Quase 40% da carne suína que o Rio Grande do Sul exporta tem como origem uma única empresa, com produção totalmente verticalizada e que está entre as cinco maiores do País.

É o grupo Alibem Alimentos, fundado em 2000, no estado gaúcho, por profissionais que já atuavam no setor de carnes. Entre eles estava o atual sócio majoritário, Carlos Lee, nascido na China, que veio para o Brasil na década de 1970.

O dia a dia da empresa, porém, quem lidera é outro sócio fundador, José Roberto Goulart, atual CEO da Alibem, que conversou com o AgFeed durante o Siavs, Salão Internacional de Proteína Animal, em São Paulo.

A empresa produz e exporta carne suína por meio de três unidades no Rio Grande do Sul, mas também atua em carne bovina, com a marca Agra, em Mato Grosso.

“São praticamente 80 mil matrizes, mais de um milhão de cabeças no campo, quatro fábricas de ração e temos a unidade de bovinos de Mato Grosso, que processa, mais ou menos, 800 cabeças por dia. E também focada na exportação”, conta Goulart.

Segundo o executivo, das 280 mil toneladas de carne suína que o Rio Grande do Sul exportou no ano passado, 104 mil foram da Alibem, o que seria 38% do volume.

Perguntado sobre o cenário para o setor em 2024, o CEO da Alibem afirmou que “é um ano de recuperação”.

Goulart lembrou que até 2021 os exportadores de suínos foram muito beneficiados pela peste suína na China “que deu um déficit e drenou toda a proteína animal para o mercado chinês”.

Depois disso, segundo ele, veio um ciclo mais difícil, que durou até 2023.

“Foi um período bem duro para a suinocultura mundial. A China perdendo (importando menos), porque ela recuperou o plantel e a produção. Estava comprando 500 mil toneladas por mês, e daqui a pouco ela passa a comprar 200, 150 mil”, explica.

Nesse cenário, a Europa, que colocava grandes volumes na China, acabou tendo um excedente, o que levou a uma redução de preços no mercado internacional, disse ele.

A situação foi pior porque no momento em que os chineses compraram menos os custos de produção no Brasil estavam muito altos.

“Nós tivemos 24 meses praticamente, ou mais, de prejuízo no setor, por isso preferimos a cautela. O mercado oscila demais, tem muitas variáveis, é câmbio, é sanidade, é clima, porque 82% (do custo) da carne suína é ração, e a ração é composta por milho e farelo, principalmente”, afirmou.

Novos mercados, incluindo Filipinas

A Alibem Alimentos projeta retomar faturamento e margens em 2024, acompanhando o que está ocorrendo com o mercado exportador de carne suína como um todo.

Em 2023, receita da empresa considerando as duas marcas – Alibem (suínos) e Agra (bovinos) foi de R$ 3,1 bilhões.

Para este ano, o CEO prevê alcançar R$ 3,4 bilhões, um patamar que a companhia já esteve próxima entre 2021 e 2022, por isso o sentimento de “recuperação”.

O melhor resultado, segundo o executivo, tem a ver com a recuperação dos preços internacionais da carne suína, com os custos em níveis mais baixos e, principalmente, com o acesso a novos mercados.

“Esse vai ser um ano positivo para o Brasil porque você tem um custo estável, tem um câmbio favorável e tem uma demanda externa boa”, ressaltou.

A Alibem é uma das beneficiadas pelo aumento nas exportações de carne suína do Brasil para as Filipinas.

Goulart lembra que o Rio Grande do Sul, desde maio de 2021, foi reconhecido como livre de febre aftosa sem vacinação pela Organização Mundial de Saúde animal. “Isso eleva status e possibilita abertura de novos mercados”.

Em junho deste ano, a empresa fez seu primeiro embarque para as Filipinas. No mercado, comenta-se que o país “é a nova China” já que as exportações brasileiras pra lá vêm crescendo, em meio a um problema semelhante de demanda maior do que a oferta local.

“Filipinas também tem o problema da peste suína africana, mas não tem a mesma capacidade que a China teve de se recuperar tão rapidamente”, explicou o executivo da Alibem.

Ele estima que haja um gap de cerca de 500 mil toneladas entre o que Filipinas produz e o que consome de carne suína, conforme dados do USDA, divulgados em abril deste ano. A empresa gaúcha, somente em julho, exportou 2 mil toneladas de carne suína para os filipinos.

O CEO também destaca a expectativa otimista em relação a mercados como República Dominicana e Chile.

As exportações brasileiras de carne suína registraram recorde em julho, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Foram embarcadas no mês 138,3 mil toneladas, número 31,4% superior ao registrado no mesmo período do ano passado, quando foram embarcadas 105,3 mil toneladas. A receita mensal também foi recorde, alcançando US$ 309,4 milhões, número 24,1% superior ao obtido no mesmo período do ano passado.

As Filipinas assumiram a primeira posição entre os importadores de carne suína do Brasil em julho. Ao todo, foram embarcadas 27,2 mil toneladas. Em segundo lugar ficou a China, que importou 19,7 mil toneladas, queda de 48,4% em relação ao mesmo mês de 2023.

Outro mercado importante tem sido o Japão, um país que os gaúchos ainda esperam conseguir habilitação para as exportações, segundo o CEO da Alibem. Ele acredita que com a menor exportação por parte da Europa, por ter reduzido sua produção, haverá boas oportunidades de expansão para o Brasil, que agora trabalha com uma diversificação bem maior de mercados compradores, sendo que um dos alvos para o próximo ano, além do Japão, é o México.

Em relação às enchentes ocorridas este ano no Rio Grande do Sul, a Alibem diz que não teve a produção afetada, já que seus frigoríficos ficam na região Noroeste no estado. “O problema se concentrou mais no Vale do Taquari, lá pegou algumas empresas, realmente, e também na região de Porto Alegre e lago Guaíba”.

O único impacto foi o aumento do custo logístico por alguns meses, já que alguns trajetos que levavam 6 horas antes da enchente, passaram a demandar o dobro do tempo.

Sobre a estratégia para seguir concorrendo com gigantes como BRF e Seara, o CEO da Alibem diz que “é trabalhar bem, com foco no mercado externo”.

Na visão do executivo, no mercado externo “é quase todo mundo igual”, diferente do interno, onde a competição é mais forte.

“O grande segredo de tudo é ter cautela, não aumentar muito a produção e criar um excedente que traz prejuízo, porque o ciclo é longo no suíno e é difícil de a gente equilibrar”, alertou.

Desta forma, ele prefere não falar em novos investimentos por enquanto, embora admita que, se o cenário se mantiver em crescimento em 2025, poderá avaliar eventual aumento em uma de suas unidades.