Aproveitando um caixa confortável após guardar muito dinheiro no bolso com o bom ano de 2024 – e os lucros recordes da BRF - a Marfrig anunciou que vai emitir até R$ 1,8 bilhão em debêntures para a compra de bovinos de produtores rurais.
A captação será utilizada como base para a emissão de CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio), que serão vendidos a investidores. A Marfrig busca levantar, no mínimo, R$ 1,5 bilhão.
Na prática, as debêntures são compradas pela securitizadora EcoAgro, que, por sua vez, distribui os CRAs para agentes do mercado. No documento enviado à CVM, nesta terça-feira, 11 de março, a companhia informa que os papéis serão ofertados com a intermediação de grandes bancos que atuam como coordenadores da oferta, incluindo BTG Pactual, XP, BB-BI, Safra, Bradesco BBI e Santander.
Os retornos para os investidores que comprarem os CRAs ainda serão definidos no processo conhecido como bookbuilding, onde os investidores indicam sua demanda pelos papéis e informam as taxas de juros que aceitariam receber. O documento prevê que as debêntures contam com cinco séries com prazos que vão de 5 a 20 anos.
Parte das séries terá correção pela inflação (IPCA), enquanto outras deverão oferecer remuneração prefixada ou atrelada a outros indexadores como o CDI.
As taxas finais serão ajustadas de acordo com a demanda dos investidores, dentro de limites máximos a serem detalhados na oferta. As debêntures serão emitidas em 15 de março de 2025.
O momento não poderia ser mais propício para a emissão. Parte do mercado já precifica uma possível virada no ciclo da pecuária brasileira, com expectativa de redução na oferta de gado pronto para abate a partir de 2025.
Com uma retenção de fêmeas para reprodução, o volume de animais disponíveis tende a diminuir na visão de alguns analistas, pressionando preços da arroba para cima nos próximos meses.
Além da retração de matrizes, uma retomada nas compras por parte da China pode pressionar o preço da arroba do boi ao longo do ano, algo que já é visto nos contratos futuros.
Um artigo recente de Maurício Palma Nogueira publicado no AgFeed mostrou que números preliminares da Athenagro consideram uma redução de 2,5 milhões de cabeças no rebanho, o que possibilita projetar leve queda, entre 2% e 3%, até a estabilidade na produção para 2025,
Menos gado nas fazendas traz consequentemente menos matéria-prima às indústrias. A Marfrig, com recurso garantido via debêntures, viabiliza caixa para possivelmente antecipar a compra de bois, antevendo um mercado que ainda não absorveu totalmente a redução de oferta.