O copo está meio cheio em 2025 para o CEO da Bayer no Brasil, Marcio Santos. O executivo está otimista em relação ao agronegócio, mesmo com o cenário desfavorável para a soja, principal cultura do País, cuja oferta deve ser bem maior que a demanda.
“É um otimismo informado, não é um otimismo inocente”, disse Santos durante o Carbon Science Talks, evento realizado pela companhia em Campinas (SP). Para Santos, apesar das quedas nos preços a soja tem uma relação econômica positiva para o produtor.
“Cada produtor tem uma estrutura de capital, de custo, de nível de investimento. Mas, na média, a safra de soja 2024/2025 a gente enxerga com bastante otimismo”.
O cenário, segundo ele, pode mudar para melhor. A perspectiva no início do período era de uma temporada de seca como a anterior, mas as águas vieram e o plantio da cultura foi um dos mais acelerados da história.
A “outra metade” do agronegócio ajuda na metade cheia do otimista CEO da Bayer. “O agro tem outra metade que não é soja. Quando a gente fala de culturas perenes, nós estamos com café de R$ 2 mil a saca, laranja em preço recorde e um cenário de açúcar que poucos conseguiram prever”, disse Santos.
Ele cita também os preços remuneradores do milho e do etanol feito a partir do cereal. “O milho vai ter um ano muito bom, uma boa safrinha, e muita oportunidade com combustível além da produção de alimentos. Então, o avanço da indústria do etanol de milho traz um cenário positivo”.
Nem mesmo a ameaça de recrudescimento do protecionismo global - com a taxação proposta por Donald Trump a produtos importados pelos Estados Unidos e as consequentes contrapartidas tarifárias de outros países - assusta o CEO da Bayer no Brasil.
De acordo com Santos, o comércio do Brasil com a China está muito maduro e isso foi demonstrado na semana passada com os governos brasileiro e chinês firmando uma série de acordos comerciais.
“Vejo um ambiente positivo com a China, mas vejo um ambiente positivo também com os Estados Unidos e com a Europa. A gente exporta para muitos países”.
Na parte meio vazia do copo do executivo está o desafio de algumas companhias que sofreram este ano, como o AgroGalaxy, para superarem a crise e de outras que tentam não ser contaminadas.
“Claro que todo mundo tem algum tipo de preocupação com o crédito”, afirma. Outro desafio para a agricultura brasileira, segundo ele, é a estiagem cada vez mais presente. “Mas o setor em si, eu acho muito resiliente”.
Parcimônia
Dentro de casa, a Bayer espera crescer internamente, com investimentos no mercado de biológicos e na ampliação do portfólio de produtos da companhia de insumos.
“Especificamente de biológicos, a gente anunciou parcerias globais e acredita muito no mercado que cresceu e vai continuar crescendo aqui no Brasil. É uma necessidade do produtor, é uma realidade hoje”, afirmou.
Indagado sobre a possibilidade de aquisições, Santos afirmou que a “maior avenida de crescimento para o Brasil” da Bayer é com a expansão em novos modelos de negócio e do atual portfólio.
Entre os novos modelos de negócio da companhia está o investimento pesado em pesquisas para agricultura regenerativa com foco na pegada de carbono.
“A gente está no Brasil há mais de cem anos, sempre investindo em pesquisa, muito ancorado em ciência e em trazer inovações. Com esse entendimento, já faz um tempo que está claro que precisa de um novo salto no sentido dessa agricultura mais regenerativa, produzir de uma maneira mais sustentável e, através disso, melhorar seus níveis de produtividade, sua rentabilidade, mas também devolver mais para o solo e para o ambiente”.
A Bayer investiu globalmente cerca de 6,5 bilhões nos últimos três anos em pesquisa e desenvolvimento, com mais de 137 milhões de hectares alcançados globalmente por tecnologias de sementes, híbridos e biotecnologias.
Legislação
Outro avanço, de acordo com Santos, foi a aprovação das leis do Combustível do Futuro, já sancionada, e do mercado de carbono no Brasil. Na avaliação do executivo, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), a ser realizada em 2025, em Belém (PA), deve acelerar a regulamentação do mercado de carbono no País.
“O compromisso é fazer a regulação até o ano que vem e a implementação, como foi falado algumas vezes, é de mais seis anos. É uma meta agressiva, embora possa parecer um período longo, já que as próprias metas de redução de emissões do Brasil para 2035 são muito ambiciosas”.
Na COP29, realizada este mês no Azerbaijão, o governo brasileiro propôs a redução de emissões de 59% a 67% até 2035, com base em 2005. Na prática, significará sair de uma emissão de 2,5 bilhões de toneladas de CO2 equivalente para entre 1,05 bilhão a 850 milhões de toneladas de CO2 equivalente anuais.