Um fato relevante publicado na manhã desta sexta-feira, 5 de julho, voltou a movimentar o noticiário em torno da Hidrovias do Brasil, uma das principais operadoras logísticas do País.
No documento, a companhia informou que a gestora Alaska Investimentos, por meio do seu fundo Alaska Poland Fundo de Investimento de Ações, atingiu uma posição de 10,1% do número total de ações ordinárias da companhia, dobrando a sua participação na empresa.
O reforço de posição é um novo lance no xadrez do quadro acionário da companhia, que tem tido várias peças movidas nos últimos meses.
A Hidrovias foi criada há quase 15 anos pelo Pátria Investimentos, quando a gestora comprou alguns ativos do setor e encarteirou a empresa no seu segundo fundo. Depois de alguns anos, comprou mais participação na empresa e a alocou em seu fundo IV.
Agora, o período de desinvestimento, ou seja, de vender ativos para remunerar acionistas do segundo fundo chegou. Após uma negociação que aumentou o prazo, o Patria optou por vender parte de suas ações para a Ultrapar.
Segundo apontou o NeoFeed em outubro do ano passado, a Ultrapar vinha montando uma posição secreta na Hidrovias por conta de seu interesse de ficar mais exposto ao agronegócio brasileiro.
No início de 2024, a dona da Ultragaz e da Ipiranga já tinha uma chegado a cerca de 10% no negócio. Então, fez um acordo para comprar 14% do Pátria e outros 3% do Temasek, fundo soberano de Singapura.
Com isso, chegou aos 27% de participação no negócio. A Ultrapar pagou cerca de R$ 500 milhões pelos 17% extras, a um preço de R$ 3,98 por ação. O valor trouxe um prêmio de 12% sobre o valor dos papeis um dia antes da proposta.
A entrada da Ultrapar no negócio agradou o mercado. No dia em que a empresa anunciou que montou sua participação de 27% no negócio, as ações da companhia de logística negociadas na B3 chegaram a subir mais de 10% em um só dia.]
Dois meses depois, em maio, atingiu 35% do capital da Hidrovias. A compra de mais porcentagem foi possível após os acionistas da empresa excluírem a chamada poison pill, mecanismo que impedia qualquer acionista de ultrapassar uma participação alta na empresa sem fazer uma oferta pública para todos os demais sócios da companhia.
Em assembleia, acionistas da Hidrovias aprovaram que a Ultrapar pudesse chegar a 40% da empresa sem precisar fazer a oferta. Antes deste novo acordo, qualquer acionista que ultrapassasse os 20% deveria fazer a proposta aos demais acionistas.
Além de reforçar sua posição na empresa, a Ultrapar trocou o CFO da companhia e substituiu Ricardo Fernandes Pereira por André Hachem no posto.
Hachem ocupava o cargo de diretor de planejamento, relações com investidores e sustentabilidade na própria Ultrapar.
Até a nova aquisição da Alaska, o quadro de acionistas publicado no site da Hidrovias indicava, além dos 35,9% da Ultrapar, a Tarpon como dona de 13,2% do negócio, o Patria com 10,3% da companhia em seu fundo IV e a Sharp Capital com outros 5,6%. Cerca de 29% estavam diluídos no mercado e em acionistas com posições menores.
Desafios operacionais
Na Hidrovias, são duas vertentes de negócio mais relevantes: a operação do Corredor Norte, que escoa grãos e fertilizantes do norte do Mato Grosso, e o Corredor Sul, que transporta sobretudo minério de ferro.
Enquanto o xadrez era jogado no campo acionário, na área operacional a Hidrovias do, a empresa viveu uma tempestade perfeita em seus negócios por conta do El Niño.
No Corredor Norte, a quebra de safra no Mato Grosso impactou o transporte de produtos. No corredor Sul, a seca afetou a navegação.
Ainda assim, a empresa entregou um ano de 2023 recorde e acima das projeções feitas antes do ano e dos desafios da safra.
A receita líquida ficou em R$ 1,9 bilhão, 7% acima que em 2022, mas, segundo Fabio Schettino, CEO da empresa, ainda "abaixo da capacidade plena em função das externalidades não controláveis".
Melhor que isso, o Ebitda ajustado subiu 3,1% para R$ 780,3 milhões, com margem de 40,5%.
Em 2023, a Hidrovias transportou um volume recorde de 18,1 milhões de toneladas de cargas.
Para este ano, entretanto, as preocupações no Norte devem voltar. As principais hidrovias da região, como a do Rio Madeira, já apresentam níveis mais baixo no calado e há preocupação que um novo período de estiagem volte a prejudicar a navegação.