Assim como tem sido praxe nas empresas de insumos, a foto do momento mostra uma série de desafios para a Nutrien.

A empresa divulgou seus números de 2024 na noite desta quarta-feira, confirmando queda nos lucros e na receita.

A Nutrien encerrou o ano passado com um lucro líquido de US$ 700 milhões e um faturamento líquido de US$ 33,3 bilhões. Os números mostram recuos de 77% e 22% em um ano, respectivamente.

O resultado líquido caiu bem mais que a receita em um ano, mostrando um cenário de aumento nos custos. A companhia informou que houve queda nos preços do potássio e do nitrogênio, mesmo diante de volumes de vendas ainda altos.

O preço médio do potássio, por exemplo, ficou em US$ 194 por tonelada, 61% abaixo do preço médio de 2023. Nos nitrogenados também houve queda no preço médio: 27% na amônia, 22% na ureia e 28% nas soluções, nitratos e sulfatos.

A receita do segmento de potássio foi de US$ 4,17 bilhões, queda de 36%. Foram cerca de 13 milhões de toneladas comercializadas, em linha com 2023.

Nos nitrogenados houve queda de 22% na receita, atingindo US$ 4,7 bilhões e nos fosfatados houve baixa de 16% no faturamento de um ano para o outro, batendo US$ 2,2 bilhões. O número de vendas em toneladas ficou estável.

A receita com vendas no varejo foi de US$ 19,5 bilhões, queda de 7% em relação a 2023. A companhia cita “impactos cambiais e perdas financeiras” especialmente na Argentina e no Brasil, que afetaram o lucro líquido.

“Outras perdas foram causadas principalmente pela desvalorização das moedas australiana, brasileira e canadense em relação ao dólar americano, em comparação aos ganhos nos mesmos períodos em 2023”, afirmou a empresa no balanço.

A empresa não entra no detalhe da perda, mas cita US$ 220 milhões em derivativos de moeda estrangeira no Brasil.

Recalculando a rota no Brasil

A empresa não cita diretamente a venda de ativos por aqui, divulgada nos últimos dias. No balanço, apenas menciona que existem “iniciativas de reestruturação no Brasil sendo desenvolvidas atualmente”.

A companhia cita que alterou a metodologia de avaliação dos negócios no Brasil. Nisso, percebeu que, diante dessa reestruturação em andamento, o valor da operação no País era menor do que o estimado antes.

Anteriormente, a Nutrien calculava o valor dos ativos com base em projeções futuras de lucro, mas passou a comparar as vendas recentes de concorrentes no mercado.

Usar projeções futuras significa que a empresa estava otimista no crescimento da operação. Ao mudar o olhar para o presente, mostra cautela e indica que os desafios atuais do agro brasileiro estão impactando os negócios.

Os resultados complexos no Brasil fizeram a companhia a ajustar a operação nacional. Primeiro, em maio de 2024, anunciou que fecharia três fábricas por tempo indeterminado. Em julho, decidiu fechar as outras duas unidades de processamento, deixando de misturar fertilizantes por aqui.

Há uma semana o mercado ficou sabendo que a empresa está em busca de um comprador para as cinco fábricas.

A informação foi divulgada inicialmente pelo site Brazil Journal e posteriormente confirmada pelo AgFeed com uma fonte a par do assunto. Depois disso, a própria Nutrien confirmou a intenção, ressaltando que mantém as operações de comercialização de insumos agrícolas através de sua rede de distribuição.

"A Nutrien informa que continua a oferecer um portfólio robusto de insumos e soluções agrícolas que atendem às necessidades dos produtores brasileiros. Como parte da estratégia global de otimização dos negócios, a empresa decidiu descontinuar as operações de misturadores de fertilizantes no Brasil em 2024. O processo de venda dessas unidades é um passo natural dentro dessa estratégia. Seguimos focados em iniciativas que fortalecem nossa presença no mercado por meio de parcerias estratégicas, inovação e excelência no atendimento ao cliente", informou a nota.

Olhando para 2025, a Nutrien espera “condições favoráveis de umidade do solo e preços mais altos das commodities ajudando a operação”. “Esses fatores podem levar a um aumento na área plantada de milho safrinha de aproximadamente 5%, apoiando a demanda por insumos agrícolas no primeiro semestre de 2025”, afirmou a companhia, se referindo ao Brasil.

A companhia ainda prevê um aumento na demanda por potássio, avaliando que os estoques globais do fertilizante recuaram no ano passado.