O greening, doença incurável que ataca os pomares de laranja, tem deixado um rastro de devastação por onde passa. Foi a principal causa, por exemplo, pela derrocada de mais de 80% da produção de cítricos no estado americano da Flórida, que já foi o segundo maior produtor mundial da fruta.
E tem destruído também negócios. Sua mais recente vítima é a divisão de frutas cítricas da Alico Inc., uma das maiores produtoras de laranja dos Estados Unidos.
A companhia informou hoje que encerrará sua atuação nessa área, deixando inclusive de fornecer seus produtos à Tropicana, principal braõ de sucos da Pepsico.
O encerramento das atividades nessa, segundo informou a agência Bloomberg, ocorrerá após a colheita da safra atual. A partir de então, a Alico e se transformará em uma empresa de “terras diversificadas”.
Após o anúncio, as ações da Alico subiram até 22% nesta segunda-feira, 6 de janeiro, maior variação em um mesmo dia em mais de quatro anos.
O greening, praga sem cura, de difícil manejo e que causa deformidade e perda de produtividade nas frutas, é apontado como o principal motivo da decisão. Mas há outras razões a incentivar a empresa a deixar o segmento.
A Flórida sofre também com perdas nos pomares causadas por furacões. Esses fenômenos climáticos e seus ventos atuam na transmissão de doenças e causam impactos físicos nos pomares, com a derrubada de árvores e frutos.
O estado norte-americano chegou a produzir mais 240 milhões de caixas ao ano no começo do século, mas sucumbiu ao greening. Com o impacto da pior praga da citricultura, a produção caiu mais de 90%, para apenas entre 12 milhões e 15 milhões de caixas na safra 2024/2025, o menor volume desde 1930.
“Exploramos todas as opções disponíveis para restaurar a lucratividade de nossas operações cítricas, mas a tendência de produção de longo prazo e o custo necessário para combater a doença do greening dos citros não sustentam mais nossas expectativas de recuperação”, relatou o CEO da Alico, John Kiernan, em uma teleconferência com investidores.
A Alico possui mais de 20 mil hectares na Flórida e informou que cerca de 75% de suas terras devem permanecer para uso agrícola. O restante tem potencial para imóveis comerciais e residenciais.
A empresa reduzirá a maior parte dos funcionários no cultivo de cítricos imediatamente e cerca de 1.400 hectares de frutas serão administrados por terceiros até 2026 para abastecer a Tropicana, seu maior cliente, disse Kiernan.
O contrato da Alico com a Tropicana inclui uma provisão para remover a área para o fornecimento de frutas se a terra for economicamente inviável, relatou o executivo. Em junho, a Alico assinou um contrato de três anos para fornecer à Tropicana as frutas cultivadas em cerca de 65% de seus hectares plantados.
A atitude da Alico não é novidade. Com o greening, produtores venderam terras para cobrir custos ou pararam de cultivar a fruta.
No Brasil, responsável por cerca de 70% da produção mundial de suco de laranja, o greening também preocupa. O aumento da incidência da doença no cinturão citrícola do interior paulista, maior região produtora, tem feito com que citricultores e empresas busquem novas áreas de cultivo em estados como Minas Gerais e, principalmente, o Mato Grosso do Sul.
O grupo Cutrale, por exemplo, anunciou a intenção de investir mais de R$ 500 milhões na implantação de pomares na região de Sidrolândia (MS). O plantio, que será feito em sistema irrigado, começou no segundo semestre do ano passado e deve envolver mais de 1,7 milhão de árvores.