Um navio carregando a primeira remessa de etanol de segunda geração (E2G) produzido na planta Bonfim, da Raízen, está a caminho da Europa. O embarque foi realizado nos últimos dias, dando início a mais uma fase do cronograma de entregas da companhia para o biocombustível.
O anúncio foi feito pelo vice-presidente executivo da Raízen, Paulo Côrte-Real Neves, depois de uma apresentação em conferência internacional sobre biocombustíveis, promovida pela Argus Media, nesta quarta-feira, 19 de junho, em São Paulo.
“Está tudo acontecendo exatamente do jeito que a gente planejou”, comemorou o executivo, em conversa com o AgFeed. “Com o navio a caminho da Europa, o produto se torna realidade para os clientes”.
A planta Bonfim, localizada em Guariba, interior de São Paulo, é a segunda de uma série de 20 que a empresa promete colocar em operação até 2030. A unidade foi inaugurada em abril, acrescentando 82 milhões de litros à capacidade atual de produção de E2G da companhia, que agora chega a 112 milhões de litros.
A primeira usina, do Parque de Bionergia Costa Pinto, já está produzindo e exportando 30 milhões de litros de etanol por ano para os europeus, desde 2016.
O executivo da Raízen disse que novo embarque já está previsto para julho e que a expectativa é inaugurar duas novas plantas, em Araçatuba e Jaú, no ano que vem.
Segundo ele, todas as novas plantas já nascem com 80% da produção comercializada, com prazos de 5 a 10 anos em média.
A remessa que está a caminho da Europa tem como destino dois clientes, que não foram revelados, nem o volume para cada um.
Ao todo a empresa já conta com 20 clientes compradores de E2G. São empresas de energia que usam o etanol para substituir combustíveis fósseis. A maior parte neste momento usa o etanol em carros leves, de passeio, para substituir gasolina.
“Outros segmentos destas indústrias também vão se beneficiar do etanol celulósico. Depois de substituir a gasolina, ele poderá ser usado no transporte marítimo, na aviação, e também na indústria química”, afirmou.
Paulo Côrte-Real Neves disse que o etanol E2G exportado agora teve um “super prêmio bom”. Não revelou valores, mas disse que são “números muito relevantes, que representam um super reconhecimento dos atributos do produto na Europa”.
O cálculo do valor diferenciado leva em conta a redução nas emissões. “A lógica de precificação (melhor) considera o fato por ser produzido a partir de resíduos, não concorre com alimento”, lembrou.
O etanol E2G oferece 30% a mais de redução de emissões em relação ao tradicional, produzido a partir da cana, segundo a Raízen. “O próprio de cana já tem redução em relação a gasolina e para cada ponto adicional de redução, o mercado paga um valor adicional. No final os mandatos no mundo são de redução de emissões”, explicou.
O executivo lembra que no Brasil 45% dos veículos podem ser abastecidos com etanol, mas que no mundo essa fatia é inferior a 5%, o que representa grande potencial de expansão, considerando que a indústria de energia e fósseis, globalmente, “é gigante”.
“Cada 1% do combustível marítimo são quase 15 milhões de litros por ano. No SAF a gente imagina que 2% (de substituição) vai gerar a demanda de 10 milhões de litros”, acrescentou.
Sobre a cautela por parte dos investidores, quem nem sempre precificam nas ações da Raízen esse potencial de expansão nas receitas a partir do etanol E2G, o VP da Raízen, afirmou:
“O ciclo é longo, é uma nova tecnologia, um esforço enorme de anos de preparação, então estamos num momento especial que é começar a materializar todo o desenvolvimento tecnológico, toda a parceria, está se transformando em realidade. O que estamos fazendo agora é performando os compromissos”.
Ele disse que sabe que muitas vezes é difícil assimilar que o etanol celulósico, desenvolvido no Brasil, produzido por uma empresa brasileira, possa ter essa adoção internacional em escala.
“Eu entendo o investidor ter dúvida, mas estamos entregando agora para tirar a dúvida”.
Na visão de Côrte-Real, enquanto alguns falam em “soluções mirabolantes para 2050, as soluções da Raízen são reais, já existem, hoje, em 2024”. “Queremos promover essa alternativa, real, competitiva, que está pronta para ser utilizada”.