Quatro anos ininterruptos de moradia no Brasil é um dos requisitos para um estrangeiro obter cidadania brasileira. Considerando os planos futuros da startup argentina Frizata, foodtech que está aqui desde 2021, a empresa está a meio caminho para se considerar “brasileira”.

Pelo menos nos próximos três anos é por aqui que a foodtech vai concentrar seus esforços para conquistar o consumidor pelo estômago. A empresa tem um marketplace, onde oferece um portfólio de mais de 50 produtos no Brasil de alimentos congelados, atuando no segmento chamado D2C – ou seja, fornece seus produtos direto para o consumidor final.

Segundo o CEO da companhia, Adolfo Rouillon, a expansão da empresa passa por continuar a ganhar cada vez mais espaço na cidade de São Paulo, seu primeiro destino no Brasil, e já pensar no desembarque em novas capitais.

Atualmente, 70% dos produtos vendidos são feitos na fábrica própria da Frizata na Argentina e o restante vem de parceiros. Uma segunda unidade de produção, fora do país de origem, também já está na rota do crescimento.

A Frizata foi criada em 2019 na cidade de Rosário. Chegou no Brasil há dois anos, após receber um aporte de US$ 25 milhões liderado pela SP Ventures.

Antes de estar aqui, o faturamento da empresa era de US$ 10 milhões. Após os crescimentos do mercado local e também no país vizinho, o faturamento atual gira em torno de R$ 100 milhões, ou pouco mais de US$ 20 milhões, como explicou o CEO.

O bolo das vendas é dividido ainda de forma bem desigual: 90% entre as operações na Argentina, Chile e Estados Unidos e 10% no Brasil. A perspectiva, porém, é que essa dinâmica seja invertida, com o nosso país chegando a quase 80% do negócio em até cinco anos.

“A estratégia de crescimento geográfico segue sendo no Brasil, mas em pequenos passos, e focada em São Paulo. Vemos o país como um continente, existem ‘muitos países’ aí. Não nos vemos pensando fora do Brasil por três a cinco anos, podemos criar uma operação robusta até lá”, destaca Rouillon.

Atualmente, o consumidor paulistani compra e recebe em sua casa em poucos dias os produtos, que vão desde carnes, pizzas, empanadas e até frutas, vegetais e doces. O foco é o público flexitariano.

Numa simulação feita no site da empresa, um pedido para uma região do centro-expandido da capital paulista nesta terça, 10 de outubro, pode ser entregue a partir da sexta, 13. A empresa também atende pedidos, com prazo maior para entrega, para cidades como Campinas e Jundiaí, num raio de 100 km da capital.

Com a estratégia de consolidar o mercado de congelados de forma mais clara no país dando certo, a Frizata já vislumbra outras capitais para atuar, como Curitiba, no Paraná, e Belo Horizonte, em Minas Gerais.

“O Brasil tem muitas cidades relevantes, e falamos de áreas metropolitanas com massa crítica”, diz o CEO.

A expansão também pode passar pelo interior de São Paulo, que, como lembra Rouillon, tem população semelhante à da Argentina, de cerca de 45 milhões de habitantes. No país de origem, a empresa atua primordialmente em Rosário, Buenos Aires e Córdoba.

O caminho até aqui

A Frizata foi criada por Rouillon e pelo atual COO, Jose Robledo. A jornada dos dois amigos começou há quase 30 anos, quando criaram juntos a Amtec. A empresa foi líder na América Latina no desenvolvimento de soluções de e-business para empresas de médio e grande porte. A Amtec foi adquirida pela Neoris, braço de TI da mexicana Cemex.

Os dois então atuaram na Neoris por algum tempo e decidiram, entre 2005 e 2007, criar um empreendimento de alimentos congelados.

Foi então que nasceu a Congelados del Sur, empresa que desenvolve, de forma terceirizada, alimentos congelados de alta qualidade para grandes marcas de varejo.

“Pensamos, na época, em criar uma empresa para transformar a cadeia e começamos a desenvolver esses produtos congelados para grandes players. Acreditamos na tese dos congelados por acreditar que essa tecnologia permite conservar melhor as características fundamentais de um produto”, diz o CEO da Frizata.

A ideia de comercializar uma marca própria surgiu em meados de 2018, quando os sócios vislumbraram um grande potencial de crescimento do modelo de negócio dos congelados em função da mudança de hábitos de consumo nas grandes cidades.

Segundo o executivo da foodtech, enquanto o consumo de alimentos congelados per capita da América Latina fica em torno de quatro quilos anuais, na Inglaterra e Alemanha essa dinâmica passa para 45 quilos.

“A dúvida era se o problema era de demanda ou de falta de produtos. Lançamos as operações em Rosário e vimos que era capaz de ter uma marca que tivesse preços competitivos, qualidade, e que chegasse rápido no consumidor. Entendemos que era uma questão de falta de produtos”, argumenta o CEO.

Depois de Rosário, a experiência foi para Buenos Aires, onde o executivo diz que “cresceram muito”. Com a ideia bem sucedida no país de origem, foi a hora de pegar o avião e partir para o Brasil.

Por aqui, a ideia era fazer algo diferente, e então a busca por um sócio local começou. Depois de analisar fundos, a empresa chegou até a SP Ventures, que liderou a rodada de US$ 25 milhões captados em 2021.

Também participaram da rodada investidores como Marcos Galperin (cofundador e CEO do Mercado Livre), Jaime Soler Bottinelli (ex-CEO global da Cencosud), Gonzalo Ramirez Martiarena (ex-CEO global da Louis Dreyfus), Glocal e Norte Ventures.

Por aqui, o portfólio é parecido com o da Argentina. Dos 90 produtos da prateleira da Frizata, pouco mais de 50 são comercializados aqui. “A pandemia mudou o modo como o consumidor atua, mais de 80% das compras acontecem online”, diz Rouillon,  cada vez mais brasileiro.