Uma das maiores indústrias de biocombustíveis do País, a Brasil Biofuels (BBF), informou na noite da quinta-feira, 8 de fevereiro, que buscou proteção à justiça para suspender execuções e ações de cobrança de suas dívidas pelos próximos 60 dias.

Em comunicado enviado à CVM após o fechamento dos mercados, a companhia disse ter obtido autorização, em Assembleia Geral Extraordinária realizada na quinta, para ajuizar "tutela de urgência cautelar" perante o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo "em busca, por um prazo de 60 (sessenta) dias, suspender os efeitos de ações e execuções atuais ou futuras em face do Grupo BBF com o intuito de viabilizar uma solução consensual com seus principais credores".

Assinada pelo diretor de Relações com Investidores e Financeiro, Vitor Cuminato Filho, a nota informa ainda que a AGE também autorizou os gestores da empresa a buscarem "eventual pedido de Recuperação Judicial", caso tal pedido seja necessário.

"Durante esse período de suspensão, o Grupo BBF engajará em tratativas com seus principais
credores no âmbito de procedimento de mediação instaurado perante a Câmara Especial de
Resolução de Conflitos em Reestruturação de Empresas (“CamCMR”) e iniciado na presente
data, objetivando o equacionamento econômico-financeiro do grupo mediante a renegociação
de suas principais dívidas corporativas".

Segundo o comunicado, a administração da companhia entende que, neste momento, essa é "a alternativa apropriada para viabilizar a readequação do fluxo de caixa do Grupo BBF, bem como a manutenção de sua normalidade operacional, afetados pela dificuldade conjuntural de renovação e obtenção de linhas de crédito em termos adequados para o grupo".

Fundado em 2008, o grupo é especializado no agronegócio sustentável, e atua com o cultivo da palma, bem como sua transformação em óleo, biotecnologia, produção de biocombustíveis e até a geração de energia renovável.

Com expectativa por novos incentivos aos projetos de descarbonização da Amazônia, o CEO da empresa, Milton Steagall, disse ao  AgFeed em junho passado que pretendia dobrar a área plantada com palma na região, onde controla 38 usinas para greação de bioenergia, sendo 25 já ativas e 13 em processo de implementação. Somadas, elas possuem uma capacidade de 86,8 megawatts (MW) em geração, que atendem 140 mil pessoas.

Até o fim deste ano, a perspectiva era aumentar em 174% essa geração, para 238 MW, quando todas as 13 novas usinas estariam, segundo Steagall, em pleno funcionamento.

No seu último balanço publicado, referente ao terceiro trimestre de 2023, a empresa tinha uma dívida líquida atribuída aos controladores de R$ 766 milhões. No final de 2022, a dívida estava em R$ 553 milhões. Com isso, houve um aumento de 38% em nove meses.

Ao mesmo tempo, o prejuízo acumulado em 2023 até setembro era de R$ 125 milhões. Parte do resultado se explica pelos custos da operação. Ao mesmo tempo que somava um faturamento consolidado de R$ 643 milhões, o custo dos produtos vendidos era de R$ 647 milhões.

Ao longo do ano passado, a empresa também anunciou alguns investimentos que deve fazer para expandir suas operações.

A projeção mais robusta fica por conta de uma parceria com a Vibra Energia para um projeto de comercialização de combustível de aviação sustentável (SAF, na sigla em inglês) que a BBF pretende produzir no Brasil a partir de 2025. O investimento é avaliado em R$ 2 bilhões para produzir 500 milhões de litros de biocombustível por ano.

Nesse contrato, a Vibra terá a exclusividade da comercialização por cinco anos, e a unidade está prevista para ficar pronta entre 2025 e 2026.

O acordo, firmado em 2022 e anunciado no começo de 2023, se soma a um contrato já existente entre as partes para compra e venda do diesel verde HVO (sigla, em inglês, para hidrotratamento de óleo vegetal).

Na época, a BBF disse que essa seria a primeira fábrica de produção dos dois biocombustíveis em escala industrial no Brasil.

Em 2023, a empresa também emitiu seu primeiro título de dívida para finalizar a instalação de uma usina termelétrica em Roraima. O título em questão foi uma debênture de R$ 133,4 milhões, captado pela empresa no início do ano passado.

Com reportagem de Gustavo Lustosa.