Porto Alegre (RS) - A Serra Gaúcha - região que produz mais de 80% dos vinhos finos nacionais consumidos pelos brasileiros - foi uma das regiões mais atingidas pela calamidade climática que assola o Rio Grande do a Sul há duas semanas.
Além de mortes de pessoas e animais, causadas principalmente pelas enchentes dos rios Taquari e das Antas, deslizamentos de morros, rompimento parcial de barragens e destruição de boa parte da infraestrutura rodoviária, a Emater de Bento Gonçalves - a Capital Brasileira do Vinho - estima uma perda entre 250 e 500 hectares de vinhedos, que estão submersos ou foram levados pelos deslizamentos.
A topografia da região é bastante acidentada e, em distritos como Faria Lemos, em Bento Gonçalves, e Galópolis, em Caxias do a Sul, o terreno está tão instável que moradias seguem sendo evacuadas por medida de segurança.
Na segunda-feira, 13 de maio, moradores de alguns bairros de Caxias sentiram um leve tremor de terra que, de acordo com os sismólogos, pode ter sido causado pela acomodação do solo encharcado.
Gramado teve a pista de uma avenida do bairro residencial Floresta, perto do centro, fraturada em vários trechos e moradores foram evacuados.
No pequeno município de Santa Tereza, localizado em uma parte mais baixa de um vale banhado pelos rios Taquari, Barra Mansa e Vinte Dois, a destruição foi muito grande. Santa Tereza já havia sido devastada pelos temporais de setembro e novembro do ano passado.
Como a prioridade, neste momento, é salvar vidas, retirar pessoas ilhadas em suas casas e buscar pelos desaparecidos, nenhuma entidade do setor vitivinícola tem ainda números consolidados sobre os prejuízos à economia local, baseada fortemente na agricultura e no enoturismo.
Mas as primeiras avaliações são desoladoras. O presidente da Associação Brasileira de Enologia (ABE), Ricardo Morari, que ouviu da Emater de Bento Gonçalves no início da semana uma estimativa inicial de 250 hectares de vinhas destruídas, considera que este prejuízo já seria “muito expressivo”, mas se chegar a 500 hectares pode ser “assustador”.
É preciso levar em conta que as propriedades dedicadas à viticultura são pequenas, com cerca dez hectares, em média.
Morari acredita , no entanto, que o maior impacto econômico será sobre o enoturismo, já que as principais vias de acesso à região estão parcialmente interrompidas, com pontes caídas, e o aeroporto Salgado Filho, de Porto Alegre, porta de entrada no Rio Grande do Sul para os turistas de outros estados, está completamente alagado e paralisado, com previsão de reabertura apenas em setembro.
A Cooperativa Vinícola Nova Aliança, de Flores da Cunha, município que é o maior produtor de uvas do país, teve perdas pontuais com o desastre ambiental - uma unidade foi invadida pela enxurrada em Farroupilha e alguns tanques de aço inoxidável onde são armazenados os vinhos em elaboração foram destruídos.
Além disso, associados perderam até 15 hectares de vinhas. “Mas a maior perda que tivemos foi a de um de nossos associados, soterrado por um deslizamento”, lamenta o presidente da cooperativa, Sidimar Flack. “Quase todos os nossos sócios tiveram problemas em suas casas e vinhedos”, acrescenta.
No feriado de primeiro de maio, o diretor superintendente da Nova Aliança, Heleno Facchin, percebeu que a intensidade da chuva era atípica e foi ao seu pequeno vinhedo de uvas viníferas Merlot e Tannat, em Pinto Bandeira, para verificar os estragos.
A hecatombe climática estava começando, mas uma enxurrada que abriu uma vala de 20 metros de largura na sua propriedade já havia devastado 1 hectare de Merlot e 0,5 hectare de Tannat, além de arrancar 100 metros de tubulações.
“Parreiras no chão. Todas as plantas depenadas. Tudo no chão. Ave Maria!”, exclamou Facchin em vídeo enviado ao AgFeed. Pouco depois, no entanto, ele postou nas redes sociais um vídeo em que comemorava o milagre de uma casa da família, situada a apenas 30 metros do vinhedo, não ter sido atingida pelo deslizamento.