novo CEO. Também nesta sexta-feira, a empresa comunicou a chegada do ex-CEO da BP para o cargo de VP de etanol, açúcar e bioenergia, substituindo Francis Queen.
A receita líquida no terceiro trimestre foi de R$ 66,87 bilhões, alta de R$ 14,3% em um ano. No acumulado do ano-safra da companhia, a receita é de R$ 197 bilhões, alta de 18,5%, mas com um prejuízo de R$ 1,6 bilhão.
Mas então o que explica uma empresa faturar mais de R$ 60 bilhões em três meses e ainda assim ficar no vermelho?
O primeiro aspecto é o custo dos produtos vendidos (CPV), que atingiu R$ 63 bilhões. No mesmo trimestre do ano passado, onde a companhia faturou R$ 58 bilhões, o CPV foi de R$ 53 bilhões.
Na prática, enquanto a receita aumentou 14%, o custo cresceu mais rápido (18,5%), reduzindo a lucratividade.
Além disso, a Raízen teve uma queda de rentabilidade nas operações de Açúcar e Renováveis. Foi impactada pela seca e queimadas em São Paulo, que reduziram a produtividade da cana e aumentaram os custos fixos de produção.
A receita líquida da operação foi de R$ 18 bilhões, alta de 35% em um ano. Acontece que a margem, que no ano passado foi de 12,4%, caiu para 2,74%, com custos de R$ 18,2 bilhões, ou seja, o segmento ficou no vermelho.
Outro fator foi a queda no desempenho de Mobilidade, onde a Raízen atua com distribuição de combustíveis. Nessa área o ebitda recuou 34,7% e atingiu R$ 1,58 bilhão. A empresa citou no balanço um aumento na competição.
Por fim, a companhia teve um aumento nas despesas financeiras de 57,5%, atingindo R$ 2,39 bilhões. A Raízen cita um “aumento no custo da dívida”, por conta de encargos e despesas bancárias.
A dívida líquida da companhia ao final do trimestre atingiu R$ 38,59 bilhões, aumento de 22,5% em um ano, elevando a alavancagem de 1,9 vez para 3 vezes.
No universo operacional, a Raízen moeu 77,5 milhões de toneladas de cana no acumulado da safra até agora, queda de 6,9% frente ao mesmo intervalo do ano passado, diante de menor quantidade de matéria prima disponível.
A produtividade agrícola medida pelo TCH (toneladas de cana por hectare) caiu 9,6% para 77,4 ton/ha. Já o ATR recuou 8,7%, para 10,5 toneladas por hectare.
Na safra até agora, foram produzidas 5,07 milhões de toneladas de açúcar, 12,5% a menos que no acumulado da safra anterior até esse momento.
Já a produção total de etanol no acumulado do ano é de 3,11 bilhões de litros, em linha com o ano anterior. O etanol de segunda geração (E2G), avançou 97,2% em produção, para 49,7 milhões de litros na safra até dezembro.
O mix de produção ficou em 50% para o adoçante e 50% para o biocombustível. No ano passado, o mix era mais açucareiro, com 53% para o açúcar.
De outubro a dezembro, a Raízen vendeu 1,1 milhão de toneladas de açúcar, queda de 10% em um ano, com um preço médio de R$ 2,4 mil por tonelada, 11% menor que no ano passado.
Em contrapartida, o volume de etanol vendido subiu 21,4%, totalizando 895 milhões de litros, com um aumento de 9,9% no preço médio, que chegou a R$ 2,8 mil por metro cúbico.
A Raízen ainda negociou 443 mil MWh de energia, queda de 21,7%, mesmo com uma alta de 17,2% no preço médio, que atingiu R$ 300 por MWh.