Desde que a Patria Investimentos passou a fazer aportes em negócios do agro, há alguns anos, suas teses passaram pela consolidação de alguns setores a partir de uma estratégia baseada na criação de holdings e grandes empresas.

Assim, formou a Lavoro, uma das maiores empresas de revendas do País, que somou 30 aquisições de redes regionais, e criou a Crop Care, holding que reúne indústrias de insumos como a Agrobiológica, a Union Agro e a Cromoquímica. Nos últimos meses, adquiriu a Sementes São Francisco, entrando em mais um setor do agro, e tem investido no crescimento da Axia Agro, holding para o varejo de insumos para a pecuária.

Agora, a estratégia se repete mais uma vez, com um olhar dedicado a um novo segmento. A gestora acaba de lançar uma empresa para avançar na tese de consolidação da indústria de fertilizantes especiais de solo.

Batizada de Allterra, a nova holding do Patria controlará a operação da Microgeo e da TMF, ambas controladas pela gestora e focadas em fertilizantes mais sustentáveis e com propostas baseadas no melhor uso do solo.

Em entrevista ao AgFeed, o CMO da Allterra, Roberto Risolia, afirmou que a holding já nasce com R$ 300 milhões de faturamento previsto para 2024, contando as operações da Microgeo e da TMF.

A projeção é ambiciosa: crescer entre cinco e seis vezes até 2030. “Temos o tamanho do mercado e das projeções, mas também contamos com a capacidade de criar demanda a partir de inovação e de uma proposta de valor diferente. Podemos acelerar ainda mais esse crescimento, pois somos ‘criadores do mercado”, afirmou.

A empresa faz parte do fundo 7 do Pátria, focado em empresas com viés ESG. A origem da Allterra está pautada na relação do agro nacional com o NPK. Para além de corresponder a 60% de toda cesta de insumos dos agricultores, os produtos dependem de importação e ainda não possuem uma eficiência tão elevada, estima o executivo.

Como se encaixar nisso? Fazer uma empresa que fomente o uso eficiente do solo, algo que será a assinatura da marca, diz Risolia.

“Essa é uma holding onde as empresas que a compõem estão alinhadas com essa tese de uso eficiente do solo. Temos a Microgeo, que trabalha o microbioma do solo, e a TMF, de fertilizantes especiais”, diz.

Com sede em Limeira (SP), a Microgeo produz fertilizantes de solos através de uma tecnologia para produção on farm, em grandes tanques, de soluções biológicas líquidas para dispersão nas lavouras. Risolia cita que o carro-chefe da empresa é um produto que aplica microorganismos no solo e melhora sua estrutura.

Já a mineira TMF atua com um “cálcio móvel”. O produto exclusivo, desenvolvido pela própria empresa, ajuda o cálcio a atingir pontos mais profundos do solo. “O calcário não faz isso e o gesso faz rápido demais”, diz Risolia.

As equipes das duas companhias continuarão independentes, mas a ideia é buscar sinergia e complementaridade de produtos na hora da venda.

Roberto Risolia, CMO da Allterra

A equipe de direção da holding foi montada há cerca de um ano e se juntou ao Patria para organizar a Allterra do zero. O CEO da nova empresa será Marcos Stelzer, executivo que passou quase 20 anos na Anglo American e, até o ano passado, era diretor executivo da Galvani Fertilizantes.

O CTO será Alex Kuribara, ex-AgroGalaxy, e ficará responsável por organizar processos, projetos e bolar a estratégia de longo prazo da holding. Wilson Silva, ex-Superbac, será o CFO.

Antes de assumir o posto de CMO da Allterra, Risolia atuou como CEO da Microgeo por alguns meses para acelerar o processo de sinergia dentro da holding. Ele também esteve por sete anos na Stoller e por outros 15 na Dow AgroScience.

O executivo conta que o Patria deu liberdade para o time montar o negócio. “Cada diretor veio de uma cultura corporativa e de um ramo diferente e pegamos duas empresas familiares para organizar”, diz.

Como fazer a holding crescer?

Considerando o mercado das duas empresas - Microgeo e TMF -, a Allterra nasce forte nas regiões de Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e Goiás. A ideia é expandir, nos próximos anos, para o Mato Grosso e alguns estados do Matopiba.

Na Microgeo, o momento é de entrar no mercado de cana e café. “Nossa entrada na Bahia também engloba novos produtos para o algodão. Outro segmento em que temos um projeto bacana é na pastagem, um desafio enorme”.

As duas empresas eram familiares até a compra pelo Patria. Por isso, a holding entra como um agente que acelera a expansão e as transforma em corporações.

A ideia é que a Allterra seja um ecossistema completo quando o assunto é o uso eficiente do solo. Nisso, o Patria olha oportunidades de compras de empresas que complementam o portfólio da Microgeo e da TMF.

Um caminho natural, segundo Risolio, seriam os organominerais, pela pegada forte de ESG. O segmento está em alta e conta com players como Tello (criada pelos grupos Amaggi, Coopercitrus e Campanelli), Morro Verde (da Ore Investments) e a AgroCP (cujos controladores também participam da Tello).

Novas empresas adquiridas podem tanto entrar dentro do portfólio das duas atuais da holding ou como se tornarem uma nova companhia da holding Allterra. Tudo vai depender da estratégia e da oportunidade.

Além de empresas que produzem fertilizantes sustentáveis, é possível que a holding adquira uma empresa de diagnóstico de solo. “Os próximos passos estão abertos e vamos buscar entender se o diagnóstico será feito dentro de casa ou com algum parceiro. Podemos comprar algum serviço, desde que esteja alinhado com o uso eficiente do solo”, afirmou o CMO da Allterra.

Entender o solo está alinhado com a proposta de valor da holding, segundo o executivo. A ideia é estar bem próximo do produtor, entender seus desafios e investir em conhecimento e inovação.

“Vamos investir muito em pesquisa e desenvolvimento e estamos montando uma universidade corporativa”, conta.