Foi durante um curso de empreendedores em Harvard, em 2019, que o empresário rural Carlos Pellicer, atual líder global de inovação da indiana UPL, e o piloto de automobilismo Lucas di Grassi se conheceram e decidiram se unir com foco na sustentabilidade.

Lá descobriram um objetivo em comum: criar uma grande rede de empresas e executivos que pudesse ajudar o Brasil a zerar as emissões de carbono até 2050, uma meta da ONU. E a agropecuária teria papel fundamental neste processo, deixando de ser vista como problema, para contribuir como solução no sequestro de carbono.

A primeira etapa foi criar o Zero Summit, série de eventos que reúne líderes para discutir o futuro com zero carbono baseado primeiramente em temas como mobilidade, liderado por Lucas di Grassi, energia renovável, que ficou com o empresário Rodrigo Pedroso e o segmento agro, área de Carlos Pellicer, produtor rural e executivo da UPL, uma multinacional indiana de agroquímicos que vem crescendo no mercado brasileiro.

Já foram realizados quatro eventos do Zero Summit, sendo os dois últimos anos de forma presencial. O destaque da edição de 2023 foi o lançamento da “Turningpoint Alliance”, em março, quando o Planetário do Ibirapuera, em São Paulo, ficou repleto de CEOs e executivos de multinacionais.

A aliança tem como objetivo construir uma plataforma global para reunir profissionais de empresas e instituições de pesquisa interessados em disseminar e investir financeiramente nas opções tecnológicas que viabilizem a descarbonização.

A inspiração está no LinkedIn. A plataforma pretende ser, no entanto, ainda mais específica e profissional, focada na discussão de projetos de descarbonização, com a agropecuária em destaque.

A CEO da Turningpoint Alliance é a brasileira Paula Pinto, que hoje mora em Nova York e já liderou projetos de sustentabilidade como executiva de empresas como UPL e Arysta, de agroquímicos.

Ela explica que o projeto tem três pilares: o primeiro é o ecossistema tecnológico, para disseminar o uso destas tecnologias que ajudem empresas e governos a mitigar ou zerar emissões; o segundo é aumentar a utilização dos créditos de carbono; e o terceiro é a comunicação, em que se encaixa a plataforma global.

"O que vai trazer a transformação que estamos propondo é a tecnologia", afirmou Carlos Pellicer ao AgFeed. Segundo ele, as soluções que estão sendo estudadas e compartilhadas em cada uma das áreas do Zero Summit são totalmente integradas. "O agro, por exemplo, é fundamental na energia renovável", afirma.

A Turningpoint Alliance pertence 50% ao Zero Summit – que tem Pellicer, Di Grassi e Pedroso como sócios. A outra metade é financiada pela Vidavo Ventures, gestora de venture capital com atuação global que investe em companhias engajadas no que chamam de “próxima revolução agroindustrial”, aliando produtividade com zero emissões de carbono.

O grupo segue buscando o apoio de investidores do Brasil e do exterior. "A plataforma precisa estar pronta até março de 2024 e até lá pretendemos reunir US$ 25 milhões para viabilizar essa primeira onda”, disse Carlos Pellicer.

O executivo ressalta que o projeto não tem metas de ganho financeiro e que o mais importante é o comprometimento de agentes relevantes para que o objetivo principal de zerar as emissões seja alcançado.

Um dos objetivos centrais, porém, é criar um mercado de carbono global “que valorize mais a árvore em pé do que deitada", como costuma repetir Pellicer. Ele lembra que acordos formais, com certificação internacional para créditos de carbono no Brasil, como um recente feito entre Grupo Algar e Vale, precificou em US$ 10 a tonelada de carbono.

“Sabemos que nos Estados Unidos vale US$300 e que na Europa são 100 euros por tonelada, isso precisa mudar”, ressalta. Para Pellicer, se o valor no Brasil chegasse a US$ 40 por tonelada, isso seria suficiente para frear de vez o desmatamento.

Inspiração de Davos

A CEO Paula Pinto explica que a aliança quer facilitar a formação de um consórcio de compradores e vendedores, para que haja preço competitivo ao agricultor. "Muitas empresas têm dificuldade enorme de descarbonizar, elas precisam destes produtores que estão adotando práticas de agricultura regenerativa, por exemplo. Queremos que este encontro aconteça", explica.

A Turningpoint Alliance foi lançada com 15 cofundadores e, segundo Paula Pinto, já representa 10 milhões de acres cultivados e 15 milhões de toneladas de produtos da pecuária. Entre os participantes que já assinaram o compromisso estão SLC, Grupo Scheffer, Minerva Foods, Bom Futuro, Open Ag Farm, Basf e Embrapa.

O "Linkedin” da aliança só deve estar 100% operacional no início do ano que vem. Na primeira fase será restrito a líderes, influenciadores, envolvendo a comunidade científica e empresarial. Somente mais adiante será aberto para o público em geral.

“Queremos criar o ‘World Carbon Forum’, nos moldes do Fórum Econômico Mundial de Davos. Lá sabemos que são 3 mil líderes diretamente envolvidos, somente depois desdobra para os grupos regionais. Por isso não estamos preocupados em ter milhões de usuários na plataforma no início, somente mais adiante", afirma Pellicer.