Há uma tendência em andamento dentro do setor sucroalcooleiro. As empresas estão se tornando, além de produtoras de açúcar e etanol, importantes geradoras de energia elétrica.

A BP Bunge Bioenergia, resultado de uma joint venture entre a petroleira britânica BP e a gigante do agronegócio Bunge, está nesse caminho.

Segundo maior grupo do segmento, atrás apenas da Raízen, tem capacidade para gerar 1,2 Gigawatts/hora de energia elétrica por safra, volume que pode ser destinado para venda, segundo o diretor Comercial da companhia, Ricardo Carvalho.

“O mercado de energia passou por muitas instabilidades nos preços. Em 2020/2021, bateu o teto, com cotação de R$ 600 por MWh. Depois foi às mínimas, em 2022/2023, na casa dos R$ 70. Agora, já se consegue negociar preços acima desse piso, principalmente para 2025 e 2026”, explica o executivo.

Segundo Carvalho, a BP Bunge já consegue vender energia gerada em suas usinas por até R$ 150 o MWh, na categoria incentivada. “Tem chovido abaixo da média no Centro-Sul do Brasil, mas os reservatórios estavam na capacidade máxima. Essa combinação leva a esse cenário de preços mais equilibrado”.

Mas o principal negócio da BP Bunge ainda é o cultivo de cana de açúcar e a produção de etanol e açúcar. Apesar de nova, com início das operações em 2019, a companhia já tem números de veterana, por conta da relevância dos seus acionistas.

Desde o início das operações, foram R$ 6 bilhões em investimentos até a safra 2022/2023, um ritmo médio de R$ 2 bilhões por ano. As receitas ficaram próximas de R$ 8 bilhões na última safra, um crescimento de quase 30% na comparação com o primeiro período de resultados, na safra 2020/2021.

Na moagem de cana, a BP Bunge tem atualmente capacidade para 32 milhões de toneladas por safra. As projeções para a safra 2023/2024, que está próxima de ser finalizada, colocam o volume mais próximo dessa capacidade, de até 29,5 milhões de toneladas, o que representaria um crescimento de 16%.

“A safra de 2023 foi muito boa, mas no caso do etanol, mesmo com o preço na bomba caindo, o consumidor não voltava. Tem a ver com a desoneração da gasolina, que mexeu nos hábitos de consumo”, explica Carvalho.

Ele afirma que no final do ano passado, a situação começou a se normalizar. “Tivemos que adotar uma paridade com a gasolina muito baixa, o que tem levado a uma retomada do consumo. Acho que 2024 será muito melhor nesse sentido. E a safra não será recorde. Deve ficar em torno dos 610 milhões de toneladas, contra 670 milhões de toneladas em 2022/2023”, diz Carvalho.

Mas o “grande jogo” para o etanol está no longo prazo, segundo o executivo. Principalmente quando se pensa no potencial do combustível para aviação. Em outubro passado, a companhia anunciou ter dado um passo importante para a exportação desse biocombustível, obtendo a certificação ISCC CORSIA, que habilita o etanol produzido na unidade Ouroeste (SP) para ser utilizado como matéria-prima para produção de Combustível Sustentável de Aviação (SAF)

“EUA e Japão já têm rotas para adotar o etanol de aviação (SAF, na sigla em inglês). Se os testes derem certo, vamos ver grandes projetos saindo do papel em 2026 e 2027”, projeta Carvalho.

Ele ressalta que o Japão tem a meta de adotar 10% de SAF no combustível de aviação até 2030. “É um prazo apertado, precisam começar a colocar em prática agora para conseguir esse objetivo”, diz o diretor da BP Bunge.

Carvalho acredita que o potencial nos Estados Unidos é muito grande. “Se eles adotarem uma mistura de 20% a 30% de SAF no querosene de aviação, já iguala o volume do mercado de transportes terrestres”.

A BP Bunge tem aumentado seu espaço no mercado externo com o etanol. A companhia saiu de R$ 150 milhões em exportações na safra 2021/2022 para quase R$ 540 milhões em 2022/2023. Além de EUA e Japão, a companhia exporta também para a Europa e Coreia do Sul.

Açúcar tipo exportação

Enquanto o futuro do etanol não chega, a BP Bunge aproveita o bom momento do açúcar. Segundo Carvalho, o produto passou de 46% do total processado, duas safras atrás, para 51% na safra atual.

Nas suas 11 usinas espalhadas por São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Goiás e Tocantins, a empresa tem capacidade de produzir até 1,7 milhão de toneladas de açúcar por safra.

“Nós produzimos açúcar VHP (bruto) e exportamos 95% da produção. O mercado ainda está em um momento muito positivo, com vários países importantes deixando de exportar e precisando importar, como a Índia. O espaço está se abrindo para o açúcar brasileiro”, diz Carvalho.

O grande desafio, segundo o executivo, está no escoamento desse açúcar. “No nosso caso, todo o volume vai pelo Porto de Santos. Hoje, a estrutura atende bem. Mas acredito que quando chegar perto do limite, teremos um ciclo de investimentos nos portos”, afirma Carvalho.

No mercado interno, a BP Bunge também tem conseguido elevar sua participação. A empresa triplicou seu faturamento com a venda de açúcar no Brasil, chegando perto de R$ 400 milhões em faturamento na safra 2022/2023.