Castro (PR) - Em 2024, a Agroleite, um dos principais eventos das cadeias leiteiras do País, cresceu em número de expositores (330, 18%, acima de 2023), público (durante o evento a organização estimou 150 mil pessoas, 25% mais do que no ano passado) e volume de negócios (estimativa de R$ 300 milhões, crescimento de 80%).

Os números não são, entretanto, o maior indicativo de sucesso da feira realizada na colônia Castrolanda, próxima da cooperativa com o mesmo nome, localizada no município paranaense de Castro. Em sua 24ª edição, a marca deixou de ser utilizada apenas para designar a feira que movimenta o setor, mas também para abrigar o embrião de um parque tecnológico.

Organizadora do evento, a cooperativa Castrolanda assinou um memorando com o governador do Paraná, Ratinho Júnior, para criar ali o Parque Tecnológico Agroleite.

A ideia é construir, no terreno ao lado da feira, uma fazenda experimental e um centro de pesquisas sobre a cadeia produtiva do leite.

“O estado vai integrar essa estrutura à rede de parques tecnológicos do Paraná e às sete universidades estaduais, ajudando a circular o conhecimento”, afirmou o secretário estadual de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Jamil Abdanur Júnior.

“O Parque Tecnológico do Leite vai estimular o aumento da produtividade no campo, a melhoria da qualidade genética dos animais, a produção de um leite ainda mais nutritivo e novas tecnologias na produção de derivados”, disse o governador.

A criação de um parque tecnológico é um passo natural na evolução do Agroleite. Promovido no coração da maior bacia leiteira do país, com mais de 400 milhões de litros de leite produzidos anualmente – o Paraná é o segundo maior produtor do Brasil, com 15% do total, atrás apenas de Minas Gerais –, o evento funciona como um “quem é quem da pecuária” leiteira.

“O Agroleite é um espaço onde ouvimos demandas, identificamos oportunidades de negócios e compartilhamos nosso conhecimento e soluções com nossos clientes e parceiros, dialogando com todos os elos da cadeia, dentro e fora da porteira”, doz Pedro Sbardella, gerente de Marketing da multinacional de Sáude Animal Elanco.

“Acreditamos que é assim que se faz a união de todos os elos da cadeia da pecuária leiteira. Por isso, o Agroleite é importante para nós e está anualmente em nosso calendário de ações.”

“Quem trabalha com bovinos não tem como ficar fora. Quase a totalidade dos nossos clientes, fornecedores e produtores está aqui”, atesta Lucas Ghizzi, gerente de produtos e serviços técnicos da Phibro para bovinos de leite na América do Sul. “Se a gente tivesse que visitar todo esse pessoal que passou na feira, nas suas devidas localidades, gastaria muito mais tempo”.

A Agroleite não é uma feira com estandes convencionais que são desmontados assim que o evento acaba. Dos mais de 300 expositores, 35 ocupam casas em estilo holandês, feitas com cimento e tijolos, com aluguel permanente.

Além de servir como símbolo de status, na comparação com as estruturas provisórias, essas casas podem ser usadas o ano inteiro. Ou seja: o conceito de hub temático já estava ali antes do acordo com o governo paranaense.

Aliás, antes mesmo de organizadores se darem conta disso, confessa Gustavo Vigano, gerente do Agroleite 2024.

“No ano passado, a gente visitou vários parques tecnológicos: em Piracicaba, Guarapuava, Toledo, Foz do Iguaçu. Durante uma visita, alguém disse ‘pô, a gente precisa criar um parque tecnológico’”, recorda Vigano. “Foi quando Frans Borg [presidente da Castrolanda por 24 anos] respondeu: ‘a gente já tem esse parque’. Ali nasceu a ideia de transformar o Agroleite”.

Expositores do Agroleite com sede em outros estados, aproveitam seus estandes, durante o resto do ano, como um escritório no Paraná. Sediado em Minas Gerais, o grupo Semex Brasil mantém, desde 2017, um laboratório de fertilização in vitro. A fabricante de equipamentos para automação das ordenhas DeLaval Brasil, baseada em São Paulo, faz demonstrações técnicas e treinamento de equipe. A ABS, de Minas Gerais, também.

Vale o investimento?

Ocupar um espaço na Agroleite é, de certa forma, parecido com abrir um escritório no Vale do Silício: um investimento que se paga sozinho, dependendo do produto e da maturidade da empresa.

Não é para todo mundo – mas só há uma forma de descobrir. Estreante no Agroleite, a Rekapar, recapeadora de pneus com seis anos de mercado, decidiu experimentar – e não tem certeza se valeu a pena erguer um estande de lona, com 100 metros quadrados.

“Entre aluguel do espaço, decoração, brindes e funcionários, nós gastamos R$ 30 mil. Para uma empresa com produtos de valor agregado relativamente baixo, como o nosso, o retorno viria depois de fechar 50 negócios”, diz Toniel Basso, sócio da empresa.

“A visibilidade aqui é grande e pode render negócios ao longo do ano. Mas o retorno financeiro, durante o evento, a gente não viu”, diz Jocemara Basso, sócia. “Nós já vendemos mais durante eventos menores, como rodeios e festas de igreja”.

Quem está lá há mais tempo e instalado nas casas da chamada “Cidade do Leite” tem outra visão. A Phibro, por exemplo, chegou a ficar alguns anos na fila até conseguir a sua, um imóvel com cerca de 130 metros quadrados, mas garante que a espera compensou. “A estrutura nos permite receber nossos convidados em outro nível”, afirma Ghizzi.