No balanço de 2024, a SLC Agrícola — maior operadora de terras do País — fechou o ano no azul, com lucro líquido de R$ 482 milhões. O resultado, porém, ficou 48,6% abaixo do registrado em 2023.

Três fatores principais explicam essa queda: menor produtividade das lavouras devido ao clima, redução no preço e volume de vendas dos grãos, e aumento dos custos de produção.

Nas linhas financeiras, a empresa teve uma receita líquida de R$ 6,92 bilhões no ano passado, uma baixa de 4,4% frente aos R$ 7,23 bilhões de 2023. Olhando o faturamento na vírgula, dos três principais produtos que a SLC produz e vende (soja, milho e algodão),  dois vieram abaixo em relação a 2023.

Em entrevista ao AgFeed, o CEO da SLC Agrícola, Aurélio Pavinato, cita que a diferença nos resultados de 2024 para 2023 se deu praticamente apenas pela menor produtividade. “Quando olhamos para preços dos grãos e custos eles se compensaram”, avaliou.

A companhia vendeu R$ 2,09 bilhões de grãos de soja, 31,5% menor que em 2023, considerando o grão comercial e a semente, e R$ 523 milhões de milho de segunda safra, queda de 38,1% em um ano. No algodão em pluma, uma alta e um recorde para a companhia, R$ 3,5 bilhões em receita, avanço de 63% em um ano.

A soja e o milho tiveram também retração no volume comercializado. Foram 1,01 milhão de toneladas da oleaginosa (baixa de 22,6%) e 658 mil toneladas no cereal (queda de 38,5%). No algodão, foram faturadas 364 mil toneladas, alta de 52%. Outras culturas como feijão e plantas de cobertura somaram 99 mil toneladas.

As vendas mais baixas foram causadas por uma menor colheita, que por sua vez, foi decorrente de uma queda na produtividade por conta de condições climáticas adversas. No balanço, a empresa cita a seca do El Niño no oeste do Mato Grosso, onde a companhia tem forte atuação.

Por cultura, a produtividade da soja foi de 3,2 toneladas por hectare, 17,5% menor do que em 2023. No milho, a produção foi 6,5% menor, para 7 toneladas por hectare. No algodão, que ajudou a compensar a perda com os grãos, a produtividade ficou estável em 1,9 toneladas por hectare.

“Esse foi o ano do algodão, tanto em termos de volume e receita. Entregamos em 2024 uma parte da colheita de 2023 que sempre fica para o ano seguinte. Isso trouxe um resultado equivalente a uma safra cheia e, com isso, o volume ‘carregado’ para 2025 nos traz uma expectativa grande para a pluma”, disse o CEO.

“Esse é o novo normal para o algodão da SLC”, acrescentou.

Para além da queda na receita ter atrapalhado o bottom line da SLC, a companhia teve um aumento de 8% no custo dos produtos vendidos (CPV), que atingiu R$ 4,7 bilhões. As despesas operacionais cresceram 27,3%, para R$ 794,6 milhões.

A empresa encerrou o ano com uma dívida líquida ajustada de R$ 3,7 bilhões, um aumento de R$ 800 milhões em relação a 2023. Apesar disso, manteve sua alavancagem estável em 1,8 vez.

A dívida líquida no período foi impactada principalmente pela redução da produtividade da soja na safra 2023/24 e pelo aumento de 10,6% na área plantada para a safra 2024/2025.

A empresa fechou a safra 2023/2024, terminada em junho passado, com uma área plantada de 661,3 mil hectares. Na temporada atual, 2024/2025, a expectativa é encerrar com 731 mil hectares plantados, alta de 10,6%.

No negócio de sementes, a SLC lucrou R$ 54 milhões em 2024, alta de quase 30% em um ano, com uma margem de 7,3%. A empresa destacou que houve uma evolução da sua carteira de clientes, com alta de 39% nas vendas para terceiros (pequenos, médios produtores e revendas).

O volume total faturado em 2024 (em sacas de 200 mil sementes) subiu 17% em um ano. Foram 1,2 milhão de sacas de sementes de soja, considerando vendas e consumo interno.

Para 2025, a estimativa é vender 1,4 milhão de sacas de sementes de soja e 145 mil sacas de sementes de algodão, leve aumento de 1,2% frente a 2024.

Seguindo a sazonalidade natural de menos comercialização nos últimos meses do ano, a SLC teve prejuízo líquido de R$ 51 milhões no quarto trimestre. O número veio abaixo dos R$ 153 milhões reportados no mesmo intervalo em 2023.

Um 2025 de crescimento, de olho na soja

Ao AgFeed, Pavinato se mostra otimista com os números da safra 2024/25. O fator clima, que prejudicou a produtividade e consequentemente o faturamento, não se fez presente, e a colheita da soja deve ser recorde na empresa.

A produtividade para a temporada atual na oleaginosa é de 4,04 toneladas por hectare, uma alta de 23,9% frente ao realizado na temporada 2023/24. Para o milho e o algodão, a colheita deve vir, segundo Pavinato, em linha com o visto na temporada passada.

“Reajustamos nossa expectativa para essas culturas. Mesmo com o atraso no plantio em outubro, a colheita não iria atrasar, mas vieram muitas chuvas que prolongaram o ciclo da soja”, explicou.

“Tendo uma safra cheia de soja como está acontecendo e uma colheita ‘normal’ de algodão e de milho, temos um cenário promissor para a temporada”, afirmou o CEO.

Somado a uma boa colheita da soja, a empresa sinalizou que o orçamento indica uma queda de 5,2% no custo por hectare considerando a temporada 2024/2025.

A SLC Agrícola também já concluiu a compra dos principais insumos - fertilizantes, defensivos e sementes - para a temporada. E destacou no balanço uma redução nos preços de fertilizantes e defensivos, “insumos que têm forte correlação com a queda das commodities no mercado global”.

Para a safra que se inicia em julho, a temporada 2025/2026, a SLC já adquiriu 77% dos fosfatados, 82% do cloreto de potássio e 57% dos produtos nitrogenados.

A companhia ainda chega para 2025/2026 com mais áreas. “Seguimos com o plano de expansão adquirindo a SLC Landco ano passado e, mais recentemente, a Sierentz Agro Brasil. Já adiantamos as compras de grande parte dos insumos para a safra 2025/2026, e as expectativas de vendas de sementes para 2025 superam os números do ano passado”, afirmou Pavinato.

A compra da Sierentz, que passa a valer na safra 2025/2026, amplia a exposição da empresa em áreas arrendadas. A companhia passará a ter 66,5% da área física de gestão própria. A transação foi fechada por US$ 135 milhões.

Pavinato acredita que, dos quase 100 mil novos hectares do portfólio, 25 mil hectares serão destinados ao algodão, e o restante para soja e milho. “Os dois últimos possuem demandas mais consistentes”.

A SLC avalia colocar algodoeiras nas fazendas da Sierentz localizadas no Maranhão, onde Pavinato cita um “potencial para um algodão cheio”.

As terras paraenses, o grosso da operação da Sierentz, ficarão, por enquanto, com soja e milho. “Nosso projeto é crescer nas três culturas em linha com o share que temos atualmente”, finalizou.