No Jardim Paulista, área nobre da zona sul de São Paulo, a marca mineira Tânia Bulhões reinaugurou, no primeiro semestre do ano passado, a sua loja conceito.
Instalada em um casarão suntuoso com área de 2.100 metros quadrados, entre jardins, objetos decorativos de luxo e fragrâncias de perfume sofisticados, está também o Leila Restaurante, uma homenagem da fundadora às suas raízes no agronegócio.
Sob a batuta do chef Pedro Franco, o local é uma homenagem de Tânia à avó e às memórias da infância passadas na fazenda da família no interior de Minas Gerais.
Segue, também, uma tendência que tem se espalhado pelo varejo de luxo em vários pontos do mundo: a junção entre grifes e a gastronomia.
Mais do que diversificar, a estratégia passa por prolongar a experiência do cliente de alto padrão no estabelecimento, fazendo com que o consumo de itens indiretos - como cafés, doces e refeições - se tornem parte da experiência de consumo e se revertam em ganhos para as empresas.
Comandadas por nomes reconhecidos do mundo da gastronomia, as cozinhas dos restaurantes de grife têm um estreito relacionamento com o campo.
Isso porque o cuidado com a origem dos ingredientes e o relacionamento com produtores e fornecedores locais são estratégicos para atender a um público de altíssimo padrão.
No caso do Leila, o cardápio é uma combinação pouco provável da cozinha francesa com a culinária mineira e muitos dos ingredientes usados na cozinha são produzidos na fazenda da empresária.
É o caso da mandioca usada em uma das entradas. Outros itens do cardápio rememoram a origem da marca, como a galinhada mineira e a costelinha de porco.
A relação estreita entre a marca e o campo pode ser percebida na oferta de produtos. Além do menu principal, o restaurante conta ainda com uma carta de queijos, que informa não só a variedade do produto, mas também a fazenda, região onde foi produzido e o nome do produtor.
Ali constam queijos feitos com leite de vaca e búfala e cabra produzidos em pequenas propriedades do interior de São Paulo e Minas Gerais.
Café e glamour
Em Nova York, depois de gastar alguns milhares de dólares em uma jóia da Tiffany, por exemplo, os clientes podem saciar a fome tomando um brunch no Blue Box Café.
O local, elegantemente decorado nos tons de azul que levam o nome da grife, serve cafés, almoços e chás da tarde no melhor estilo Bonequinha de Luxo, o clássico filme estrelado pela atriz Audrey Hepburn.
O menu de inspiração francesa foi cuidadosamente elaborado pelo premiado chef Daniel Boulud, que ostenta em seu currículo nada menos que uma estrela Michelin e uma dezena de restaurantes de sucesso.
Entre os pratos oferecidos aos clientes em um luxuoso anexo à loja da marca na Quinta Avenida estão croissants, madeleines, além de ovos mexidos com caviar.
A icônica marca foi adquirida em 2021 pelo gigante LVMH por US$ 16 bilhões. A empresa é a mais valiosa da França e não é para menos. Entre as 75 empresas do portfólio estão algumas das mais badaladas marcas de luxo como Louis Vuitton, Givenchy, Marc Jacobs, Fendi e Christian Dior.
Ao que parece, a investida do grupo no setor de alimentos não é apenas tendência passageira de uma única estação.
Desde 2019 o grupo mantém em Miami, na Flórida, o café Dior. O espaço está localizado na cobertura de uma das principais lojas da marca, dentro do Miami Design District. Ali, é possível tomar um café ou cappuccino decorado com a logomarca da grife.
Não é de hoje que o grupo LVMH investe em negócios voltados para alimentação. No campo, a atuação do grupo está relacionada à produção de champanhes e espumantes.
A holding é proprietária da icônica Dom Pérignon Champagne e tem negócios agrícolas no Brasil, onde é proprietária da vinícola Chandon e de 300 hectares de vinhedos, ambos no Rio Grande do Sul.
A vinícola foi a primeira do Brasil a receber o selo de vitivinicultura sustentável Produção Integrada de Uvas Para Processamento (PIUP), uma certificação de boas práticas agrícolas e manejo sustentável.
Império da moda e da gastronomia
A poucos quilômetros da Blue Box Café da Tiffanys está a Ralph's Coffee, uma das cafeterias da grife norte-americana Ralph Lauren.
A marca, que reportou receita de US$ 6,6 bilhões em 2024, investe no segmento desde 2014 e conta com cinco unidades nos Estados Unidos, além de lojas na Europa e na Ásia.
A empresa não divulga o percentual de participação do segmento alimentício dentro dos negócios, mas somente em 2024 outras três unidades da Ralph's Coffee foram inauguradas em Paris, Shenzen na China e Dubai.
No menu, o cliente encontra uma seleção de cafés especiais com cultivo orgânico produzidos na África, América Central e América do Sul.
Os grãos são importados, torrados e embalados pela La Colombe, uma torrefadora da Philadelphia com expertise em fornecer cafés especiais para restaurantes, hotéis e empresas.
Os visitantes também podem continuar a experiência em casa ao adquirirem embalagens de café em três opções: Ralph's Roast, Espresso e Decaf.
Outras marcas seguem investindo na conexão entre moda e gastronomia. O intuito é atrair não só o cliente que compra os produtos da marca, mas também tornar a experiência com a marca acessível para outros públicos. Ao que parece, a receita vem dando certo.
No final de 2023 a Chanel inaugurou, no bairro novaiorquino do Brooklyn, o restaurante pop-up Lucky Chance Diner para divulgar o lançamento de seu perfume Chance Eau Fraîche Eau de Parfum. A abertura aconteceu durante a semana de moda de Nova York, atraindo fashionistas e admiradores da grife.
Na Toscana, região famosa pela produção de vinhos, o grupo Prada adquiriu o Caffè Principe em 2022. Após meses de reforma, a loja foi reaberta em julho de 2023 sob a tutela da Marchesi 1824, marca bicentenária de confeitaria de luxo que foi adquirida pelo grupo em 2014.
Com um misto de loja, café e galeria de arte, desde 2019 a St. Laurent mantém duas unidades de loja conceito, uma em Paris, na França, e outra em Los Angeles (EUA). Armani e Louis Vuitton também seguem na mesma direção, ampliando o intercâmbio entre moda e gastronomia.