Cabeceiras (GO) - “O IPO serviu para focarmos na soja. Hoje, com o follow-on, continuamos com esse foco, enquanto agregamos tecnologia e diversificamos os produtos”. Foi com essa frase que Marino Colpo, CEO da Boa Safra, resumiu o presente, o passado e o futuro da empresa.

Há menos de três meses a companhia captou R$ 300 milhões com uma nova emissão de ações na B3. Mais capitalizada, a Boa Safra agora começa a dar seus primeiros passos rumo ao novo momento do negócio.

Colpo disse ao AgFeed que um dos primeiros novos investimentos da empresa será feito em um laboratório para desenvolver técnicas de tratamento de sementes com produtos biológicos.

Hoje, a empresa trata seus produtos com defensivos químicos, mas o CEO já havia revelado ao AgFeed, em novembro do ano passado, que estava testando o uso de biológicos nas sementes.

“A gente vê um futuro onde as sementes possuem um revestimento biológico, que consiga inserir bactérias e organismos vivos no solo. Isso deve trazer efeitos até no longo prazo, principalmente para diminuir a dependência do químico”, afirmou o CEO, que desta vez conversou com o AgFeed durante um evento da Boa Safra para clientes e parceiros, em sua unidade de beneficiamento de sementes em Cabeceiras (GO).

O mercado de biológicos tem crescido a passos largos no Brasil, com a promessa de maior eficácia no controle de pragas e doenças, custos mais baixos, uso racional de diferentes insumos e menor impacto ao meio ambiente, se comparado às soluções químicas.

Segundo Colpo, a companhia contratou uma especialista em biológicos para montar uma equipe e desenvolver um protocolo. Neste ano, o próximo passo é colocar o laboratório de pé.

O executivo afirma que o orçamento final ainda não foi definido, mas além da construção do laboratório, que deve ficar ou em Cabeceiras ou em Formosa, também no estado, vai envolver também a compra de alguns hectares para testes no campo.

Nas próximas semanas, Colpo e parte da equipe da Boa Safra irão conhecer alguns laboratórios do tipo nos EUA, para refinar ainda mais o projeto goiano.

Ele estima que, assim que tiver as obras iniciadas, o laboratório deve ficar pronto em seis meses. “Somos rápidos em obras. Hoje, fazemos Centros de Distribuição (CDs) em 108 dias”, comentou.

Marino Colpo ainda disse que o projeto deve incluir sistemas de irrigação moderno, tanto no campo quanto nas estufas de teste. “Esse é um investimento que é parte do novo momento da empresa”, disse.

Na última entrevista, o CEO da Boa Safra Sementes havia adiantado que via com bons olhos o caráter "preventivo" dos biológicos, uma oportunidade considerando o crescente uso de sementes tratadas (TSI).

Segundo Colpo, a maior dificuldade é descobrir os organismos mais efetivos para o tratamento de sementes.

“Os biológicos são um novo mundo, e envolvem moléculas que vão desde enraizadores poderosos, revitalizadores de solo, produtos que aumentam atividade bacteriana e até para estresse hídrico e controle de nematoides. Com tanta coisa oferecida, o produtor fica até um pouco perdido, na nossa visão”, afirmou.

O laboratório servirá para dar tração aos testes que já vem sendo feitos, e a ideia do CEO é utilizar a boa reputação da Boa Safra para vender os produtos mais bem avaliados.

“A gente acredita que o principal ativo da Boa Safra é a confiança. Talvez o grande segredo para o biológico funcionar é você facilitar o acesso, na ponta do produtor”.

Na safra passada, um terço das sementes da Boa Safra chegava aos produtores com algum tipo de tratamento, o que traz mais dois terços de oportunidade para a companhia crescer nesse segmento.

Estratégia alinhada com o avanço dos CDs

A estratégia de distribuição também é parte fundamental para que essa diversificação de negócios funcione.

Colpo cita que os CDs da companhia possuem toda a estrutura de beneficiamento de sementes, e como os biológicos demandam uma logística apertada por conta do shelf life (o tempo de validade dos compostos), aumenta a necessidade de proximidade ao produtor.

A ideia é que uma semente tratada com biológicos esteja, no máximo, em 40 dias no solo das lavouras, segundo o executivo. “A semente será tratada na semana do embarque”.

A empresa deve também colocar o pé no acelerador quando o assunto são os CDs. Em abril deste ano, anunciou a compra de terrenos para mais dois centros no Mato Grosso, um em Ribeirão Cascalheiras e outro em Campo Novo do Parecis.

Com o término das obras previsto para agosto, Colpo revelou, sem citar localidades, que a empresa deve construir mais um CD ainda em 2024. “A ideia é três centros de distribuição por ano. Fizemos o follow-on para acelerar, e muito, a construção de CDs”.

Nos últimos anos, a Boa Safra havia construído um centro por ano.

Sem perder foco nos outros negócios

Além da estratégia de proximidade ao produtor e de diversificação tecnológica, o core business da Boa Safra - a venda de sementes, principalmente de soja -, não para.

Ao final do primeiro trimestre deste ano, a empresa pontuou que encerrou o período com R$ 1 bilhão em sua carteira de pedidos. Além de ser um recorde para um primeiro trimestre, o volume de pedidos do período corresponde a cerca de dois terços do total do ano anterior.

Na visão de Colpo, a comercialização avançou ainda mais nos últimos meses, e projetou que a área de soja plantada no País na safra que se inicia está crescendo.

A empresa tem reforçado sua aposta em outros grãos. Quando a Boa Safra abriu seu capital em 2021, era uma empresa 100% dedicada à soja. Hoje, cerca de 6% do faturamento, que em 2023 bateu recorde e atingiu R$ 2 bilhões, está dividido entre sementes de milho, trigo, sorgo, feijão e forrageira.

“Queremos ampliar a oferta de sementes desses outros grãos”. O milho, inclusive, é uma das prioridades da empresa, conforme explicou Felipe Marques, CFO da Boa Safra, em uma entrevista recente ao AgFeed.

Ele relembrou que, enquanto a área de soja plantada no País é de cerca de 44 milhões de hectares, o milho geralmente ocupa 22 milhões de hectares, sendo a principal cultura de segunda safra do País.

"Isso, por si só, já coloca o cereal como uma cultura que olhamos e que desperta interesse da Boa Safra do ponto de vista de ganho de escala pelo tamanho do cultivo", afirmou.

A empresa também olha oportunidades de aquisição. Marino Colpo já chegou a dizer no passado que a Boa Safra possui uma meta de “uma aquisição por ano”. O comentário foi feito pouco depois da compra da Dasoja Sementes, em 2023.

No ano anterior, houve uma das principais aquisições da companhia, quando assumiu 66% do controle da Bestway Seeds do Brasil, por R$ 35 milhões. Qual será a compra de 2024?

É o que o mercado quer saber, com especulações inclusive sobre uma possível aquisição do negócio de sementes da Agrogalaxy, empresa que já manifestou interesse em vender o ativo. Mas os executivos da Boa Safra não comentam o assunto.