Referência entre as empresas de produção agrícola no mercado de ações, a SLC Agrícola confirmou, em seu balanço, o retrato do segmento no País neste momento.

O resultado anunciado na noite desta quarta-feira 6 de março, após o fechamento dos pregões, pela companhia apresenta aspectos ainda positivos, sobretudo visto em perspectiva com o cenário enfrentado nas lavouras em 2023.

Com El Niño e baixa nas cotações das commodities impactando produtividade e rentabilidade para os produtores, a empresa divulgou um desempenho financeiro com os principais indicadores abaixo do ano anterior. Ainda assim, o CEO, Aurélio Pavinato, disse ter sido “um ano bom para a empresa”.

Em números, 2023 fechou com receita líquida de R$ 7,2 bilhões (queda de 1,9% em relação a 2022), lucro líquido de R$ 938 milhões (-29,8%), margem líquida de 13% (contra 18,1%). Já o EBITDA ajustado foi R$2,7 bilhões, com uma margem de 37,5%, 4,8 pontos percentuais abaixo do ano anterior.

A empresa apoiou no mal desempenho das lavoura, sobretudo da soja no estado do Mato Grosso, a justificativa para os dados menos expressivos, mas ressaltou que um colchão de algodão amorteceu uma possível queda maior – a commoditie se valorizou 5,7% no ano, com margens da safra 2022/2023 superiores às do ciclo anterior.

Isolado apenas o quarto trimestre de 2023, sente-se claramente o impacto de clima e preço de commodities nas contas da empresa. A empresa a fechou o período com prejuízo líquido de R$ 153 milhões, uma reversão significativa ante o lucro líquido de R$ 132,4 milhões apresentado um ano antes.

Assim, uma das preocupações da direção da SLC ao divulgar o balanço foi desenhar o quadro mais claro da safra em andamento em suas possíveis.

“A safra 2023/2024 enfrentou condições climáticas adversas no início do ciclo, devido ao fenômeno El Niño”, anotou a empresa no release de resultados. “As condições climáticas foram inadequadas para o desenvolvimento da soja, principalmente no Oeste do Mato Grosso, região mais afetada pela seca. Em função disso, foi necessário realizar ajustes na área plantada, buscando uma otimização do potencial produtivo das culturas e nos resultados econômicos”.

A seca no estado “não teve o mesmo efeito nas demais regiões, que estão com alto potencial produtivo, demonstrando a resiliência do portfólio da companhia em função de sua diversificação geográfica”, destacou.

E, mais uma vez, o algodão deve aparecer como ponto forte. Segundo a empresa, as condições até agora para a cultura apresentam elevado potencial produtivo e custos de produção, por hectare com “redução média em reais de 10% em relação ao orçado da safra 2022/2023”.

Em sua análise, publicada logo após a divulgação do balanço, a XP Investimentos também destacou “os melhores resultados impulsionados pelo algodão”, mas colocou a atualização do guidance feito pela SLC no centro das atenções.

A empresa indicou uma redução de 5% na área plantada de soja, com previsão de redução de 12,3% na produtividade da oleaginosa. No algodão, houve aumento de 18,5% na área plantada na 1ª safra, mas redução de 15,8% na 2ª safra.

A XP também avaliou os avanços na posição de hedge da safra 2023/2024. Segundo a SLC, na soja, a proteção, com venda antecipada, atinge 70,7%.

“Principalmente evoluímos no algodão, onde o mercado reagiu mais recentemente, chegando a 40% de proteção. Paralelamente, aproveitamos os momentos de alta do dólar para travar o câmbio das culturas”, comunicou a empresa.

“Vemos riscos de alta e de baixa”, diz o relatório da XP, que diz esperar “uma reação neutra a negativa no papel”.