Rio Verde (GO)* - A propriedade fica no coração da área mais produtiva do estado de Goiás, no município de Rio Verde, e o ano é 2025. Mas os olhos de quem comanda a produção nos cerca de 20 mil hectares da Fazendas Reunidas Baumgart, estão em décadas mais à frente.
Ou então, nas lavouras de Alex Harrell, produtor do estado americano da Georgia, que alcançou, no ano passado, a produtividade recorde de 244 sacas de soja por hectare em um de seus talhões.
“As tecnologias de sementes e genética já estão em 2050”, acredita Fernando Pereira, consultor agronômico da Baumgart. “Resta agora às outras partes da cadeia chegarem lá também”.
“Se eu semear soja agora eu tenho o potencial de atingir o que ele conseguiu. Mas a interferência do ambiente é grande e qualquer processo conta”, afirma Pereira.
A obsessão de desafiar os limites da produtividade é uma das características de Alexandre Baumgart, CEO da empresa que controla as fazendas.
Antes de tocar o dia a dia da fazenda, Baumgart foi diretor da Vedacit, uma das empresas do Grupo Baumgart, que ainda conta com o Shopping Center Norte, em São Paulo e o Lar Center, também na capital paulista.
Há quatro anos ele deixou a rotina paulistana e foi para o interior de Goiás para assumir os negócios rurais de forma definitiva e exclusiva.
As terras já são da família desde os anos 1970. Nos primeiros anos, a área foi utilizada somente para a pecuária. “Há 15 anos comecei a tornar a fazenda mais profissional, mas só abracei o agro há quatro anos quando saí da indústria. Hoje sou CEO, o que antigamente era chamado de ‘gerentão”, conta Baumgart.
E, desde então, decidiu transformar a propriedade em um laboratório de experiências com tecnologias, que fazem dela uma amostra do que seria uma fazenda do futuro. E uma vitrine para empresas testarem e divulgarem seus produtos, como fez a Basf na semana passada ao lançar o Escudo Verde, sua nova estratégia comercial para fungicidas.
A reportagem do AgFeed visitou a Reunidas e teve a oportunidade de ver, na prática, como a transformação proposta por ele tem se transformado em resultados – ainda distantes dos do americano Harrell, mas já se destacando na região e nacionalmente.
Metade da propriedade é destinada a florestas preservadas e produção de pecuária e a outra metade, correspondente a 9,1 mil hectares, é dedicada ao cultivo da soja na primeira safra.
A média da produtividade de soja para a safra 2024/2025 está prevista para ser superior a 80 sacas por hectare, bem acima da média nacional, que fica na casa das 60 sacas por hectare.
Mas Baumgart e seu time têm um talhão específico de muito apreço entre as quase 30 diferentes divisões da propriedade. Ela atingiu, no ano passado, uma produtividade de 119 sacas por hectare.
O talhão foi premiado pelo CESB (Comitê Estratégico Soja Brasil), como o campeão em produtividade do Centro-Oeste. O gerente da fazenda, Ênio Jablonski, aponta que a área, que até cinco safras atrás, era dedicada à pecuária extensiva. Hoje, tem um solo mais fértil e conta com aplicações de produtos de última geração.
Além do uso de biológicos e de químicos modernos, a Reunidas ainda faz um trabalho de análise de solo. “Além de se conhecer o que está por cima, é preciso saber o que está numa profundidade de até 80 centímetros. Assim temos uma noção das doenças e organismos que diminuem ou aumentam a produtividade”, diz Jablonski.
Segundo Pereira, a Reunidas está de olho numa pequena revolução que acontecerá nos próximos dois anos. Ele estima que nesse intervalo, novas biotecnologias de soja, como Conkesta Enlist e Intacta E2X estarão no mercado. Hoje, a companhia atua com Intacta e IPRO.
A receita do “gerentão”
Em entrevista ao AgFeed, Alexandre Baumgart se mostrou um entusiasta de tecnologias no campo e citou o que tem olhado com mais atenção para a modernização do campo.
Um dos tópicos que tem chamado sua atenção é a evolução da agricultura de precisão. “Há muito a se desenvolver na área de equipamentos. Falamos de máquinas e tecnologias que reduzam o uso de insumos e melhorem a aplicabilidade de sementes e adubos, tornando o plantio mais eficiente”, diz.
Dentro da porteira, Baumgart se diz um “fã de biológicos”. Nas fazendas, os produtos naturais já são utilizados em grande parte dos processos produtivos, com exceção da aplicação de produtos via aviões agrícolas.
No plantio, por exemplo, todo processo envolvendo o sulco utiliza biológicos. Durante o cultivo, a companhia ainda aplica inoculantes e enraizadores biológicos.
Além de adquirir produtos no mercado, o grupo ainda utiliza os dejetos da pecuária, obtidos na própria Reunidas, como adubos orgânicos.
“Sabendo usar o biológico e o químico em conjunto, conseguimos aumentar a eficiência da planta, estudando o que ‘deixa a planta mais feliz’”, diz. Fora da porteira, ele acredita que a trilha tecnológica ainda passa por melhorias na armazenagem e transporte.
Ele acredita que é necessário “colocar tudo na hora, velocidade e local certo”, a fim de aumentar a produtividade. “Aqui no Centro-Oeste, um agricultor que não consegue plantar 500 hectares em um dia com equipamento já era. A janela é muito curta”, opina.
Alexandre Baumgart não vê uma “tecnologia matadora”, mas sim um conjunto de equipamentos modernos, gestão e monitoramento ajudando na melhoria da produção.
O consultor Pereira resume: “Entendemos que a agricultura de precisão e essas novas tecnologias atingirão seu potencial máximo quando nós, por exemplo, colhermos 6 mil toneladas e vendermos as mesmas toneladas na hora da venda”.
Nos últimos anos, a companhia iniciou a implementação de sistemas de "gêmeos digitais", tecnologia que cria réplicas virtuais das operações agrícolas da fazenda, incluindo as condições de campo em tempo real.
A ferramenta permite a integração de dados de sensores e máquinas, dando insights detalhados para otimizar a tomada de decisões e previsão de problemas.
Além disso, a empresa firmou uma parceria com a Solinftec no ano passado, implementando em uma unidade de 2 mil hectares o uso dos robôs Solix, que operam de forma autônoma para monitorar lavouras e realizar manejos como o controle de ervas daninhas e pragas.
A ideia da empresa é colocar 20 robôs Solix na fazenda. Os primeiros resultados mostram um acréscimo de 10 sacas por hectare nas áreas que o maquinário foi utilizado.
Uma safra melhor
Na temporada 2023/2024, a produtividade foi de 78 sacas, na média. “Estamos com uma expectativa boa de produzir mais frente uma safra que não foi ruim. Mesmo com chuvas escassas e irregulares, adaptamos o manejo”, diz Jablonski.
Ele conta que, na temporada atual, houve um pequeno susto no início da janela de plantio, pois as chuvas demoraram a chegar. “Começamos o plantio no dia 10 de outubro, um atraso de mais de uma semana frente ao que estamos acostumados. Refizemos o planejamento e deu para plantar numa janela adequada, expandindo o horário de trabalho em alguns dias”.
Depois do susto, a chuva se estabilizou, chegando até a ficar mais intenso durante a virada do ano. O gerente afirma que esse excesso de pluviosidade acabou atrapalhando algumas aplicações de fungicidas e inseticidas, mas que a companhia conseguiu contornar a situação.
Com isso, ele não vê preocupação com a safrinha. Hoje, a companhia cultiva 100% da área na primeira safra com a soja, e na segunda, divide as terras entre milho, braquiária e girassol.
“Estamos num momento bom para plantar milho. Se a chuva colaborar na safrinha, se estendendo até março e meados de abril, a expectativa é de uma boa colheita também na segunda safra”, afirmou Jablonski.
Uma boa safra traz bons resultados, e consequentemente, melhora o humor para novos investimentos.
* O jornalista viajou a convite da Basf