As grandes fabricantes mundiais de máquinas agrícolas costumam ter características próprias que as diferenciam de imediato. Uma delas é a cor, que se sobressai no meio das lavouras.
No caso da Case IH, uma das marcas líderes globais, que pertence ao grupo CNH Industrial, a inovação tecnológica sempre foi um cartão de visita.
Em 2017, por exemplo, a marca trouxe ao Brasil um trator autônomo, que não precisava de operador. Era apenas um conceito, que até hoje não foi comercializado por aqui, mas de qualquer forma foi o suficiente para chamar (e muito) a atenção dos clientes.
Este ano a Case IH apresentou o projeto de tratores elétricos e a decisão de ter 100% dos produtos “conectados” a internet.
Mas o mercado não vem ajudando muito. Em 2023 as vendas de tratores e colheitadeiras no Brasil vêm acumulando queda, em meio a preços mais baixos para diversas commodities agrícolas.
Mesmo assim, em entrevista ao AgFeed, o vice-presidente da Case IH para a América Latina, Christian Gonzalez, garantiu que nenhum plano de investimento da marca foi revisto e que o Brasil é prioridade.
Mais do que isso, o País vai ficar responsável pela produção de equipamentos que antes eram feitos também em outros países.
Gonzales revelou que uma linha tradicional de colheitadeiras da marca, a Axial Flow Série 150, de porte médio, vai deixar de ser produzida nos Estados Unidos e, a partir de agora, ficará com a produção concentrada na fábrica de Sorocaba, interior de São Paulo.
A empresa não revela a capacidade da fábrica, nem o investimento que vai ser feito, mas admite que a produção destas colheitadeiras “vai quase dobrar", já que a partir de agora serão exportadas daqui para os EUA e para os demais mercados que antes eram atendidos pela unidade norte-americana.
Perguntando sobre o momento desafiador do agro brasileiro, Gonzalez disse que se trata apenas de “um mau humor” momentâneo, já que não há sinais de problema estrutural.
Em tecnologia, a Case IH promete novos lançamentos a partir de 2024, o que deve passar por novos produtos com inteligência artificial e até a ampliação da parceria com a Microsoft. Além disso, seguirá expandindo iniciativas que garantam maior conectividade no campo.
Veja os detalhes na entrevista que Christian Gonzalez concedeu ao AgFeed.
Como avalia o atual cenário para o setor de máquinas agrícolas?
Acredito que o mercado atual é um mercado bom, mas está de "mau humor”. Costumo resumir assim quando sou perguntado, inclusive pelo pessoal de fora do Brasil.
Por quê?
É porque quando se analisa estruturalmente, o mercado agrícola brasileiro continua num momento positivo. Ele continua com produção e produtividades crescentes, continua com outlook de produção e colheita bons. Para as próximas safras está melhor ainda. A parte climatológica continua positiva, em termos de tecnologia o produtor brasileiro está cada vez mais preparado e cada vez mais não sendo pego “de calça curta" por condições climáticas. Quer dizer, está se profissionalizando, pelo uso de tecnologia e de métodos. Portanto, estruturalmente, o cenário é positivo.
Mas o produtor reclama dos preços mais baixos nesta safra...
Sim, obviamente, existe um mau humor por motivos mais conjunturais. Tem uma conjuntura negativa principalmente em dois fatores, que se interligam nesta safra: a questão de preço das commodities, uma queda que houve nos preços internacionais que foi piorada localmente por uma questão de prêmios muito negativos logísticos. Quando sai o preço local, ele junta as duas coisas. E tem uma terceira, que é o câmbio, muito importante para o produtor que exporta. Quando junto tudo isso houve uma pressão negativa nos preços e o mau humor vem porque todo mundo segurou quando o preço estava melhor. Ninguém vendeu, o que exacerbou o prêmio negativo. Temos um caos logístico nos portos, seja no embarque, seja por demurrage. Ontem vi uma imagem que era a quantidade de navios esperando no porto de Paranaguá, era impressionante. Os produtores também não têm capacidade de estocagem de grãos. Agora, na safra de milho, eu falo que Mato Grosso vai parecer os Alpes ou a Serra do Mar, de tantas montanhas de milho que vai ter.
A rentabilidade diminuiu?
Sim, quando juntamos tudo isso, coloca-se uma pressão sobre a rentabilidade do produtor para baixo, numa safra que foi produzida com custos muito altos. Mas o pessoal de fora pergunta muito se eu vejo um problema estrutural, se há problema de liquidez na agricultura brasileira. E eu falo que não, que não vejo, o agricultor está forte. As últimas safras foram muito boas tanto em termos de produção e produtividade, quanto de rentabilidade, que foram recordes, portanto o produtor está capitalizado. O problema é o mau humor mesmo, de não ter vendido, de estar acostumado com grandes ganhos e agora ter uma safra muito mais apertada.
Qual é o cenário para as próximas safras?
Na próxima safra de soja, principalmente, os custos estarão mais equalizados, já voltaram para patamares bem melhores, então já se vê uma rentabilidade melhor. Quando se olha a parte política e governamental, no final o plano Safra está lá. Obviamente os juros não são o que nós gostaríamos ou o produtor gostaria, são ainda altos, mas fazem parte de uma conjuntura econômica.
Qual o impacto disso no mercado de máquinas?
Eu diria que hoje o plano Safra e o Moderfrota não são nem um incentivador de compras. Eles estã lá, quem quiser terá esta opção para fazer. Com isso tudo, vemos que o mercado de máquinas está em leve queda. Começou o primeiro trimestre melhor, porque tinha ainda um volume do ano passado para ser entregue. Depois, em meses como maio e junho, já estamos vendo o mercado uns 10% abaixo. A nossa perspectiva é de um mercado um pouco abaixo de 2022, mas ano passado foi um mercado recorde.
A Case cresceu quanto ano passado?
Nós ganhamos share. A marca Case vem num constante crescimento de market share. Estamos perto de 20% de colheitadeiras no Brasil, é nosso carro-chefe. Na América Latina um pouco mais, porque somos muito fortes na Argentina, lá estamos em mais de 27%. Estamos também batendo na trave para chegar nos 10% em tratores no Brasil. Dentro destes 10% de tratores não temos grandes ambições de volumes enormes.
Por quê?
Porque nosso foco são os grandes produtos, de maior tecnologia e maior performance, maior tamanho. Ali sempre temos um share maior. Nas colheitadeiras de porte maior a nossa participação é de 30%. Se olhar tratores de alta potência, acima de 140cv, temos 20%, aí dobra o market share.
"Agora, na safra de milho, o Mato Grosso vai parecer os Alpes ou a Serra do Mar, de tantas montanhas de milho que vai ter"
Onde somos “mais fracos”, digamos assim, são nos tratores pequenos, de programas governamentais. No caso de licitações, programa Mais Alimentos, focados em tratores pequenos, a Case nem participa. Dentro da CNH isso fica mais com a marca New Holland e nós focamos neste outro canal, de clientes mais profissionais, maiores clientes, por isso são volumes altos.
Como tem sido o ritmo de crescimento do market share?
A nossa primeira máquina produzida no Brasil, foi a Axel Flow, em 2001. Faz 20 anos. Fomos de zero a 20% do mercado, enquanto outras marcas estão aqui desde os anos 1970. Portanto é um crescimento muito mais acelerado.
Em relação ao faturamento das marcas, como está o desempenho?
São números que não divulgamos por marcas, nem por região. O faturamento global da CNH Industrial foi de US$ 23,6 bilhões em 2022, sendo que 76% vem das marcas de máquinas agrícolas (Case e New Holland).
O mercado brasileiro cresceu 19% no ano passado e nós crescemos acima disso. Este ano deve haver uma queda moderada no mercado como um todo, talvez uma redução de 5%. O nosso plano é tentar mitigar isso ganhando mais participação de mercado.
Qual a perspectiva?
O primeiro trimestre para a gente foi maior que o mesmo período do ano passado. Depois já foi mudando e acreditamos que o terceiro trimestre, principalmente, será mais desafiador. E só deve começar a fluir bem de novo depois do plantio da soja, a partir de setembro e outubro. Se as commodities derem uma recuperada, deveremos ver uma reação no mercado. Por isso, acreditamos que no balanço do ano ficaremos ligeiramente abaixo do ano passado. Mas, de novo, abaixo de um ano que foi recorde.
Algum produto está crescendo?
Não, em geral muito junto com o mercado. Na parte de plantadeira estamos com crescimento porque é algo mais novo para a Case. E continuamos muito fortes em tratores de alta potência e colheitadeiras, são os produtos com maior foco. Mas crescimento em volume provavelmente não vai ter. Estamos falando sempre em crescimento de participação no mercado. O nosso objetivo é tentar compensar, se não tudo, pelo menos uma parte da queda do mercado com ganhos de participação.
O mercado comenta muito os problemas de fluxo de caixa e de inadimplência em alguns segmentos do agro este ano, o que inclui, por exemplo, alguns arrendatários. A Case também sente estes reflexos?
Realmente existe uma parte do mercado, como este exemplo do arrendatário, em que, quando as margens se achatam, há um custo adicional. Isso realmente temos visto bastante. Tenho conversado com muitos clientes e se vê quem arrenda renegociando. Isso está acontecendo bastante. No nosso caso, especificamente, não vemos nenhuma explosão de inadimplência no nosso banco. Está tudo controlado.
"Não vemos nenhuma explosão de inadimplência no nosso banco. Está tudo controlado"
É importante separar o momento, algo que ocorreu nessa safra em rendimento operacional, de um histórico, ou seja, em geral, a liquidez no mercado existe, nós tivemos safras muito boas no passado. Portanto, não há problema estrutural mesmo, somente se tivéssemos safras consecutivas ruins, sem ter grãos guardados, com endividamento alto. Aí sim haveria problemas gravíssimos de pagamento. Há um problema momentâneo de fluxo de caixa. Sempre existem as exceções, aqueles produtores que especularam demais, que deram um passo maior que a perna. Mas eu diria que, para grande parte do mercado, não é esse o caso.
Quais os planos de investimentos da Case para o Brasil? Mudaram algo que estava planejado neste cenário?
Não mudamos os planos. Isso é muito positivo, porque existe um reconhecimento muito forte da Case global. O Brasil é o segundo maior mercado da Case no mundo, depois dos Estados Unidos. E lá o crescimento já está muito mais limitado. O potencial aqui é muito maior. Existe uma consciência disso, tanto em termos de mercado como também pensando em polo produtivo.
E em relação a outros mercados?
Se a gente for pensar, onde que estão os potenciais de expansão? Hoje, com a guerra da Ucrânia, a Rússia está um pouco fora. Com a pandemia, se mostrou que não dá para se confiar muito em ter um sourcing muito forte de China, Índia e Ásia. A Europa, com problemas, seja de energia, seja de mão de obra, Estados Unidos com problemas gravíssimos de mão de obra... Então acaba sobrando mesmo é Brasil, México, América Latina. E, obviamente, falando em agricultura, nós somos muito mais fortes que o México. Então aqui vira um polo natural.
Como essa consciência se reflete em investimentos?
Nós continuamos investindo. Já investimos bastante na expansão das nossas fábricas recentemente. Agora estamos fazendo uma expansão grande na fábrica de Sorocaba. A partir do ano que vem ela vira polo mundial de nossas colheitadeiras série 150. Ela vai produzir para o mundo inteiro. É um modelo que se produzia nos EUA e aqui. E agora vamos concentrar tudo no Brasil. Isso mostra como os planos continuam muito fortes. Nós tivemos uma fase muito forte de lançamentos de produtos. Nós renovamos 90% do portfólio nos últimos anos.
Esse ritmo se mantém?
Não tivemos grandes lançamentos este ano. Mas a partir do ano que vem começa outro ciclo de lançamentos importante para 2024 e 2025. Serão dois anos muito importantes, com a grande maioria produzida aqui. Hoje nós vendemos 95% do nosso volume produzido no Brasil para o mercado local. O único produto que não é produzido aqui é o Steiger, trator acima de 420cv, que vem de nossa fábrica nos Estados Unidos.
Em relação aos lançamentos, que serão retomados no ano que vem, pode nos adiantar algo?
Ainda não posso contar, mas entre 2024 e 2025 vai ter uma renovação bem importante no nosso portfólio. Não apenas novos produtos, mas também alguns com tecnologias novas, vai ter muita tecnologia.
No passado vocês chegaram a lançar, por exemplo, o trator autônomo. Até hoje ele não é comercializado...
Na verdade, aquele foi um trator conceito que levamos na Agrishow. Aquele foi o começo da nossa jornada de autonomia. Nunca houve a intenção de ser produzido, mas ele rodou e a gente até mostrou. Naquela época ele provou que a tecnologia autônoma era funcional.
E quais são os próximos passos dessa jornada?
A partir dali, começamos todo um trabalho, que se intensificou muito mais com a compra da Raven. Um dos motivos dessa compra foi trazer toda essa tecnologia para dentro de casa. Agora o trabalho já está em desenvolvimento. Na última Agrishow mostramos o kit no Magnum, de autonomia, para comercialização em breve. Ainda não temos uma data, não divulgamos uma data precisa, mas ele já está em trabalho para início da comercialização.
A autonomia total, então, ainda deve levar tempo...
Obviamente que esse trabalho vai vir em ondas. Vai começar permitindo algumas operações até que vai ampliando para tarefas mais sofisticadas e vai adicionando na capacidade. Uma coisa que você faz também é começar a automatizar ou deixar autônoma parte da operação. Por exemplo, em colheita vamos ver cada vez mais uma parte de descarregamento de grãos sendo feita sozinha, mas com o operador lá dentro ainda. Até que depois você vai automatizando e vai começando a tirar operadores, deixando o operador para uma frente de máquinas. Essa é um pouco da nossa visão.
Nos Estados Unidos esta venda de trator autônomo já é realidade?
Não. Tem algumas startups, como a Monarch, que é uma empresa com quem fizemos uma parceria muito forte. Ela tem produto, mas nada vem sendo vendido em larga escala. Quem começou com isso foi a Raven, que anunciou que estava trabalhando. Isso foi logo antes da compra e agora entraram junto com os nossos times de engenharia. Tem produtos trabalhando já no campo. Eu estava nos Estados Unidos algumas semanas atrás e andei em um que já estava trabalhando. Mas a combinação que agora precisa ser feita é primeiro tecnológica, ou seja, de segurança, e é uma questão de legislação também.
"Para tratores autônomos não tem nem legislação ainda no Brasil, como ocorreu com os drones alguns anos atrás"
Se eu começar a trazer tratores autônomos aqui, não tem nem legislação ainda no Brasil, como ocorreu com os drones alguns anos atrás. Tem um trabalho que a gente vai começar a fazer. Nos EUA já começou, no Brasil ainda não. Assim que ele começar comercialmente, que estiver disponível, vamos começar também um trabalho de regulamentação.
A autonomia tem relação com os lançamentos que vão chegar?
Sim, mas não vou dizer que estaremos lançando o trator totalmente autônomo nos próximos dois anos. Isso não é verdade. Mas ele começa a entrar cada vez mais com funcionalidades autônomas. Isso já começa a entrar assim.
O que mais é tendência e que vamos ver em breve?
Temos trabalhado palavras chave, que são eficiência e controle/gerenciamento. Hoje o que o produtor mais busca é tentar tirar a imprevisibilidade. Por mexer com a natureza, você já tem uma imprevisibilidade natural. E dá para reduzir isso com tecnologias.
De que forma?
Você começa, por exemplo, a trabalhar com épocas de plantio e variedades, de soja ou de milho, que te permitem resistir mais a uma seca. Com máquinas não é diferente. Essa é uma das grandes questões da agricultura digital. É dar controle e, com isso, gerenciamento e eficiência. Cada vez mais ele vai conseguir fazer mais com menos.
Pode dar exemplos?
Temos falado bastante de eletrificação na agricultura. Nós não vemos que toda a frota de tratores vai virar elétrica. É uma tendência nos carros muito forte. Mas o que a gente vê, sim, é que nós vamos ter tratores elétricos. Mostramos inclusive o conceito na Agrishow. Vamos mostrar isso em tratores menores e conceitos de eletrificação em produtos maiores. Vamos começar a ver transmissões híbridas, tratores híbridos e o conceito de hibridização vai ser muito mais forte. Hoje, por exemplo, em um trator ou uma colheitadeira, componentes hidráulicos pesados e potentes usam grande parte da potência do motor. A hora que você começa a eletrificar isso, o motor começa a consumir menos combustível.
Conectividade é outra prioridade?
Anunciamos recentemente que a partir do final desse ano, 100% dos nossos produtos vão sair de fábrica conectados. Não têm mais a opção de conectar ou não. Eles saem conectados com o nosso aplicativo. Com bluetooth pode acessar, ver o produto, fazer o gerenciamento, seja no aplicativo, no desktop ou iPad. Tudo começa a virar uma coisa muito mais estandardizada, uma tecnologia muito mais forte.
Mas segue o desafio do Brasil de ter mais conectividade no campo...
Sim, é um desafio. A conectividade, para tempo real, você percisa quando quiser fazer um monitoramento minuto a minuto. Mas, por exemplo, hoje nossas máquinas se conectam via WiFi. Então, toda vez que a máquina voltar para a sede da fazenda, ela transmite tudo que ela gerou. Só isso, já dá um salto de gerenciamento gigantesco ao produtor.
E a infraestrutura, nesse sentido, está avançando?
O fato é que a conectividade está melhorando e vai melhorar rapidamente. O primeiro sintoma disso que você vê é o engajamento das telecoms, que não existia no passado. Até quatro anos atrás, estas empresas estavam fora. Hoje nós temos uma parceria com a TIM fortíssima. Nós compramos da TIM quase 50 torres e estamos instalando em clientes nossos. Cada torre cobre mais ou menos 30.000 hectares. Essa é uma ação direcionada a clientes maiores. Mas tenho certeza que as cooperativas vão começar a fazer essas parcerias. Acho que vamos começar a ter uma aceleração muito forte.
"A conectividade está melhorando e vai melhorar rapidamente. O primeiro sintoma disso que é o engajamento das telecoms"
Além disso, você tem tecnologias como Starlink, por exemplo, que vão permitir internet em qualquer lugar, via satélite. Portanto, eu acho que ainda é um problema, mas bem menor do que foi no passado, e tende a ser resolvido muito rapidamente.
Qual a estratégia por trás da compra das torres?
Fizemos essa parceria com a TIM porque é de nosso total interesse que o cliente esteja conectado, que a minha máquina esteja conectada, porque vai ser bom para ele, mas também para nós, já que eu consigo ter uma série de informações importantes para melhorar a performance dos equipamentos.
Há planos de comprar mais?
Temos planos, mas depende da capacidade da TIM de instalar. Nós começamos com 37 antenas, em três meses. Depois chegou a 50. O plano é ampliar e continuar o trabalho, até porque o interesse é enorme. Nós temos mais de 40 centros de conectividade regionais no Brasil. Os clientes vão lá e veem todo o potencial daquilo, conseguimos mostrar o que a máquina está fazendo. Se o consumo é alto, todos os alertas, toda a parte de serviço, tudo o que a própria máquina avisa em tempo real, permite fazer manutenção preditiva e preventiva... Por isso a demanda fica muito forte. Já estamos conversando com a Tim para expandir. O tempo que a gente economiza de de manutenção, ou seja, de máquina parada, é gigantesco. Você detecta o problema durante a noite e já envia o mecânico, por exemplo.
O que deve vir em termos de inteligência artificial?
Fomos os primeiros a lançar uma máquina equipada já com inteligência artificial, há dois anos. Foi o lançamento da nova série 250. Ela tem o sistema que chamamos de automation. O grande desafio que o cliente sempre fala para a gente é que as máquinas têm cada vez mais tecnologia, mas ele não consegue usar. Ele alega que o operador não está preparado.
É preciso capacitar os profissionais no campo...
Por mais que a gente treine, ele não consegue, é muita tecnologia. Foi aí que veio esse conceito do automation. Na verdade, o sistema pegou todas as principais funções de uma colheitadeira, como as diferentes velocidades, por exemplo, todos os ajustes que permitem que a máquina seja mais eficiente em diferentes condições, e, com inteligência artificial, foi aprendendo. Assim, a máquina, a cada safra que colhe, vai tendo inputs pré-determinados, com os algoritmos. A performance dela fica sensacional. E o produto pode escolher por quatro modos de colheita, como existe o “modo esporte”, no carro.
Quem está mais atrasado na colheita, pode colocar um modo que vai acelerar, mesmo que ofereça um pouco mais de quebra do grão. Tem também o "mínimo quebra", que vai reduzir velocidade, mas pode ser fundamental para um sementeiro, por exemplo. Esse foi o primeiro grande uso de inteligência artificial.
E quais são os próximos?
Nós estamos trabalhando agora já uma segunda geração que vai vir nos próximos lançamentos. Temos ainda um projeto de IA generativa que vai servir para tudo, seja para melhoria de processos de manufatura, seja também para aplicação em produtos.
Pensam em alguma parceria para avançar nisso? A Microsoft, a partir do Chat GPT, vem mostrando algumas soluções para o campo, por exemplo...
Temos uma parceria de longa data com a Microsoft. Esses novos projetos envolvem eles e também outros parceiros.
Pode haver aquisições?
Temos feito anúncios de aquisições praticamente duas ou três vezes por ano. Um dos mais recentes foi a Hemisphere, uma empresa de guia satelital, que é uma das coisas que a gente não tinha e precisamos, justamente porque todas as máquinas vão vir com isso. É uma empresa tanto de software quanto de hardware. Recentemente anunciamos a compra também da Augmenta, empresa europeia de robótica e inteligência artificial, na parte de identificação de plantas para aplicação seletiva.
A Raven foi o grande investimento, de US$ 2,1 bilhões, que foi justamente para internalizar toda essa parte. O lema que temos utilizado muito é, a partir de agora, nós temos que oferecer “Great Iron and Great Technology”, o americano fala muito isso. Ou seja, não são só grandes produtos com performance. Agora eu tenho que oferecer tudo isso com um pacote tecnológico espetacular, porque ele vai fazer a diferença na máquina. Os investimentos têm sido mais em torno disso e com certeza vai vir mais coisa pela frente, mas realmente não posso falar. A ideia é sempre trazer essas empresas que não são o nosso core business, mas que vão complementar e trazer para dentro de casa essas capacidades que não temos.