O ano recém começou e a gaúcha Be8, maior produtora de biodiesel do Brasil, que tinha feito uma série de anúncios de novos investimentos e lançamentos ao longo de 2024, segue enfileirando comunicações de parcerias com outras empresas para alavancar suas operações.
Em pleno Fórum Econômico Mundial de Davos, que começou nesta semana na Suíça, a companhia de Erasmo Carlos Battistella acaba de anunciar, nesta terça-feira, dia 21 de janeiro, um memorando de entendimento com a empresa de biotecnologia Cemvita, dos Estados Unidos.
A ideia das duas empresas é desenvolver a conversão de glicerina, um subproduto da produção de biodiesel, em matéria-prima para a produção de combustível sustentável da aviação (SAF, na sigla em inglês).
“Há uma demanda crescente por SAF produzido a partir de matérias-primas residuais e circulares, e estamos muito empolgados em ajudar a indústria da aviação a atingir suas metas de longo prazo para reduzir as emissões com essa solução inovadora”, afirmou Battistella em nota.
“Estamos estabelecendo uma parceria importante com o objetivo de desenvolver uma nova cadeia de valor de baixo carbono, utilizando matéria-prima residual para a produção de SAF e convertendo a glicerina bruta das operações da Be8 em bio-óleo sustentável com a nossa tecnologia”, disse Moji Karimi, CEO da Cemvita.
Com sede no Texas, a Cemvita começou a operar no fim de 2024 no Brasil. Criada em 2017 por Moji e Tara Karimi, diretora de Ciência e Sustentabilidade, a empresa produz óleos sustentáveis e outros coprodutos para a indústria a partir da utilização de biotecnologia, com a separação de microorganismos capazes de converter efluentes residuais, como a glicerina, em óleo a ser utilizado na produção de SAF.
Há três anos, a empresa anunciou uma parceria com a petroleira texana Occidental Petroleum, uma das maiores dos Estados Unidos, e a companhia aérea United Airlines para o desenvolvimento do biocombustível para aviação.
Substituto do querosene fóssil, o SAF é tido pelo setor como uma das principais formas de descarbonização de suas operações e pode ser produzido a partir de diferentes matérias-primas, da gordura animal e do óleo de cozinha usado até culturas como macaúba, soja e milho.
No Rio Grande do Norte, desde setembro de 2023, já há uma planta piloto em operação para a produção de SAF a partir da glicerina.
O projeto faz parte de um acordo firmado entre a Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável e o Instituto Senai de Inovação em Energias Renováveis e teve investimento de 1,4 milhão de euros.
Novas fronteiras
Além do acordo com a Cemvita, a Be8 também fechou uma parceria com o Aeroporto de Congonhas, de São Paulo, administrado pela companhia espanhola Aena, para a realização de testes envolvendo o uso do biocombustível Be8 BeVant nas operações terrestres do aeroporto, que envolvem viaturas operacionais, geradores e equipamentos de movimentação de cargas e aviões.
O Be8 BeVant é um biocombustível lançado em 2023 pela Be8, que pode ser utilizado em motores a diesel sem a necessidade de troca do equipamento ou demais adaptações no veículo.
Como tem maior teor de éster, pode reduzir em até 50% as emissões de CO (monóxido de carbono), em até 85% a emissão de materiais particulados e em até 90% de fumaça preta, segundo a companhia.
“É um biocombustível com nossa marca, nossa patente e tem capacidade de substituir o diesel sem entrar (concorrer) no mercado de biodiesel. Já o utilizamos em testes e, recentemente, recebemos grandes empresas, como a John Deere e SLC, que o aprovaram”, disse Battistella, CEO da empresa, em entrevista ao AgFeed no fim de novembro.
Na ocasião, Battistella também havia fechado a compra de três usinas da Biopar, localizadas em Nova Marilândia (MT), Santo Antônio do Tauá (PA) e Floriano (PI), marcando a entrada da companhia, até então restrita à região Sul do Brasil, ao Centro-Oeste, Norte e Nordeste.
Com a aquisição da Biopar, uma de suas concorrentes, a capacidade instalada da Be8 sobe de 1,08 bilhão de ltiros de biodiesel - produzido em duas plantas, em Passo Fundo e Marialva (PR) - para 1,47 bilhão de litros por ano.
A aquisição foi aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) no dia 10 de janeiro.
Em paralelo, a Be8 segue erguendo sua usina de etanol obtido a partir do trigo e outras culturas de inverno, com financiamento de R$ 729,7 milhões do BNDES. A ideia é que a estrutura fique pronta e comece a operar em 2026.
A companhia de Battistella também planeja começar a erguer, ainda neste ano, uma usina de produção de biodiesel em Uberaba (MG), com um investimento de R$ 450 milhõji es.
Hoje, além das operações no Rio Grande do Sul e no Paraná, a Be8 possui plantas em La Paloma, no Paraguai, e Domdidier, na Suíça.