Pioneira no mercado de misturadores de ração para a pecuária, seja de leite ou de corte, a Casale, fabricante tradicional de máquinas, do interior paulista, quer diversificar.

Com foco em confinamentos e semi-confinamentos, a companhia sempre foi mais forte no mercado da pecuária de corte, que representa 70% do faturamento. Os outros 30% são vendas para o leiteiro.

Porém, segundo o atual CEO da empresa, Ronis Paixão, a Casale tem investido para ganhar mais share no mercado do leite.

Ele estima que hoje o Brasil possui 1,15 milhão de produtores de leite. “É um importante drive da economia, e queremos posicionar a Casale como uma ferramenta que os ajude a produzir melhor”, afirmou.

Para ganhar esse mercado, ele aposta no desenvolvimento de produtos “customizáveis”, que podem ser manufaturados de acordo com o tamanho do galpão, solo e manejo específico do gado na fazenda.

“Estamos investindo no leite muito em função do ‘tombo’ que a pecuária tomou. Nossa bandeira é reduzir riscos e diversificar, conquistando mais mercado no leite”, afirmou.

Em suas andanças pelo país, Paixão tem notado que a troca geracional nas fazendas tem trazido filhos com uma visão mais aberta para a tecnologia. “Tanto que não falamos mais em produtor rural, e sim em empresário rural”.

Em meio às tendências de conversão de pastagens em terras agrícolas, o número de confinamentos no Brasil pode avançar nos próximos anos, estima o CEO, que espera surfar nesse novo mercado.

Segundo ele, nos Estados Unidos, 80% do abate de bovinos é feito em confinamentos, enquanto no Brasil o percentual beira os 15%. “De 45 milhões de cabeças de gado só 7,5 milhões vem de confinamentos”, afirmou.

Ao mesmo tempo em que foca seus esforços no leite, ele acredita que o ciclo pecuário deve favorecer também o corte nos próximos meses.

“A pecuária está melhorando muito, diferente da agricultura. Temos insumos mais baratos, com o preço do milho estável, ao mesmo tempo que a arroba do boi sobe. Vejo uma tendência de permanecer num patamar de R$ 300 no médio prazo, por isso vejo muitos pecuaristas investindo”, afirmou.

Segundo dados da Esalq, o preço da arroba do boi gordo estava cotado a R$ 350 no início de 2022, passou por uma grande desvalorização nos anos seguintes e atingiu R$ 212 em setembro de 2023. Em recuperação nas últimas semanas, a arroba hoje está cotada em torno dos R$ 301.

Sem citar valores absolutos, Paixão estima que a empresa deve aumentar seu faturamento em 25% neste ano frente a 2023.

Dentre clientes de destaque, a empresa atende a Agrindus, no Leite, e a JBJ, confinamento de Júnior Batista, da família dona da JBS.

Hoje, a maior parte dos clientes do leite estão em estados do Sul e em Minas Gerais, com alguns produtores também no Nordeste e no estado de São Paulo. Na pecuária de corte, o mercado é mais pulverizado, com clientes em SP, Goiás e Mato Grosso.

Misturador de ração fabricado pela Casale, em meio ao gado confinado

CEO desde novembro do ano passado, Paixão é o primeiro comandante da empresa a não ter o sobrenome Casale.

Criada nos anos 1960 na intenção de ser uma oficina mecânica de caminhões e tratores, a empresa iniciou, nas décadas seguintes, a fabricação de roçadeiras de arrasto, carretas e finalmente a primeira misturadora de ração da América Latina, mercado que até hoje é o carro-chefe do negócio.

Celso Casale, ex-CEO que já foi presidente da Câmara de Máquinas Agrícolas da Abimaq, é chamado pelo atual diretor de “foguete e referência em inovação”. Com ele, segundo o executivo, a empresa avançou fortemente e se tornou líder do mercado de misturadores de ração para a pecuária.

“O Celso veio construindo o mercado, mostrando para o pecuarista a importância de colocar tecnologia no campo para se tornar mais produtivo, melhorando a qualidade da carne e do leite”.

Nos cálculos de Ronis Paixão, que leva em conta dados do estudo Confina Brasil, realizado anualmente pela Scot Consultoria, a Casale tem mais de 30% do mercado de confinamentos quando o assunto é misturadora.

O atual CEO entrou na Casale há quatro anos como diretor de operações, logo no início da pandemia e com um mercado aquecido. “Estávamos com uma carteira de pedidos super alta e precisando estruturar a fábrica”.

Desde então, ele estima que a empresa já investiu R$ 20 milhões em suas instalações produtivas, tanto na modernização de equipamentos, na automação e no implemento de um centro de distribuição. Ele diz que a empresa dobrou a capacidade instalada de produção dos equipamentos desde então.

“O principal foco dos nossos equipamentos é alimentar o gado. Temos produtos complementares como colhedoras de forragem e lançadoras de esterco, que era um subproduto e hoje é um coproduto. Processamos esse esterco que vira adubo organomineral”, afirmou.

Nesta jornada de investimentos no processo fabril, Paixão explica que a empresa passou por um “choque de cultura” nos processos, a fim de dar mais padronização e garantir uma qualidade e produtividade mais lineares.

A criação do centro de distribuição foi importante para diminuir o tempo de reposição de peças para clientes. Hoje, ele estima que em até 48 horas a empresa é capaz de atender 80% dos pedidos do chamado pós-venda. “O CD foi uma forma de ter estoque e despachar rápido as peças. Quando uma máquina quebra, o gado fica sem comer. Não dá para deixar a peteca cair”, disse.

Para conquistar esses mercados do leite e consolidar mais ainda a presença no corte, a Casale prepara uma série de lançamentos de novos produtos para os próximos meses.

Dentre eles, Paixão disse que a companhia deve lançar no ano que vem a maior misturadora de rotor do mundo. Hoje, ele estima que a maior do mercado é uma norte-americana que possui 34 metros cúbicos úteis, e que a da Casale será ainda maior.

Dentre os misturadores, o principal diferencial da companhia, segundo o CEO, é a tecnologia que permite que a mistura da ração fique mais homogênea. Em alguns testes com produtores de leite, ele afirma que a tecnologia aumentou em até 15% a produção.

“Com o produto bem homogêneo, o gado faz a ingestão completa dos ingredientes e cumpre a dieta”, diz.