Na administradora de consórcios Ademicon, a colheita tem sido cada vez mais fértil. Se no final de 2023, a empresa preparava o terreno com um olhar estratégico no setor agro em 2024, que envolvia participação em feiras agrícolas e um contato mais próximo com as filiais em estados de grande produção, agora no início de 2025, a safra mostra os frutos do trabalho.
Segundo revelou ao AgFeed o vice-presidente executivo da companhia, Guilherme Carrasco, a companhia somou no ano passado quase R$ 3 bilhões em créditos comercializados no setor, um avanço de 50% frente ao ano de 2023.
Para este ano, a projeção é de avançar 30%, atingindo um patamar próximo aos R$ 4 bilhões. O número contempla consórcios próprios da empresa e também parcerias com empresas como New Holland, de máquinas e implementos agrícolas, e Iveco, de caminhões. Cada uma trouxe cerca de R$ 1 bilhão ao resultado.
O número ainda é uma pequena parcela frente aos R$ 27,3 bilhões de créditos comercializados totais pela Ademicon em 2024, mas vem ganhando uma atenção especial da empresa.
De acordo com Carrasco, a empresa quer se posicionar como uma alternativa de financiamento em momentos de alta de juros. Isso porque o encargo durante um processo de consórcio se restringe apenas à taxa de administração, sem nenhuma relação com a taxa Selic, que está em 13,25% hoje e deve ficar em 15% ao ano nos próximos meses.
“No agro, existe ainda um Plano Safra com poucos recursos para investimentos. Hoje existe uma carência no campo nesse tipo de linha de financiamento e estrutura, e o consórcio vai de encontro a essa necessidade”, disse o vice-presidente executivo da Ademicon.
Diante do crédito escasso, Carrasco conta que a empresa viu que poderia adaptar produtos tradicionais de consórcio, como de imóveis, por exemplo, ao agro.
“Já tínhamos uma entrada forte no agro com as marcas parceiras (New Holland e Iveco), mas vimos que poderíamos ir além do maquinário”. Hoje, máquinas de grande porte (agrícolas ou não) e caminhões somam 20% das vendas da Ademicon e 30% da receita, estima Carrasco.
Com isso, surgiu a ideia de oferecer ao produtor rural, consórcios que o permitam construir silos, galpões, aviários, granjas e até sistemas de irrigação. Hoje o foco da empresa está em pequenos e médios produtores, principalmente pela demanda nesse tipo de investimento e pela menor gama de alternativas de financiamentos tradicionais.
Carrasco vê que esse produtor, sem esse tipo de estrutura de silagem e logística, fica refém do preço do grão na hora da colheita. Sem silagem, a armazenagem geralmente acontece em tradings ou cooperativas, que na disputa de espaço, faz com que ele trave o preço no timing dos outros. “Até atendemos grandes produtores, mas este já tem mais acesso ao crédito. Os outros têm mais lacunas a serem preenchidas”.
Carrasco, que ao longo da carreira já atuou no agro como head of finance da Agrogalaxy entre 2017 e 2018, acredita que há espaço para posicionar o consórcio como um parceiro das novas gerações que estão assumindo propriedades pelo Brasil, com mais apetite tecnológico.
Ele cita que hoje a companhia oferece a possibilidade de adquirir também drones de pulverização e equipamentos de telemetria via consórcios.
“Queremos ajudar o produtor que fica refém de pagar juros exorbitantes ou que em alguns momentos não tem acesso ao crédito, pagando uma fração do custo de financiamento”, afirmou o vice-presidente.
Enquanto bancos estão reforçando a esteira de crédito para viabilizar financiamentos com o máximo de garantias possível, Carrasco acredita que o próprio modelo de consórcio, de um pagamento mensal até o recebimento do bem ou do recurso, já faz o papel de análise de crédito.
Ele cita que, até a contemplação, o consorciado é um investidor, e que além das garantias reais que são colocadas no contrato, o acompanhamento dos pagamentos consegue dar um perfil do cliente.
Carrasco aposta na expertise da empresa, que diferente dos bancos tradicionais que oferecem diversas linhas de financiamento, a Ademicon possui apenas a linha de consórcios.
A companhia acumula 30 anos de atuação considerando as operações da Ademilar e da Conseg, que deram origem à marca Ademicon em 2020.
A Ademilar é da família Schuchovsky, da atual CEO Tatiana Schuchovsky. Já do lado da Conseg, os acionistas são a gestora Treecorp e o empresário Jefferson Maciel. A companhia ainda conta com a gestora 23S como acionista.
Hoje a Ademicon possui 230 unidades espalhadas pelo País. No ano passado, a fim de estreitar a relação com o campo, a empresa promoveu uma série de treinamentos e capacitações para deixar sua força de vendas, que soma mais de 8 mil pessoas, mais a par do setor.
Nas feiras agrícolas, a Ademicon entra como um professor, mostrando para os produtores que é possível realizar consórcios fora do óbvio de veículos e fazendas. “O produtor rural conhece a gente pelos consórcios com parceiros, mas quando mostramos que existem outras opções de financiamento eles se surpreendem”.