A expansão do volume de produção agrícola no Brasil gera um efeito colateral nem sempre percebido pela maioria das pessoas: a expansão da quantidade de embalagens de defensivos que ficam para trás.

Seria um imenso problema ambiental se, há mais de duas décadas, o País não tivesse criado um dos mais bem-sucedidos programas voltados a recolher e reciclar esses recipientes.

Hoje, segundo o Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV), 94% dos recipientes vão para reciclagem ou incineração. Foram destinadas 754 mil toneladas de embalagens desde 2002, resultando na não-geração de 1,05 milhões de toneladas de CO2 equivalente de emissões de gases do efeito estufa de lá para cá.

Além do benefício ambiental, a política de reciclagem do setor gerou a criação de um vitorioso case de economia circular, com a geração de novos negócios e, consequentemente, empregos.

O maior destaque nesse círculo é a Campo Limpo, empresa criada em 2008 e que tem seu controle acionário dividido entre 26 fabricantes de defensivos agrícolas – como Syngenta, FMC, UPL, Ourofino, entre outras.

A companhia foi a primeira no mundo a produzir novas embalagens de defensivos a partir de produtos já consumidos, processo que foi patenteado junto ao INPI. No ano passado, faturou cerca de R$ 400 milhões, cifra que deve repetir este ano.

Mas para 2025, os planos de crescimento já estão definidos. A empresa vai investir cerca de R$ 20 milhões para construir uma planta de resina – que faz o processamento das embalagens recebidas e transforma o plástico em matéria prima para a produção de novos invólucros.

A unidade industrial será implantada em Taubaté, no interior de São Paulo, e vai se somar às plantas de resina, embalagens e tampas que a empresa já possui na cidade. A Campo Limpo também tem uma outra fábrica, em Ribeirão Preto, que produz somente embalagens.

A fábrica, que será erguida com recursos próprios, deve entrar em operação em 2026, gerando 40 empregos diretos - hoje são 420, somando suas quatro unidades industriais.

“O volume de embalagem no mercado brasileiro tem aumentado bastante. Neste ano, nós tivemos um aumento de quase 10 mil toneladas a mais de embalagens que nós recebemos”, explica Marcelo Okamura, CEO da empresa, em entrevista ao AgFeed.

"Nós estamos nos preparando. Como o mercado está crescendo, ele também precisa de mais embalagens, de mais tampas. Nós precisamos ter esse material, essa resina, para que a gente possa aumentar nossa produção e possa ter um melhor ganho de escala", acrescenta.

Por ano, a Campo Limpo produz 13 milhões de embalagens novas. A capacidade de processamento de plástico no momento é de 20 mil toneladas/ano e, com a nova unidade, deve crescer para um número entre 30 a 32 mil toneladas/ano, segundo Okamura.

A Campo Limpo tem como clientes grandes empresas como Bayer, Basf, Syngenta e Corteva.

"Em 2025, nós pretendemos ter 7% a 8% de aumento de faturamento e, em 2026, de 6% a 10% de (expansão no faturamento), já com a nova planta produzindo", afirma Okamura.

Logística reversa

O sistema de logística reversa no qual a Campo Limpo está inserida é decorrente da Lei dos Agroquímicos, sancionada em 2000 pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que indicava que as empresas produtoras e comercializadoras de agrotóxicos devem ser responsáveis pela destinação dos invólucros vazios.

Logo após, em 2001, foi criado o inpEV, uma entidade sem fins lucrativos composta pelas gigantes do mercado de defensivos agrícolas, que gerencia o Sistema Campo Limpo, programa de logística reversa responsável pelo recolhimento dessas embalagens usadas e encaminhamento para as indústrias de reciclagem.

São 416 unidades de recebimento de embalagens, espalhadas por todos os Estados brasileiros - divididas entre 316 pontos de coleta e 100 centrais.

"O ponto recebe a embalagem do agricultor e as centrais processam essas embalagens, (fazendo a lavagem), segregam, classificam e prensam para otimizar a logística reversa, para que esse transporte seja mais viável economicamente", explica Okamura, que também é o presidente do inpEV.

Os materiais são transportados de caminhão até a fábrica da Campo Limpo, o que vem se tornando um gargalo de custos logísticos conforme as fronteiras agrícolas do País vão se expandindo, segundo Okamura.

"Para você buscar cada litro, cada bombona, no Pará, no Norte do Mato Grosso, no Tocantins, a logística encarece. Esse é um grande desafio que nós temos: trazer todas as embalagens para serem processadas novamente", afirma.

As embalagens de polietileno brancas são destinadas à Campo Limpo, enquanto que as embalagens coloridas vão para outras empresas recicladoras, que produzem outros materiais como canos de drenagem e esgoto. O que não pode ser reciclado vai para a incineração.