Uma nota de sete linhas para encerrar uma jornada de 17 anos. Assim, de forma discreta e sucinta, a Cosan, um dos maiores conglomerados empresariais do País, se despediu de um de seus executivos mais importantes: Ricardo Mussa.
Em comunicado protocolado na CVM após o fechamento do mercado na sexta-feira, 29 de novembro, o grupo informou ter aceitado o pedido de renúncia de Mussa de sua posição no Conselho de Administração da companhia, na qual ingressou em 2007 e onde ocupou diversas posições de destaque.
“A companhia agradece ao Ricardo Mussa pela dedicação e contribuição que prestou nos 17 anos que atuou como executivo das empresas do Grupo Cosan”, diz o documento, assinado por Rodrigo Araujo Alves, diretor vice-presidente Financeiro e de Relações com Investidores.
Embora não confirmasse, o texto indicava que Mussa deixa também o cargo de presidente da Cosan Investimentos, braço responsável pela alocação de capital do grupo, para o qual havia sido deslocado há cerca de um mês, depois de servir por quatro anos e oito meses como CEO da Raízen, gigante da bioenergia que a Cosan controla em parceria com a Shell.
Consultada pelo AgFeed, a assessoria da empresa confirmou, na segunda-feira, 2 de dezembro, o desligamento também da empresa. Não havia, até então, a indicação de um substituto.
Mussa ingressou no grupo como CEO da Radar Propriedades Agrícolas, empresa dedicada a negócios com terras dentro do conglomerado de Rubens Ometto. Foram mais de seis meses no posto, até ser guindado para a presidência da Cosan Lubrificantes.
A escalada seguiu e, três anos depois, em abril de 2020, o executivo foi convidado a comandar um dos mais ambiciosos projetos da Cosan: a consolidação da Raízen como um grande player global de bioenergia.
Coube a Mussa coordenar a abertura de capital da companhia, maior grupo sucroenergético do País.
A partir de então, a Raízen passou a mirar em demandas futuras de mercados em expansão, como os de biometano e de etanol de segunda geração (E2G).
Sob o comando de Mussa, a companhia colocou em execução um ousado plano de transformar 20 de suas plantas produtoras de açúcar e etanol para a produção de E2G até 2030.
A um custo entre R$ 1,2 bilhão e R$ 1,3 bilhão cada, o projeto deve consumir investimentos de R$ 25 bilhões. Duas das plantas já estão em operação no interior de São Paulo.
Para financiar o projeto, a Raízen utilizou um modelo em que antecipa recebíveis de contratos para o fornecimento futuro de E2G a importadores europeus. A empresa garante já ter mais de R$ 24 bilhões e,de vendas contratadas.
A saída de Mussa da Cosan se dá em meio a uma grande reformulação na gestão do conglomerado, realizada por Ometto no final de outubro, que alterou posições dos principais executivos do grupo.
Marcelo Martins, então vice-presidente de finanças, passou a ocupar a cadeira de CEO da Cosan, substituindo Nelson Gomes, que foi deslocado para a posição de Mussa na Raízen.
A Mussa, por sua vez, Ometto ofereceu o assento no conselho e e a presidência da empresa de investimentos do grupo.
A mudança no comando da Raízen foi atribuída ao perfil mais operacional de Gomes, que, na visão de Ometto, seria mais adequado para o atual momento da empresa.
Além disso, a expertise financeira de Marcelo Martins seria considerada mais adequada à Cosan. A dívida líquida do grupo bateu os R$ 21,3 bilhões no primeiro trimestre de 2024.
A ida de Martins para o posto máximo indicaria que a empresa está atenta em reduzir essa alavancagem, que hoje está em 2,7 vezes o Ebitda.