Em uma pesquisa recente, a Esalq Log, braço de estudos sobre logística da Esalq, estimou o tamanho do problema: 61% dos produtores de grãos brasileiros não possuem, em suas propriedades, nenhuma estrutura de armazenagem para sua produção.

É também essa a dimensão da oportunidade enxergada pela canadense AGI, uma das maiores fabricantes de equipamentos para armazenagem do mundo, no Brasil. Presente no País há cerca de cinco anos, a companhia acaba de dar seu maior passo em direção à conquista de um mercado com enorme potencial de crescimento e liderado, com alguma folga, pela gaúcha Kepler Weber.

A multinacional espera avançar trazendo uma solução para outro desafio do agricultor brasileiro, o crédito. Para isso, estruturou, em parceria com a Opea, gestora e securitizadora de emissões no mercado de capitais, um fundo que conta com recursos do BNDES para financiar a construção de armazéns em propriedades rurais.

O Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) terá uma captação de R$ 250 milhões. Por se tratar de dinheiro originado pelo BNDES, o custo do crédito para o produtor será o menor possível, segundo os agentes.

“A taxa mínima será de CDI mais 1,51% ao ano. Além de ser uma linha barata, ela atende uma demanda muito forte”, conta Thiago Minohara, diretor Financeiro da AGI, ao AgFeed. “O crédito bancário para armazenagem não chega até os produtores. Se eles tentarem no banco, as exigências de garantia e perfil são impeditivos”.

De acordo com Minohara, os produtores financiados terão um ano de carência para iniciar a amortização e até 10 anos de prazo para liquidação. Os recursos serão direcionados prioritariamente para regiões que têm maiores déficits de armazenagem, como Bahia, Goiás, Mato Grosso e Maranhão.

Flavia Palacios, CEO da Opea, afirma que o fundo começa com recursos do BNDES, mas que pode ser ampliado. “Tenho a sensação de que a performance pode atrair outros investidores no futuro”.

Minohara afirma que, no primeiro momento, o limite de crédito por operação será de R$ 8,75 milhões. “A partir do momento que o fundo atingir patrimônio de R$ 190 milhões, esse limite sobe para R$ 15 milhões por transação”. O financiamento cobre também as chamadas obras civis, que englobam as estruturas básicas para a construção dos silos.

O executivo conta que a AGI financia seus clientes desde 2017 com recursos próprios. “Nossa inadimplência é quase zero. Esse é investimento da vida do produtor, eles levam muito a sério. E, por ter essa experiência, nós conseguimos conhecer os clientes que estão necessitando e podem tomar esse crédito”.

Esse perfil de bons pagadores dos produtores rurais é confirmado por Palacios, da Opea. “O agronegócio brasileiro é muito maior que a ponta do iceberg que apresenta problemas neste momento difícil. O setor apresenta comportamento muito melhor que a média de outros setores”, conta.

Tanto que a Opea continua colocando muita energia no agronegócio. “Nós começamos a gestora há pouco mais de um ano e terminamos 2023 com oito fundos. Sete deles são voltados ao agro”, diz a CEO.

Palacios conta que está no horizonte da Opea montar um Fiagro. “Hoje, só temos FIDCs. E queremos continuar trabalhando só com direitos creditórios. Agora, estamos esperando as mudanças nas regras para os Fiagros, para ver como vamos atuar”.

Na securitizadora, os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) em que a Opea atuou na estruturação somam R$ 17 bilhões, volume R$ 4 bilhões abaixo dos títulos imobiliários.

Crescimento rápido

A Ag Growth International forma a sigla AGI, e a empresa canadense tem atuação global. A companhia ainda não divulgou os resultados do últimos trimestre de 2023, mas entre janeiro e setembro do ano passado, faturou 1,1 bilhão de dólares canadenses, equivalentes a US$ 850 milhões.

No Brasil, a AGI apresentou crescimento rápido até o ano passado. A subsidiária local foi iniciada com a compra de uma pequena fábrica na cidade de Cândido Mota, praticamente na divisa entre São Paulo e Paraná.

“Nós construímos outra fábrica no local, que ficou pronta em 2018. Os resultados começaram a aparecer em 2020. Nós saímos de menos de 200 funcionários naquela época para os atuais 1.200 funcionários”, conta Minohara.

Hoje, a AGI já é a segunda maior fornecedora de equipamentos para armazenamento de grãos do Brasil, atrás somente da Kepler Weber.

Em números, a empresa teve uma evolução rápida entre 2020 e 2021, mais que dobrando o faturamento e chegando a R$ 500 milhões. Em 2022, a AGI registrou receitas de R$ 815 milhões, com crescimento próximo de 60%. Em 2023, até setembro, o faturamento foi superior a R$ 615 milhões.

Agora, a AGI está em fase de elaboração de um plano que, segundo Minohara, tem como objetivo fazer a operação brasileira dobrar de tamanho após cinco anos.

“A demanda tem sido grande, não temos mais espaço para guardar equipamentos que já estão vendidos. Mas ainda não tomamos a decisão de abrir uma nova fábrica. Pode ser que essa necessidade apareça inclusive durante a elaboração deste plano”, afirma o executivo.