O mercado global de defensivos teve queda no faturamento no ano passado, com preços mais baixos de commodities e maior cautela por parte dos produtores, mas aqui no Brasil houve quem aproveitasse para avançar, em silêncio, junto a distribuidores e cooperativas.
A chinesa Rainbow, que produz defensivos agrícolas, por exemplo, está presente no Brasil desde 2013, mas muitos agricultores nem sabiam disso. Afinal, seus produtos são comprados por grandes indústrias, que depois comercializam com marca própria. Entre os clientes estão grupos como Syngenta, Amaggi e Agriconnection.
Trata-se do segmento do chamado “pós-patente”, com produtos de prateleira como glifosato e outros herbicidas, inseticidas e fungicidas em geral, que já passaram do período de exclusividade da fabricante que desenvolveu a inovação tecnológica.
Com o avanço do agro brasileiro, porém, a Rainbow passou a buscar mais registros no País, ampliando o portfolio de tal forma que só atender a indústria passou a ser “pouco” para seu potencial de crescimento.
Há cerca de dois anos, ainda na sombra dos gigantes do setor, a empresa começou a contratar equipes e montar uma estrutura própria em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. O objetivo era passar a atender o mercado B2C, ou seja, não vender somente às grandes indústrias, mas também oferecer seu portfólio direto ao produtor rural através de distribuidores de insumos e cooperativas brasileiras.
Em entrevista exclusiva ao AgFeed, o diretor geral da Rainbow Agro Brasil, Gerson Luiz Levandowski, diz que os primeiros frutos dessa estratégia já foram colhidos em 2023, quando a receita do novo negócio por aqui chegou a US$ 240 milhões (mais de R$ 1,3 bilhão, ao câmbio atual).
A expectativa é aumentar o faturamento para US$ 375 milhões (cerca de R$ 2,1 bilhões) em 2024 no mercado brasileiro e chegar a US$ 400 milhões (mais de R$ 2,2 bilhões) no ano que vem, um crescimento que deve ajudar no desempenho global da companhia.
Mundialmente, a Rainbow faturou US$ 1,7 bilhão no ano passado, abaixo dos US$ 2,1 bilhões de 2022. Para este ano, a receita global é estimada em US$ 2 bilhões.
“O B2B continua sendo o nosso maior mercado ainda no Brasil, mas como o portfólio foi crescendo, também passamos a atender o mercado de distribuição, cooperativas, que basicamente é o nosso foco hoje”, ressalta Levandowski.
Segundo o executivo, hoje já são mais de 60 produtos registrados e 10 centros de distribuição espalhados pelo País.
A empresa tem nove complexos industriais, escritórios e centros de pesquisas na China, Europa e Américas. No total, são 4.400 colaboradores, dos quais cerca de 120 estão no Brasil. O portfólio global conta com mais de 7 mil registros, além de mais de 300 patentes.
A companhia também diz ocupar 11ª posição global entre as fabricantes de agroquímicos, sendo maior exportadora chinesa do segmento.
Fábrica no Brasil?
A Rainbow tem duas fábricas na Argentina e sua aquisição mais recente foi de uma unidade nos Estados Unidos (o investimento não foi divulgado). A hipótese de passar a ter fabricação própria no Brasil não está descartada, mas vai depender do crescimento no mercado.
“Para pensar numa fábrica, precisamos ter um faturamento entre US$ 700 milhões e US$ 800 milhões”, afirma o diretor. Ele calcula que esse patamar possa ser alcançado no prazo de 3 a 5 anos.
A planta dos EUA foi comprada da Apex Ag Chem, já com potencial de expansão, segundo o executivo, o que também retarda a necessidade de ter mais uma fábrica brasileira.
Enquanto isso, o diretor geral da empresa explica que a ordem é um “crescimento calculado”, afinal a companhia tem capital aberto na bolsa chinesa de Shenzhen e, como destaca Levandowski, o importante é não apenas aumentar receita, mas ter foco na rentabilidade.
“O pós-patente é um mercado de margens muito apertadas. Para você ter um resultado consistente, não dá para você também sair crescendo demais com produtos de rentabilidade muito baixos. O que a gente está fazendo é crescendo com certa consistência e tentando trazer um resultado financeiro suficiente para justificar o investimento na empresa globalmente”, explica.
“Segunda marca”
Sobre a decisão de deixar o estilo “low profile” adotado até então, o diretor da Rainbow diz que o objetivo da empresa é ser reconhecida como uma plataforma, e não trabalhar somente uma marca em si.
“Uma plataforma que pode atender qualquer possível player do mercado agrícola, que precise de um produto pós-patente, de boa qualidade, com preços, como a gente fala, com soluções competitivas. Não quer dizer que eu vou ter o preço mais barato, mas a minha solução no geral pode ser bem competitiva perante o mercado”, ressaltou.
Neste cenário, diferentes empresas hoje no Brasil que vendem insumos podem seguir colocando a marca própria em um produto que, na verdade, foi produzido pela Rainbow em outro país, porém não pode ter exclusividade.
A ideia é não ser “mais uma empresa competindo no mercado”, ele afirma, e sim “participar de todos os espaços possíveis na cadeia”.
O carro-chefe da empresa é a venda de herbicidas, principalmente o glifosato, mas também conta com fungicidas e inseticidas. Entre as culturas prioritárias estão soja, milho e cana-de-açúcar.
“Não temos nenhuma ambição de liderança no mercado. Nossa ambição é estabelecer um grupo bom de distribuidores onde a gente possa ser a segunda marca, a terceira marca, vendendo produtos que vão ajudar esse distribuidor a acessar o agricultor”, acrescentou.
Desafios com o câmbio
Como os produtos são 100% importados, a recente desvalorização do real em relação ao dólar trouxe um problema adicional para os executivos da Rainbow no Brasil. “Está atrapalhando bastante o resultado”, admitiu Levandowski.
Ele acredita que “a última linha” do balanço deve ter um impacto de cerca de 5% em relação ao previsto em função da taxa de câmbio.
“Nós temos uma proteção cambial para parte da operação, mas há uma parte do estoque que não tem (o hedge), então isso está afetando o nosso resultado”, disse.
Há rumores no mercado de que empresas chinesas estariam cancelando pedidos em função desta diferença no câmbio. Questionado sobre isso, Levandowski disse que, ao contrário, está buscando vender o estoque que possui o mais rápido possível. “Talvez um aventureiro possa até fazer isso, mas não é o nosso caso”.
Na avaliação do executivo, até o momento o mercado de defensivos já comercializou 75% do volume previsto, índice que estaria em 80% no caso da Rainbow.