Cerca de 45 dias e uma distância de 11 mil milhas náuticas (algo em torno de 20 mil quilômetros). Esse é o trajeto e o tempo que um navio cargueiro necessita para vir da China até o Brasil.
De 2020 para cá, a holding Crop Care, que reúne indústrias de insumos, passou a olhar com mais atenção para esse itinerário. Foi nessa época que o grupo decidiu criar a Perterra, empresa voltada para comercializar químicos pós-patente, os chamados genéricos.
Desde então, seus executivos Juliana Shiraishi e Paulo Alvares, têm percorrido a distância - via aérea, é claro - pelo menos uma vez ao ano. Na China, eles visitam 25 parceiros, que incluem empresas como Sino-Agri, CAC, Yonon, Wynca, Limin, Lier, Aba Chemical e Hailir, para garantir fornecimento para um mercado que, na sua visão, deve ganhar impulso ainda maior.
Com as margens dos produtores mais apertadas depois de safras mais complexas, em que preços de commodities e clima jogaram contra, eles acreditam que abusca por produtos mais baratos deve se intensificar.
A conta é simples: segundo o Sindiveg, a cesta de produtos pós-patente custa cerca de 25% menos que uma cesta de produtos não genéricos.
A Crop Care conta atualmente também com as empresas Agrobiológica, Cromo Química e Union Agro. “A Perterra entra compondo o portfólio que a distribuição precisava de defensivos químicos, negócio que tem o maior share nos fazendeiros”, afirmou Juliana Shiraishi, head de Strategic Sourcing da Perterra.
Hoje, ela estima que de 3% a 5% de todas as vendas da Lavoro – que, assim como a Crop Care, é controlada pela gestora Patria Investimentos e é o principal canal de distribuição da empresa – vêm de produtos da Perterra. Em duas safras, acredita, esse percentual pode atingir os dois dígitos.
Paulo Alvares, diretor de assuntos regulatórios e de P&D Crop Care, explica que o crescimento da rede de revendas do Patria trouxe uma oportunidade de mercado para atuar com agroquímicos e defensivos genéricos de marca própria.
“Estabelecemos a empresa em 2020 discutindo como fazer uma companhia rodar rápido e obter registros próprios com agilidade no País. Desenhamos uma série de parcerias e fomos felizes com fornecedores. No segundo semestre daquele ano já começamos a aplicar os pedidos de registro”, conta Alvares.
Hoje, são 21 produtos próprios, com mais alguns no forno para os próximos meses. Segundo Alvares, a média de aprovação dos químicos da empresa é de três anos, ante um mercado que usualmente demora sete anos.
Na safra 2022/2023, o faturamento da Perterra ultrapassou R$ 130 milhões. Para o ciclo 2023/2024, a expectativa é chegar aos R$ 180 milhões, segundo afirmou Marcelo Pessanha, então CEO da Crop Care e hoje vice-presidente da Lavoro Agro, em entrevista ao AgFeed no ano passado.
Além de vender produtos pós-patente, a Perterra ainda atua com formulações diferenciadas, unindo duas moléculas diferentes. “Focamos em empresas de alto conhecimento de produção, dentro de um País que está na dianteira no mercado de genéricos”, afirma Juliana Shiraishi.
Encomendados a fornecedores chineses, os produtos deixam o gigante asiático já rotulados com a marca Perterra e prontos para a distribuição no território nacional,
Por aqui, os defensivos chegam geralmente pelo Porto de Santos e partem para as três filiais da empresa, uma no Paraná, outra no Mato Grosso e outra no estado paulista.
Paulo Alvares explica que a Perterra, em função da relação com a Lavoro, e com isso, o portfólio está focado nos produtores que a rede mais atua: sojicultores, produtores de milho e cotonicultores.
“Apesar desse foco, temos produtos para pastagem, eucalipto e cana. Estamos focados nas culturas, mas nos preparando para entrar também no mercado de citrus”.
A Perterra possui uma trading, que serve para resolver a parte burocrática de importação de produtos. A sede dessa área fica no Uruguai, na capital Montevidéu, onde Juliana está sediada.
“A trading traz um hub para pensar estrategicamente parcerias internacionais. Estamos em uma zona franca com benefícios fiscais. Dessa forma, separamos a operação de distribuição da estratégia de sourcing”, afirmou a diretora.