Com projetos para marcas como Ambev, Dengo, Cargill, Gerdau e até a Embrapa, a startup ManejeBem, que atua apoiando empresas a atingirem suas metas ESG ao mesmo tempo em que contribuem para o desenvolvimento de comunidades agrícolas vulneráveis, já tinha um portfólio de respeito para apresentar.
Mas nada que se comparasse ao que viveu em 2023, quando um novo cliente chegou para, de uma só vez, alavancá-la a outro patamar, validando suas tecnologias e se consolidar como uma empresa capaz de estruturar e executar grandes projetos.
“Evoluímos nossa metodologia de atendimento aos produtores, e passamos por um momento de consolidação de que podemos fazer o mesmo serviço em escala”, contou Juliane Blainski, CEO da ManejeBem, ao AgFeed.
Tudo isso, no ano passado, foi impulsionado por um projeto elaborado com a maior mineradora brasileira, a Vale, envolvendo 20 municípios no Pará e alcançando cerca de 10 mil pequenos produtores rurais impactados.
Como resultado, ajudou a startup a aumentar em 2,5 vezes a sua receitam multiplicar por três o número de pessoas impactadas por suas ações e permitir a Blainski sonhar com a meta de chegar a 1 milhão de beneficiados, direta ou indiretamente e de forma simultânea, ao fim de 2024.
“Temos projetos interessantes que estão finalizando as negociações”, afirmou Blainski, fundadora da empresa ao lado da atual COO, Carol Pimenta.
A atuação da ManejeBem se dá em duas frentes. Com empresas da agroindústria, consegue mensurar as práticas feitas pelos fornecedores de matérias primas para essas companhias, bem como prestar uma espécie de consultoria e fornecer dados a essas indústrias. Do lado dos pequenos produtores, ajuda-os por meio da divulgação de conhecimentos de manejo e práticas sustentáveis.
Juntando as duas frentes, a ManejeBem propõe ajudar grandes corporações a relacionar-se com produtores familiares fornecedores de matérias-primas das mesmas. A startup atua estruturando cadeias produtivas e trabalhando para que práticas ESG sejam devidamente aplicadas, rastreadas e monitoradas.
Na ponta da agricultura familiar, a empresa desenvolveu o ManejeChat, uma plataforma onde os produtores informam seus dados socioeconômicos, agronômicos e ambientais. Esses inputs são usados para elaborar ações estratégicas de desenvolvimento e monitoramento.
Na ponta da empresa, a ManejeBem fornece um score de sustentabilidade, que monitora o impacto socioambiental no entorno dessa companhia ao longo do tempo.
Esse score considera os dados levantados na comunidade e combina com metodologias próprias baseadas no Barômetro da Sustentabilidade, criado pela União Internacional para Conservação da Natureza (UICN).
Blainski explica que até o final de 2022, a empresa tinha, contando todos os projetos simultâneos, pouco mais de 3,5 mil produtores em sua base de atendimento, um terço do projeto inteiro da Vale, em que as famílias se alternavam no cultivo de mandioca, gado de leite, gado de corte e hortaliças.
Desde a criação da startup, já foram 35 projetos executados. Hoje, são 19 em execução simultânea distribuídos em 210 municípios em 17 estados do País.
De acordo com a executiva, a ferramenta ManejeChat já atendeu 60 mil produtores. Na métrica da startup, o impacto em termos de pessoas, que inclui vizinhos e familiares, pode multiplicar o valor vezes sete, o que traria 420 mil pessoas impactadas por projetos estruturados pela empresa.
“No nosso site também temos um projeto aberto com uma espécie de ‘plantão’ agronômico gratuito. Lá temos conteúdos educativos sobre as principais culturas do agro e orientações para combater problemas. Lá já batemos 5 milhões de usuários”, acrescenta.
Blainski vê, agora, uma oportunidade para a startup extrapolar o agro. “Podemos trabalhar em outras frentes, medindo impactos sócio-ambientais em comunidades não só rurais. Já fomos consultados por construtoras para medir a sustentabilidade do entorno e dos trabalhadores de uma obra”, afirmou.
“Há possibilidade de aumentar o escopo sem fugir do propósito inicial, que é a geração de um impacto socioambiental positivo”, conclui.
Para além de novos grandes projetos com novos clientes, a startup quer melhorar suas próprias tecnologias utilizando IA e também mais bancos de dados sobre comunidades. A ideia, segundo a CEO, é ter um diagnóstico mais amplo, com informações regionais importantes.
Blainski ainda contou que a empresa pode criar uma nova vertical de negócios, vendendo essas soluções como produtos de prateleira. “Podemos empacotar todos esses dados e vender nossa tecnologia para outras empresas de consultoria ESG, por exemplo, estruturarem outros projetos”, diz.
Essa estratégia foi desenvolvida em virtude de os grandes projetos que a empresa executa demandarem muita atenção e pessoal. Com a ferramenta sendo disponibilizada para um terceiro, a startup pode se dedicar mais à sua estratégia principal e, ao mesmo tempo, ampliar o alcance de sua ferramenta.
Com essa perspectiva de ganhar escala, a empresa prepara terreno para uma nova captação de recursos em 2025.
Em 2021, numa rodada pré-seed, a ManejeBem captou R$ 1,2 milhão numa rodada que envolveu a BossaNova Investimentos e a Agroven.
Para além do recurso financeiro, a executiva frisa que os contatos feitos a partir desses investidores e as dicas dadas, o chamado smart money, foram fundamentais para encurtar ciclos de venda da empresa.
Blainski ainda declarou que a ManejeBem entrou neste ano para o Cubo, hub de inovação e startups do banco Itaú.