Como outras cooperativas do Paraná, a Capal Cooperativa Agroindustrial, de Arapoti, não ficou imune às dificuldades enfrentadas no começo de 2024 nas culturas de soja e milho, que levaram à queda no recebimento de grãos.
Mas a partir do segundo semestre, alavancada pelos volumes de comercialização do café, o quadro mudou. Tanto que o ano de 2024 terminou bem para a cooperativa, na avaliação de seu presidente-executivo, Adilson Roberto Fuga.
“O ano acabou sendo muito positivo para a cooperativa, tanto em faturamento quanto em resultado, mesmo com as dificuldades”, afirma Fuga.
Assim, a Capal fechou 2024 com um faturamento de R$ 4,4 bilhões, 11% mais alto na comparação com 2023, quando havia faturado R$ 3,93 bilhões.
A Cooperativa conseguiu esse resultado tendo recebido 35% menos grãos no período. A expectativa era receber um volume próximo de 1 milhão de toneladas, mas o total não passou de 650 mil.
O que puxou o crescimento dos resultados, segundo Fuga, foi o desempenho de vendas de café, cujo faturamento ultrapassou R$ 1 bilhão.
A produção é feita por cooperados em municípios como Carlópolis (o maior produtor do grão no Paraná) e Fartura, no Sul de São Paulo.
A cooperativa dobrou o volume de sacas comercializadas no período, passando de 580 mil em 2023 para 1,1 milhão em 2024, montante muito superior às 35 mil sacas comercializadas em 2019.
Essa expansão não aconteceu por acaso, segundo o presidente-executivo da Capal. "É fruto de uma estratégia que já vínhamos aplicando nos últimos anos", afirma.
A cooperativa vem crescendo no café desde 2019, quando comprou duas empresas da cidade de Pinhalão (PR), a São Carlos e a Benetti Coffee, assumindo estruturas com capacidade de produção de 150 mil sacas por ano em valores da época.
No fim de 2023, a Capal adquiriu três empresas de armazenagem em Piraju (SP), com capacidade de estocagem de 55 mil sacas de café. A maior parte das vendas no mercado interno é feita em São Paulo.
Com o fortalecimento de sua operação no café, a Capal resolveu investir também na exportação.
Somente no ano passado, a cooperativa enviou 250 mil sacas diretamente para países de diferentes continentes como Estados Unidos, França, Alemanha e Singapura.
Assim como outras culturas, entretanto, o café não ficou imune às oscilações climáticas de safra. A Capal projeta uma comercialização de 750 mil sacas de café para 2025, volume 30% inferior a 2024.
“A expectativa é menor em função da quebra de safra que possivelmente teremos. O período pós-florada veio de encontro com temperaturas altas, e isso diminui a conversão de flor para fruto”, afirma Fuga. “Teremos uma boa safra, mas menor.”
Enquanto a comercialização do café deve recuar neste ano, a Capal espera que o recebimento de soja e de milho cresça em 2025.
No ano passado, com a quebra de safra, o volume de recebimento da oleaginosa recuou para 346 mil toneladas, após 483 mil toneladas em 2023. Já o de milho passou de 171 mil toneladas em 2023 para 187 mil toneladas para 2024.
A cooperativa projeta receber 450,9 mil toneladas de soja em 2025 e 202 mil toneladas em milho.
Com isso, a expectativa da Capal é de que o faturamento seja de R$ 5 bilhões este ano. A atual safra está contribuindo, após dois ciclos consecutivos problemáticos.
“Tivemos quebras no ano retrasado e no ano passado. Neste ano, a coisa está indo bem. A condição climática ajudou bastante na nossa região”, afirma Fuga.
“Vamos ter neste ano uma safra cheia. Estamos na iminência de receber uma ‘big’ de uma safra porque, até agora, a condução das lavouras foi muito boa.”
A diversificação é uma característica marcante da Capal e ajuda a cooperativa a não ficar dependente de uma cultura só. “Todos os setores são importantes para a cooperativa”, diz Fuga.
A Capal começou produzindo leite, a partir da união de 21 produtores rurais holandeses que haviam imigrado para Arapoti e fundaram a Capal, em 1960.
Depois se embrenhou em outras atividades, como a suínocultura, em que ainda tem força, gado de corte, e grãos como soja, milho e trigo.
Hoje, a cooperativa tem 3,7 mil associados, 21 unidades em cidades do Paraná e de São Paulo, duas fábricas de ração animal, duas unidades de beneficiamento de sementes, dez lojas agropecuárias, um posto de gasolina.
Além disso, opera, em conjunto com as cooperativas Castrolanda, Bom Jesus, Coopagrícola, Frísia e Agrária, a Maltaria Campos Gerais, localizada em Ponta Grossa.
Inaugurada em junho do ano passado, após investimento de R$ 1,6 bilhão, a planta tem capacidade produtiva de 280 mil toneladas de malte por ano, montante equivalente a cerca de 15% da demanda nacional.
“Hoje, a cevada é uma cultura também importante na cooperativa”, diz Fuga. Em cinco anos, a Capal passou de 6,6 mil toneladas recebidas para quase 50 mil no ano passado. A ideia é chegar a 67,7 mil toneladas em 2025. “Estamos crescendo bastante nessa cultura.”
A Capal mantém também uma outra indústria intercooperativa, a Unium, em parceria com as cooperativas Frísia e Castrolanda.
Segunda maior produtora de leite do País, a Uniun registrou recebimento de 1,48 bilhão de litros em 2023, segundo os dados mais recentes divulgados pela Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite).
A cooperativa também possui um moinho de trigo e faz o processamento de 145 mil toneladas do grão por ano.
Investimentos
A cooperativa costuma fazer planos de investimento considerando um período de dois anos.
Entre 2023 e 2024, foram aportados R$ 122 milhões na melhoria das estruturas das unidades da Capal, especialmente para qualificar o recebimento da cevada.
Foi feita a construção de novo secador para cevada em Arapoti e a adaptação de um equipamento do tipo em Wenceslau Braz (PR), além da melhoria das estruturas das unidades de São Paulo.
Também houve aporte em expansão da capacidade de armazenagem em Taquarivaí (SP) e Wenceslau Braz (PR) e a construção de silos em Curiúva (PR), além de outros investimentos.
Para o ciclo que vai entre 2025 e 2026, a expectativa é de investir R$ 200 milhões ao longo dos dois anos, seguindo na ideia de ampliação de suas estruturas, com destaque para a expansão de unidades de estocagem de sementes em Arapoti e Taquarituba (SP).
Também há a possibilidade de construção de uma nova unidade da cooperativa na cidade de Avaré (SP), além da continuidade dos trabalhos da nova loja da Capal em Arapoti, a de maior faturamento para a cooperativa.
Um projeto que não está previsto para o ciclo de dois anos, mas que está no radar da Capal para o futuro, é a construção de uma indústria esmagadora de soja, seguindo o exemplo de outras cooperativas de maior porte que caminharam para a industrialização da oleaginosa.
Outro empreendimento que a Capal estuda em fazer é ampliar o moinho de trigo operado em parceria com as cooperativas Frísia e Castrolanda ou até mesmo erguer uma nova estrutura, também em conjunto com as demais, que seria instalada no estado de São Paulo.
“Se a gente fizer lá em São Paulo, a cooperativa líder, que operaria o moinho, seria a Capal”, afirma.
Para financiar seus projetos, a cooperativa utiliza recursos próprios e também recorre às instituições financeiras convencionais. “Trabalhamos bastante com BRDE, BNDES, Banco do Brasil, Itaú, Bradesco, todos os bancos”, afirma Fuga.
No fim de 2023, a Capal fez sua estreia no mercado de capitais do agronegócio, ao emitir um Certificado de Recebíveis do Agronegóico (CRA) no valor de R$ 150 milhões, em operação coordenada pelo Banco Alfa, com participação da gestora JGP.
A operação foi do tipo “CRA verde”, em que os recursos são direcionados para iniciativas sustentáveis.
De acordo com seu presidente, a Capal não precisava de recursos via CRA naquele momento. A ideia de fazer a emissão veio com o objetivo de tornar a cooperativa mais conhecida no mercado de capitais e viabilizar formas alternativas de financiamento, segundo Fuga.
“A gente quis conhecer o mercado. Assim, a cooperativa já estaria preparada para buscar outras formas de financiamento para fazer os seus negócios se houvesse uma redução de recursos de crédito rural e ofertas dos bancos”, diz o presidente-executivo da Capal.
Apesar de a operação ter sido bem sucedida, a cooperativa não quer fazer, por enquanto, uma nova emissão de CRAs pelo custo elevado desse tipo de transação. “A não ser que as condições melhorem bastante”, afirma Fuga.
“Nós já tivemos convite de algumas instituições para fazer uma emissão de CRA e dissemos não. Mas quem sabe, mais para frente, a gente possa até fazer.”