A tormenta da Raízen parece não ter fim. A companhia sucroalcooleira, joint-venture da Shell com a Cosan, divulgou sua prévia operacional da safra 2024/2025 e os números apresentados ficaram abaixo das expectativas do mercado e parecem ter frustrado os investidores na B3.

A empresa encerrou a safra da cana 2024/2025 no último dia 31 de março com uma moagem total de 78,3 milhões de toneladas de cana, montante que representa uma queda de 7% em relação à temporada anterior.

O volume de matéria-prima processada pela Raízen diminuiu 30% no quarto trimestre do ano-safra, que vai de janeiro a março, fechando o período em 700 mil toneladas. A produção de açúcar equivalente ficou entre 84 mil e 88 mil toneladas no período.

A companhia disse que a queda esteve relacionada à menor disponibilidade de matéria-prima, sob influência de déficit hídrico e queimadas.

A Raízen foi uma das empresas mais atingidas pelos incêndios que atingiram o interior de São Paulo na metade do ano passado. Na época, a companhia informou que cerca de 1,8 milhão de toneladas de cana sofreram com os incêndios.

A comercialização de açúcar no quarto trimestre teria ficado em 969 mil toneladas, abaixo das 1,936 milhão de toneladas registrada no mesmo período da safra anterior. As vendas de etanol nessa parte do ano também recuaram, chegando a 788 milhões de litros, ante 876 milhões de litros.

Os dados são preliminares, não auditados, e estão sujeitos a revisões até a divulgação oficial dos dados do quarto trimestre, marcado para o próximo dia 13 de maio, após o fechamento do mercado.

Analistas de mercado e investidores não gostaram dos números apresentados. No Citi, os números da Raízen vieram diferentes do que a casa esperava, segundo o analista responsável por agronegócio, petróleo e gás no banco, Gabriel Barra.

O Citi esperava que o esmagamento de soja no quarto trimestre de 2024 fosse mais baixo, chegando a 200 mil toneladas. O número preliminar veio acima do esperado.

Em compensação, o Citi projetava uma venda maior de açúcar, chegando a 1 milhão de toneladas no quarto trimestre de 2025, e uma comercialização mais baixa de etanol, chegando a 581 milhões de litros.

Na B3, as ações da Raízen passaram o dia no vermelho e fecharam o dia com queda de 2,70%, cotadas a R$ 1,80. No ano, os papeis acumulam um recuo de acima de 40%.

A Raízen vem passando por mudanças desde a chegada de Nelson Gomes à presidência da companhia, que entrou no lugar de Ricardo Mussa em outubro do ano passado.

Gomes chegou fazendo alterações importantes, como o congelamento dos investimentos que a Raízen havia projetado em 2021 para o etanol de segunda geração (E2G), que envolviam a instalação de 20 unidades produtoras do biocombustível celulósico até 2030, ao custo de R$ 25 bilhões.

Dessas, só quatro plantas estão garantidas. As usinas de Barra Bonita (SP) e Valparaíso (SP) - e devem entrar em operação em breve. Outras duas, em Morro Agudo (SP) e Andradina (SP), estão em processo de construção.

O próprio Rubens Ometto, controlador da Raízen e da Cosan, admitiu, em um evento do banco BTG Pactual no fim de fevereiro, que colocar de pé o projeto do E2G não é uma tarefa simples.

“O greenfield é problemático, porque você começa a colocar dinheiro, demora a entrar em giro e os juros, que não têm sábado, domingo ou feriado, vão judiando”, afirmou. “Estamos apanhando um pouco para organizar isso.”

A empresa também teria colocado à venda de uma unidade localizada em Leme (SP), que veio da Biosev, comprada pela Raízen por R$ 3,6 bilhões em 2021.

Outras três usinas da Raízen que também pertenciam à Biosev, instaladas no Mato Grosso do Sul, teriam atraído a Atvos, companhia concorrente que é controlada pelo fundo Mubadala Capital, e que anunciou um investimento de R$ 350 milhões para implantar uma unidade de produção de biometano também no Mato Grosso do Sul.