Adotar práticas mais sustentáveis é tendência inquestionável na agricultura brasileira. O esforço envolve não apenas produtores preocupados com o meio ambiente e a sustentabilidade do negócio, mas também as grandes empresas globais da cadeia, que adotaram metas de descarbonização.

Esse cenário vem favorecendo alianças entre os diferentes elos, como tradings e produtores de insumos, mas muitas vezes resulta na incerteza, por parte do produtor, sobre quais serão as recompensas ao final de tanto esforço.

A Brandt, fabricante americana de insumos biológicos, nutrição e adjuvantes, que está há nove anos no Brasil, está lançando o chamado programa "Brandt Revitalis", com o objetivo de promover a adoção da agricultura regenerativa e sustentável na cadeia agropecuária.

Em entrevista ao AgFeed, o diretor de marketing e área técnica da Brandt Brasil, Flavio Cotrin, disse que nos primeiros anos no País a empresa buscou estruturar uma plataforma básica e estabelecer parcerias de distribuição e acesso a clientes.

“Agora entramos na fase da introdução de uma segunda geração de portfólio, para os próximos cinco anos, uma etapa muito voltada para a agricultura regenerativa e para os biológicos,”, explicou.

Muitas tecnologias estão sendo trazidas dos Estados Unidos, onde a empresa atua há 70 anos. Elas vão passar por um processo de tropicalização, segundo ele, e serão produzidas na nova fábrica que a Brandt está construindo no Brasil, com investimento de R$ 130 milhões.

Com foco em biopesticidas e inoculantes, a empresa espera dar suporte para que os produtores avancem na agricultura regenerativa, mas sabia que não bastava só isso. Era necessária uma “recompensa” ao agricultor.

“São tecnologias e soluções que ajudam a também remover carbono da atmosfera, em culturas como soja e milho, principalmente, mas, para que o produtor tenha acesso a certificações, são processos complexos”, ponderou Cotrin.

É neste aspecto que surgiu o “casamento” da Brandt com a MyCarbon, uma subsidiária da Minerva Foods que desenvolve e comercializa créditos de carbono de acordo com os padrões internacionais.

As duas empresas fecharam uma parceria, que não envolve nenhum pagamento entre elas, mas uma ajuda mútua para ampliar sua área de atuação e, ao mesmo tempo, dar mais opções aos clientes.

“Os biológicos têm uma capacidade de estoque de carbono no solo muito maior do que se você estivesse usando um químico, por isso buscamos incentivar o uso de biológicos dentro de um projeto do carbono”, explicou a CEO da MyCarbon, Marta Giannichi, que também conversou com o AgFeed.

A MyCarbon já vem mensurando a captura de carbono em pelo menos 40 mil hectares de grãos no Brasil, com meta de chegar a 500 mil hectares nos próximos 10 anos. É um projeto que ocorre em paralelo a iniciativa semelhante nas áreas de pecuária, que está no DNA da controladora Minerva.

Os primeiros créditos de carbono gerados pela remoção de CO2 nas lavouras de grãos serão emitidos em 2026, segundo Giannichi. O objetivo da MyCarbon é emitir créditos de 3 milhões de carbono, com os grãos, nos próximos 10 anos.

O processo demora porque a saúde do solo e a captura de carbono vão sendo mensurados ano a ano até gerar um “delta”, que depois é apresentado aos auditores justificando que ali existe, de fato, uma remoção de CO2, que deve ser valorada como crédito.

“O carbono e a agricultura regenerativa são gêmeos siameses, não tem muito como você dissociar uma coisa da outra”, afirmou a CEO da MyCarbon, justificando o “match” que ocorreu entre as duas empresas.

Cotrin, da Brandt, diz que o programa Revitalis tem duas partes. Uma delas visa ajudar o agricultor a adotar as boas práticas, o que envolve treinamento dos 70 agrônomos da empresa no campo, e o suporte para que cada agricultor eleja uma área, recebendo assistência técnica e avançando na agricultura regenerativa, com maior captura de carbono no solo.

“A MyCarbon entra para certificar todo o processo e fazer a comercialização”, disse, para explicar o que seria a segunda parte da iniciativa.

A meta da Brandt é atingir 500 mil hectares assistidos pelo programa já no primeiro ano, dobrando a área no ano seguinte e chegando a 2 milhões de hectares no terceiro ano.

O investimento da empresa no projeto, segundo o executivo, é de R$ 40 milhões, incluindo o desenvolvimento de produtos.

Marta Giannichi explicou que a ideia é, quando houver interesse por biológicos por parte dos produtores rurais que já são atendidos pela MyCarbon, apresenta-los a Brandt. “Mas não é nada casado, não existe nenhuma parceria financeira e nenhuma parceria comercial. É só uma iniciativa conjunta das duas empresas”.

Já nos clientes da Brandt que fizerem parte do Revitalis, o papel da MyCarbon será explicar como funciona o projeto de crédito de carbono e “ver se conseguimos engajar esse produtor”, ela afirma.

Segundo Giannichi, em média, as áreas de grãos têm capturado entre 1 e 5 toneladas de carbono por hectare. Se levar em conta quando custa um crédito gerado por reflorestamento – quando a recompensa é por realizar o plantio das árvores – o valor estaria em torno de US$ 30 por tonelada.

Ela destaca, no entanto, que os chamados créditos de “removal”, onde existe este ganho de captura do carbono no solo, “estão sendo cada vez mais procurados e cada vez mais buscados por empresas na sua estratégia de descarbonização”. Isso porque o mercado considera uma vantagem sequestrar carbono da atmosfera e não só estocar, segundo ela.

“E a beleza do crédito de carbono da agropecuária é que você não precisa abrir mão de nenhum uso produtivo da sua terra para gerá-lo”, acrescentou.