Fernando Penteado Cardoso Neto é de uma família com muita tradição no agronegócio. Seu avô, o lendário Fernando Penteado Cardoso, fundou a empresa de fertilizantes Manah, que ficou conhecida pelo grande público pelo slogan “Com Manah, adubando dá””.
A empresa foi vendida para a Bunge, mas a família continuou a trajetória empresarial no setor. Agora, Cardoso Neto é presidente da empresa de nutrição animal Connan, e assumiu recentemente a presidência da Associação Brasileira das Indústrias de Suplementos Minerais (Asbram).
O executivo afirma que o ano de 2023 não foi bom nem para o segmento, nem para a Connan. “Houve uma queda de 7%, tanto em volume como em faturamento para o setor. E a Connan teve um desempenho bem semelhante”, conta.
Cardoso Neto conta que, com os preços do boi em queda, o primeiro semestre do ano passado foi de trajetória “morro abaixo” para o mercado de nutrição animal. No terceiro trimestre, a situação ainda foi ruim, mas não no mesmo grau que a da primeira metade do ano.
“No quarto trimestre, a situação começou a melhorar. Em 2024, nos dois primeiros meses, houve um crescimento de 4% nas vendas. Mas a situação voltou a piorar em março, com os produtores segurando mais o gado no pasto, por conta das chuvas”, relata Cardoso Neto.
Ao mesmo tempo em que reconhece os desafios para a indústria de nutrição animal no curto prazo, o presidente da Connan e da Asbram se diz “muito otimista” com as perspectivas de médio e longo prazo.
A Connan é uma empresa com faturamento de R$ 200 milhões que oferece produtos para gado de corte e de leite, equinos e ovinos, com sede em Boituva, no interior de São Paulo. Está inserida em um universo imenso.
Cardoso Neto conta que as empresas associadas da Asbram, que representam mais de 60% do mercado brasileiro de nutrição animal, com um volume de 2 milhões de toneladas vendidas. O mercado total, contando empresas associadas e não associadas à Asbram, fatura R$ 16 bilhões por ano.
“Esse número pode não só duplicar, mas triplicar ou quadruplicar. Há potencial para isso. E estamos fazendo um trabalho para mostrar aos produtores a importância de se investir em nutrição para melhorar a produtividade”.
O empresário e dirigente afirma que o mercado hoje tem 50% do tamanho que deveria ter. “Nós hoje poderíamos ter o dobro das vendas. Isso não acontece por questões logísticas, com dificuldade para chegar até os produtores, mas também porque os próprios pecuaristas acabam investindo menos do que deveriam em nutrição”.
O executivo afirma que há espaço inclusive para melhorar a gestão da alimentação dos animais nas fazendas. “Em muitos casos, os pecuaristas não têm funcionários suficientes para manter os cochos de alimentação do gado em níveis mais adequados. Como o animal não morre por comer menos, essa situação se mantém”.
O presidente da Connan defende que, especialmente para bovinos, a nutrição adequada melhora todo o processo de criação, desde o nascimento do bezerro até a fase de recria e engorda, antes do abate.
“Hoje, o bom pecuarista destina cerca de 30% do seu custeio para a nutrição. Mas em alguns casos, essa proporção desce para 10% ou até 5%. Por isso, hoje, em média, o orçamento para nutrição é de aproximadamente 15% do total”.
Para melhorar esse índice, Cardoso Neto afirma que as empresas estão apostando em duas frentes. Uma delas é colocar mais técnicos no campo. “Hoje, as empresas estão com 15 mil pessoas fazendo esse trabalho de ir até as propriedades para mostrar os benefícios da nutrição animal adequada. Eles precisam acreditar mais na relevância disso”.
A outra vertente é a inovação. O executivo conta que a Connan investe entre R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão por ano em pesquisa e desenvolvimento, principalmente em produtos voltados para a fase de recria e engorda.
“Nós temos uma parceria com a Embrapa para testar novos produtos para gado de corte. As empresas da Asbram também possuem parcerias, especialmente com universidades”, diz o executivo.