Uma gigante mundial do petróleo plantando castanheiras na Amazônia e agave na Bahia. A área de Pesquisa e Desenvolvimento da Shell no Brasil tenta ao mesmo tempo testar novas tecnologias para produção de combustíveis e recuperação de áreas degradadas, de olho nos negócios e na compensação de emissão de carbono na atmosfera.

Na Amazônia, a empresa financia o teste de uma tecnologia já na produção de cerca de 30 culturas. A nanomolécula de carbono, ou arbolina, é um biofertilizante desenvolvido pela startup Krilltech que melhora a produtividade.

Segundo a própria startup, o produto ajuda a elevar a produtividade em até 70% nas plantações de morango, até 40% em tomate, 33% em algodão e mais de 20% em soja.

“Agora, estamos testando esta tecnologia na recuperação de áreas da Amazônia que foram desflorestadas. Finalizamos a plantação de árvores em 10 áreas de 1 hectare cada, em todos os estados da Amazônia Legal”, conta Alexandre Breda, gerente de Tecnologia de Baixo Carbono da Shell Brasil.

Nas áreas, foram plantadas três espécies, com a arbolina utilizada em metade de cada área, metade sem a aplicação do biofertilizante. O processo de plantação foi finalizado em maio, com castanheira pura, uma variante chamada de ingá, que dá fruto e atrai animais, além de uma agrofloresta, que inclui cacau, banana, entre outras.

“Ainda não temos uma conclusão, pois está muito no começo. O projeto tem prazo de três anos, que para uma castanheira, é nada. Mas é o suficiente para monitorar o período mais crítico em uma área degradada, que é o de ‘arranque’, quando a muda da árvore começa a se desenvolver”, explica Breda.

A expectativa é que a arbolina consiga acelerar o reflorestamento de uma área degradada. “Normalmente, quando se tenta reflorestar, cerca de 90% das mudas não vingam. Vimos que esta nanomolécula funciona bem em culturas agrícolas, resolvemos desenvolver este estudo na Amazônia”.

O investimento da Shell Brasil neste projeto é de R$ 4 milhões, e as áreas pertencem ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). “Depois deste prazo de três anos, podemos ter uma nova parceria, ou o INPA pode continuar o desenvolvimento do projeto”, diz Breda.

Outra parceira da Shell no projeto é a startup Trivia. Segundo Breda, a empresa desenvolveu uma tecnologia que permite a medição do estoque de carbono das árvores em tempo real.

Mais famosa por ser a matéria-prima da tequila, bebida nacional do México, o agave pode virar uma grande fonte de biocombustíveis, se as expectativas da Shell forem atendidas.

O projeto de cultura de agave para produção de etanol foi lançado em novembro de 2022, e está em fase bem inicial. “É uma tentativa de lançar toda uma cadeia de produção do zero. Estamos testando as variedades, qual o melhor processo”, diz Breda.

O passo mais recente do projeto BRAVE, que tem investimentos de R$ 100 milhões e conta com a parceria da Unicamp, foi a adesão do Senai Cimatec, na Bahia, que vai desenvolver máquinas para o plantio e colheita do agave.

“Hoje, todo o processo de produção do agave é manual. Para o sisal, que já é produzido na Bahia, é assim, e mesmo para a tequila, no México, não tem máquinas. Mas na quantidade necessária para biocombustíveis, as máquinas são necessárias”, afirma Breda.

Ele afirma que na parte das máquinas, a parceria foi firmada em abril deste ano, e está no processo de contratação dos profissionais.

Para a plantação, a Shell vai utilizar uma área de 50 hectares no sertão da Bahia como uma espécie de projeto-piloto. “Vamos testar as melhores formas de produção, o melhor manejo e as próprias máquinas”.

O prazo para o projeto do agave é de cinco anos. “Este inclusive é o tempo entre plantio e colheita do agave. Mas a literatura diz que é possível acelerar o ciclo para três anos. Vamos testar isso também”, conta Breda.

Ele afirma que as estimativas dão conta de que o agave tem um potencial de produtividade muito parecido com a da cana de açúcar, de 4,5 mil a 7,5 mil litros por hectare a cada ano.

“E acontece uma coisa curiosa. Quando você olha da cerca para dentro da produção de agave, nos períodos de maior estiagem, há o desenvolvimento de outras plantas. Acreditamos que o produtor de agave poderá manejar sua área com outras culturas, como mandioca, feijão, mamona”, conta o executivo da Shell Brasil.

Ele explica que isso acontece porque o agave capta água da atmosfera, e acumula no solo. “Por isso, é uma planta que se adapta muito bem a regiões de semiárido, como no interior do Nordeste”.

Breda afirma que esta combinação com outras culturas seria uma segunda fase da pesquisa. Neste momento, a prioridade é estudar a viabilidade do agave no Nordeste.

“Queremos gerar valor aos acionistas, este é nosso maior objetivo. Mas também queremos desenvolver as comunidades onde atuamos, respeitar o meio ambiente e compensar a emissão de carbono pela queima dos combustíveis que vendemos”, doz.