O negócio de Marcos Molina é a carne. Isso é público e notório. Mas o que poucos sabem é que, além da Marfrig, maior fabricante de hambúrgueres do mundo e uma gigante global do setor de carnes bovinas, e da sua controlada BRF, potência na produção de alimentos a partir de frangos e suínos, o bilionário possui outro negócio no início da cadeia dessas indústrias – e que também não para de crescer.
Trata-se da MFG Agropecuária, empresa que possui seis confinamentos para engorda de bovinos em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e São Paulo, com capacidade estática total de 139 mil cabeças, uma das maiores do Brasil. E que está prestes a colocar uma sétima unidade em operação.
A partir de janeiro próximo, a MFG vai começar operar uma estrutura localizada na cidade de Sabino, em São Paulo, a 466 quilômetros da capital paulista. A informação antecipada ao AgFeed por Vagner Lopes, gerente geral de confinamento sênior da empresa.
Lopes conversou com a reportagem durante a Feira Internacional do Gado de Corte (Feicorte), realizada na semana passada em Presidente Prudente, no interior paulista.
A MFG não vai erguer um confinamento do zero, mas sim arrendar uma estrutura já existente e que pertence à família Bertin – um dos grandes clãs da pecuária brasileira até atravessar dificuldades e ver o seu grupo comprado pela JBS, em 2009.
Sabino é uma pequena cidade de pouco mais de 5 mil habitantes, vizinha de Lins, cidade-sede do Bertin durante mais de três décadas, até a negociação com os Batista.
Até recentemente, o confinamento esteve arrendado à empresa Maximus Agronegócio. Com capacidade estática de reunir 22 mil cabeças de gado, está localizado dentro da Fazenda Santa Adélia, dos Bertin, e possui 100 piquetes cobertos e 50 piquetes descobertos.
A modernização da estrutura do confinamento custará entre R$ 3 milhões e R$ 4 milhões à MFG, de acordo com Lopes.
A escolha do confinamento foi natural, segundo Lopes, pelo fato de Sabino estar localizada próxima de Promissão, a única cidade paulista onde a Marfrig tem um frigorífico, com capacidade de produzir 9,9 mil toneladas de carne por mês.
Além disso, a ideia da MFG é aproveitar as oportunidades crescentes dos confinamentos no Estado de São Paulo e de desafogar o confinamento da MFG em Pereira Barreto, município próximo da divisa entre São Paulo e Mato Grosso do Sul, que tem capacidade estática de 26 mil cabeças.
“O confinamento de Pereira Barreto ficou pequeno aqui em São Paulo. A gente está rodando cheio e full time desde janeiro, com fila de espera para novembro e dezembro. Pensamos: por que não pegar uma nova unidade se está existindo hoje uma demanda crescente de confinamento hoje?”, afirma Lopes.
Somando todas as unidades, a MFG deve chegar ao fim deste ano com aproximadamente 300 mil cabeças de gado abatidas.
No ano que vem, a ideia é avançar para um número entre 320 mil e 330 mil cabeças, já contando com a operação de Sabino.
A instalação de novas unidades em 2025 não está nos planos da MFG, mas Lopes diz que a empresa enxerga oportunidades no setor de recria.
Como os animais vêm geralmente de sistemas extensivos, eles precisam ser adaptados ao chegar aos confinamentos.
“A gente pensa em expandir um pouco mais a recria, para que a gente tenha sempre um parceiro próximo. Desenhamos um modelo de parceria em que a MFG já entra na recria junto com o pecuarista parceiro, para que esse animal já comece a ser adaptado na fazenda do parceiro e chegue já preparado para receber uma dieta de confinamento”, afirma Lopes.
Criada há 17 anos, a MFG inicialmente era o braço de confinamentos da própria Marfrig. A empresa contabiliza um abate total de 2,5 milhões de cabeças de gado desde o começo de suas atividades.
Há oito anos, em 2016, a MFG virou um negócio independente da companhia-mãe, ao ser vendida para o próprio Molina, dentro de um projeto de reestruturação da Marfrig.
A empresa, no entanto, segue repassando os bois confinados para serem abatidos exclusivamente para os frigoríficos de Molina, sem fazer negócio com outras empresas do setor.
De lá para cá, a produção foi crescendo, passando de cerca de 80 mil cabeças abatidas em 2018 para uma projeção de 300 mil cabeças neste ano.
A empresa possui duas formas de venda de seus serviços, trabalhando com pecuaristas parceiros.
Uma delas é o chamado ‘boitel’, em que o pecuarista paga uma diária à MFG para a engorda de seu rebanho. As diárias rondam a faixa de R$ 14 por animal e o tempo em que o gado fica confinado pode variar entre três a quatro meses.
“O pecuarista vai pagar uma diária fixa e esse animal vai ficar de 95 até 120 dias no confinamento, a depender do peso. O animal mais leve fica um pouco mais de dias, o animal um pouco mais pesado, você consegue abater ele com 95 dias”, afirma Lopes.
Quando ocorre o abate, a carcaça fica com o pecuarista parceiro. “A MFG recebe o faturamento do frigorífico, desconta o custo da engorda e repassa para o parceiro todo o valor líquido”, afirma.
O outro modelo se baseia na quantidade de arrobas produzidas: a partir do peso de abate na entrada, a MFG calcula quantas arrobas foram produzidas na saída e faz o cálculo dos custos. A ideia da empresa é sempre produzir um animal com oito e meia a nove arrobas adicionais.
Segundo Lopes, o milho é o carro-chefe da dieta dos animais e, para que haja melhor absorção do amido do grão, a MFG faz o processo de reidratação do milho, conseguindo melhores resultados a custos mais baixos.
“Tem confinamentos que não possuem essa estrutura. Para você fazer um investimento desses, tem que comprar maquinário, fazer treinamento em equipe, tem gastos e custos adicionais, mas isso também proporciona melhor ganho de peso, melhor conversão, e a gente consegue baixar o custo da diária e da dieta”, afirma.
No ano passado, a MFG decidiu também investir na eliminação do uso de aditivos macrobianos, substituídos por extratos naturais, começando pela unidade de Tangará da Serra (MT), onde a empresa possui um confinamento com capacidade produtiva de 21 mil cabeças de gado.
Em paralelo, com a utilização dos suplementos alimentares da Silvafeed nos últimos três anos, a MFG conseguiu mitigar em seus confinamentos cerca de 820 toneladas de gás metano, um dos mais poluentes, quantidade equivalente a 23 mil toneladas de CO2.
A grande quantidade de emissão de metano no campo, que vem principalmente da fermentação entérica do gado, é um nó que ainda não foi resolvido pela agropecuária.
Dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima, indicam que, no Brasil, as atividades agrícolas responderam por 631,2 milhões de toneladas de dióxido de CO2 equivalente no ano passado.
Desse total, o metano, sozinho, correspondeu a uma emissão de 355,1 milhões de toneladas de CO2 equivalente.
Além do fator ambiental, as diversas frentes de melhoria de bem-estar são uma resposta a uma tendência crescente no mercado, na avaliação de Lopes.
“Cada vez mais, tanto a indústria quanto os confinamentos estão sendo incentivados a incorporar o bem-estar animal de forma positiva em suas operações", afirma o gerente da MFG.