Os franceses e, claro, os brasileiros, que moram no bairro parisiense de Montmartre já encontram os chocolates da Dengo em uma butique inaugurada há poucos meses por ali. São os mesmos produtos encontrados nas quase 40 lojas espalhadas pelo Brasil.
“Mesmo produto com a embalagem em francês”, diz Túlio Landin, Co-CEO da empresa, em entrevista ao AgFeed. Há cerca de um ano na Dengo, ele já está de viagem marcada para Paris, onde inaugura uma segunda loja ainda em 2023.
“A gente está superfeliz, porque primeiro as pessoas têm visto a loja. Todo mundo que entra compra, isso é muito bom. E a gente tem visto pessoas que compraram e estão voltando, além de estar servindo muito para testar o tipo de produto que a gente tem lá”, comenta ele.
A chegada a Paris é o primeiro passo do projeto de internacionalização da marca. A entrada no mercado francês foi possível graças a parceria com o empresário Charles Znaty, um dos criadores da famosa marca de doces Pierre Hermé e presidente da maior federação patronal daquele país. Hoje também sócio e CEO da Dengo Europa.
“A França é uma vitrine para o mundo”, referenda Estevan Sartoreli, o outro co-CEO e cofundador da Dengo. “Sabemos que a aceitação da marca pelo parisiense e pelo turista dão um selo de creditação internacional para o negócio”.
Alguns fatores contribuíram, segundo Sartoreli, para a primeira loja estar na França. Entre eles, a proposta de valor da marca ser aderente ao consumidor europeu que busca um consumo mais responsável e consciente, a apreciação da imagem brasileira e a importância da categoria chocolates.
“É uma aposta, né? A gente vai ver como o mercado recebe, como a gente consegue operar e a partir dali pensar em planos de expansão”, explica Landin.
Além de valorizar ingredientes tipicamente brasileiros, a marca faz parte do segmento conhecido como bean to bar – que significa do “grão à barra” e consiste em um processo de fabricação mais natural, com mais cacau e menos açúcar nas formulações – e vê como vantagem a falta de concorrência na França e até mesmo na Europa.
“Os nossos produtos não competem com outros que você encontra ali no mercado. As pessoas olham para as outras lojas e o que elas vão encontrar são barras, enfim, coisas mais simples.”
O chocolate da Dengo tem “receita ESG” e o DNA da Natura. Há seis anos, Guilherme Leal, fundador da empresa de cosméticos brasileiros, associou-se a Sartoreli, que também trabalhou durante anos no marketing da multinacional, para criar a marca.
O propósito era gerar impacto social por meio da produção responsável, remuneração justa aos produtores de cacau e produtos mais saudáveis e sustentáveis no mercado.
“Empolga-nos o impacto positivo gerado nos primeiros anos do negócio. Nestes poucos anos, percebemos a evolução positiva da renda média dos produtores e resgate do orgulho pela atividade cacaueira” diz Sartoreli. A meta é dobrar a renda de 3 mil produtores de cacau no Brasil até 2030.
Com produção concentrada principalmente no Sul da Bahia, a marca conta hoje com 200 produtores cadastrados e mais de 150 famílias frequentemente produzindo cacau de alta qualidade made in Brazil.
Há um ano, a empresa expandiu o modelo de negócio para a Amazônia e iniciou o lançamento de produtos com cacau e outros ingredientes da região.
“A relação com todos eles – sejam pequenos, médios ou grandes – se dá por meio de um modelo de relacionamento que se baseia em alguns princípios fundamentais, tais como: respeito por quem produz, transparência para com todos, equidade de tratamento ou remuneração e interdependência”, faz questão de destacar o cofundador e CEO da Dengo.
Os produtores não precisam fornecer exclusivamente para a empresa. Dar liberdade de escolha é uma das mudanças defendidas. “Qualquer fornecedor jamais deveria ter uma relação de dependência”, reforça ele.
Há também o compromisso com o meio ambiente. O cacau vem majoritariamente da Cabruca, sistema agroflorestal no qual as árvores do fruto são plantadas debaixo da sombra da Mata Atlântica, o que gera e mantém a floresta de pé.
Outro grande diferencial nesta relação é o modelo de remuneração que contempla um pagamento de prêmio de preço (preço pago acima do valor de mercado).
Esse valor pode variar de +70% a +245%, a depender dos critérios ESG da fazenda e da qualidade de cada lote de cacau fornecido.
Só em 2022, os produtores Dengo receberam, em média, 92% acima do valor de mercado.
“Quando nossos clientes consomem um chocolate Dengo eles fazem com que o produtor receba mais pelo cacau, praticamente o dobro do preço pago pelo mercado” afirma Sartoreli.
Não é à toa que a marca aposta em endereços luxuosos para expor seus produtos e sua proposta. O público comprou a ideia. Em 2017 a Dengo tinha apenas uma loja e hoje são 39, em 13 cidades e sete estados do país, como Ceará, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná, além do Distrito Federal.
E novas unidades serão inauguradas até o fim do ano. A estratégia agora são lojas menores em shoppings. Um dos lançamentos está previsto, em outubro, no Catarina Fashion Outlet, localizado no km 60 da Rodovia Castello Branco, a 45 minutos de São Paulo (SP).