Os desafios não foram poucos para a equipe da Boa Safra Sementes no último trimestre de 2023. Produtores deixaram para comprar os insumos na última hora, enquanto o clima causava grande preocupação sobre qual seria a produtividade das lavouras.

Apesar do susto, os executivos da empresa agora respiram aliviados e comemoram os resultados positivos no balanço divulgado na madrugada desta terça-feira, 12 de março.

O lucro líquido ajustado subiu de R$ 169 milhões para R$ 245 milhões em 2023, um aumento de 45%. Este é o indicador destacado pela empresa, já que o lucro líquido contábil ficou ainda mais alto, influenciado por questões financeiras e tributárias que não estão diretamente relacionadas ao resultado real da companhia ao longo do ano.

A receita líquida da Boa Safra atingiu R$ 2 bilhões, um avanço de 17% sobre o ano anterior. A margem líquida, considerando o lucro ajustado, subiu de 9,56% para 11,82%.

“É o melhor ano da nossa história, porque, mesmo com o preço da semente pura mais baixo, nosso mix de venda foi de produtos de maior valor agregado”, destacou o CEO da Boa Safra, Marino Colpo, em entrevista ao AgFeed.

Felipe Marques, CFO da empresa, que também conversou com o AgFeed, explicou que o quarto trimestre foi atípico e “muito forte” em função do comportamento do produtor este ano, que, em meio de preços mais baixos das commodities e expectativa de queda nos valores dos insumos, foi adiando as compras, adquirindo a semente em cima da hora do plantio.

“Compras que eram para o ocorrer no terceiro trimestre acabaram se deslocando para o quarto”, explicou.

Ele avalia que apesar de ter sido “sofrido” para atender a todos, com a tecnologia que cada produtor buscava, conseguiram gerenciar relativamente bem os desafios.

“Com a nossa política de hedge não ficamos com exposição tão grande a essa volatilidade e os centros de distribuição em diversas regiões ajudaram a atender a demanda dos 45 do segundo tempo”, afirmou.

O principal segredo para seguir crescendo e aumentar fortemente os lucros, como reforçaram os executivos, foi uma maior procura, por parte do produtor, das chamadas sementes “Hi Tech”, com mais biotecnologia e, principalmente, com o chamado TSI (já tratadas com os defensivos).

Marques disse que estas sementes de mais tecnologia – e mais caras, que fornecem melhores margens à companhia – representaram 32% das vendas em 2023, acima dos 28% do ano anterior.

Foram vendidas 52 mil big bags de sementes tratadas, “prontas para o plantio”, que o produtor mais procurava em meio, por exemplo, a necessidade de replantar diversas áreas, em Mato Grosso.

“Essas sementes de mais tecnologia podem custar entre 20% e 50% mais do que aquelas tradicionais, dependendo do que oferecem em termos de biotecnologia e TSI”, disse o CFO.

Ele completou dizendo que “muitos tinham receio de que o negócio de semente era um negócio de grão”, mas que o preço médio de venda da Boa Safra “subiu porque o produtor não comprou a mesma coisa, foi outro produto”.

Em volume, o aumento nas vendas foi de 136 mil big bags em 2022 para 164 mil big bags no ano passado.

A companhia considera como um dos destaques do ano o ganho de market share em sementes de soja, que agora está em 8,5%, acima dos 7,4% do ano anterior.

Outro sinal positivo, segundo o CFO, é que as sementes de outras culturas, “começam a aparecer no resultado financeiro da empresa”. Se for desconsiderada a receita da venda de grãos (o descarte do que não serve para semente), o executivo diz que “outros negócios” representaram 6% da receita, bem acima dos 2% do ano anterior.

Um dos destaques é o milho, mercado em que a Boa Safra começou a atuar com a compra da Bestway, no final de 2022. Recentemente, a empresa anunciou que também já começou a comercialização de sementes de trigo, além de atuar em outros mercados como feijão e sorgo.

Otimismo para 2024

A capacidade instalada da Boa Safra, de 200 mil big bags no ano passado, subiu para 240 mil big bags em 2024.

A área de produção também está sendo expandida, de 144 mil hectares para 225 mil hectares.
O investimento – a empresa informa ter CAPEX aprovado de R$ 140 milhões para 2024 – ocorre apesar de as previsões de consultorias especializadas de que a área plantada com soja no Brasil poderá pela primeira vez, em quase 20 anos, não crescer na safra 2024/2025.

Na opinião de Marino Colpo, porém, a área plantada de soja no País ainda deve crescer no próximo ciclo.

“Concordo que a velocidade do crescimento vai diminuir e muito, mas temos uma marca líder, com preferência do cliente, por isso estamos muito animados. Se sobrar semente, não vai ser na Boa Safra”, afirmou o CEO.

Outro argumento do executivo é que “a Boa Safra não cresce só porque o mercado estava crescendo”. Ele destaca que, nos últimos 3 anos, enquanto a área de soja no Brasil avançou 19,8%, a capacidade instalada da empresa cresceu 100% e a venda de tratamento de sementes subiu 333%, o que fez o lucro líquido ajustado disparar 250% no mesmo período.

Um dos movimentos que deve marcar 2024 é a expansão da companhia para o Sul. Na mensagem que acompanha o balanço, a diretoria da empresa afirma que “a região é estratégica” para o crescimento e que a presença lá não se limita aos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, mas também aos estados vizinhos, em função do “amplo alcance proporcionado”.

No fim do ano passado a empresa chegou a manifestar preocupação com os impactos do clima na produção de sementes, no período em que faltava chuva em Mato Grosso.

Os executivos, porém, garantem que com a melhora no clima a partir de janeiro a recuperação foi muito rápida e “mesmo que não seja uma safra de sementes excepcional, as áreas que estavam ruins, agora estão dentro da média”.

Colpo admite que pode haver uma queda de produtividade, mas como a área plantada de sementes foi bem maior, não haverá reflexos na capacidade da companhia de seguir crescendo.

O CFO Felipe Marques destacou que a prova do otimismo para 2024 é o aumento na área contratada, que está avançando 20% “para conseguir suprir essa demanda por sementes de alta tecnologia”.

Outra aposta é seguir crescendo nas vendas de sementes de outras culturas. “Antes nem divulgávamos carteira de pedidos de dezembro, desta vez reportamos que está em R$ 30 milhões, ali tem um pouco de soja, mas dois terços são de outras sementes”, disse Marques.

Marino Colpo admitiu que não esperava que estes novos mercados fossem “virar tão rápido, nas outras culturas”, por isso acredita que a empresa conseguirá avançar na diversificação “com mais força”.