A Adecoagro, multinacional sucroenergética que atua no Brasil, Argentina e Uruguai, está dando passos para reduzir seus custos de produção e emissões de carbono com uma solução caseira.

A empresa anunciou nesta quinta, 11 de julho, que investirá R$ 225,7 milhões para quintuplicar sua produção de biometano na Usina Ivinhema, no Mato Grosso do Sul. O anúncio foi feito durante um evento sediado na própria planta e contou com a presença do governador do Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel.

A Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), órgão ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, está financiando o projeto, que já teve sua primeira fase aprovada.

A unidade ganhará mais dois novos biodigestores, que, juntos, terão a capacidade de fornecer, por dia, até 30 mil metros cúbicos nominais do gás, produzido a partir de vinhaça (resíduo da produção de etanol). A previsão é de concluir o projeto em 2027.

“Isso vai nos permitir substituir aproximadamente 8 milhões de litros de diesel por ano na frota da empresa, sem contar os 2 milhões de litros já compensados pelo biodigestor atual, totalizando 10 milhões de litros de diesel que deixarão de ser consumidos”, pontuou a empresa, em comunicado oficial.

Hoje, cerca de 130 equipamentos, que incluem veículos leves, caminhões, tratores e motobombas utilizam biometano feito pela empresa.

Em entrevista ao AgFeed, Renato Pereira, vice-presidente de Açúcar, Etanol e Energia da Adecoagro no Brasil, afirmou que o consumo de diesel nas usinas da empresa no MS é de 50 milhões de litros de diesel por ano.

Com o projeto finalizado, 20% de todo consumo das usinas utilizarão o biogás gerado dentro de casa.

Hoje, menos de 5% da vinhaça gerada na produção de etanol vira biogás, a ideia é saltar esse percentual para 25%.

“Se usarmos 100% da vinhaça para produzir biometano, viramos autossuficiente no consumo de diesel. A questão é que nem todos os motores nos dão essa possibilidade. Ainda não existem tratores pesados movidos a biometano”, afirmou o vice-presidente.

Para além do consumo próprio, Pereira afirma que a empresa vê oportunidades também para vender o biometano para terceiros, principalmente como substituto do gás natural.

Ele cita que no Mato Grosso do Sul, algumas empresas e entidades debatem sobre criar “corredores ecológicos” para transportar biogás e levar para cidades consumidoras, misturando o biometano, por exemplo, com o gás natural.

O que vai ditar o ritmo vendedor da Adecoagro, segundo o executivo, é uma valorização de ativos verdes no mercado, ou a instauração de um mercado de biometano, algo projetado na PL do Combustível do Futuro, que tramita no Congresso.

A Adecoagro é uma empresa com sede em Luxemburgo, mas atua no Brasil desde 2004. Atualmente, produz açúcar, etanol e energia elétrica a partir de três unidades industriais, uma em Minas Gerais e outras no Mato Grosso do Sul. A capacidade total de moagem é de 14,2 milhões de toneladas de cana por safra.

A construção dessa expansão está programada para iniciar no segundo semestre de 2024, em uma área de 20 mil metros quadrados da usina. Atualmente, 5% da vinhaça da Adecoagro é destinada à produção de biogás, percentual que deve aumentar para 20% após a conclusão da expansão.

A Adecoagro começou a se aventurar no mundo do biogás em 2010. Em 2018, o primeiro biodigestor entrou em funcionamento, numa parceria com a empresa mineira Methanum.

Três anos depois, a companhia se tornou a primeira usina do Brasil a emitir Certificados de Gás Natural Renovável, conhecidos como GAS-REC.

A previsão é que a substituição parcial do diesel pelo biometano produzido pela empresa gere uma economia de R$ 50 milhões para a empresa, considerando o preço atual do diesel. Além disso, a companhia espera deixar de emitir cerca de 38 mil toneladas de CO2 por ano.

“O biogás extraído da vinhaça é integrado à nossa produção de etanol, açúcar e energia, permite diversas aplicações. A prioridade será abastecer nossa frota de maneira crescente” afirmou Renato Pereira.

A escolha pelo projeto no MS se deu pois as duas usinas da empresa no estado possuem uma alta representatividade no mix produtivo. São cerca de 13 milhões de toneladas de cana por ano moídas nas duas unidades.

“Moemos cana o ano todo no estado, o que nos traz uma safra contínua, algo importante para dar sustentabilidade na produção do biogás”, afirmou.

Hoje, a principal linha de negócio da empresa é o etanol. Em entrevista recente ao AgFeed, Pereira afirmou que a tendência era aumentar a produção do biocombustível nos próximos trimestres.

No primeiro trimestre deste ano, a cana esmagada pela Adecoagro produziu 51% de etanol e 49% de açúcar. O cenário para este último produto mudou em relação ao ano passado, com os preços caindo nas últimas semanas. A empresa travou o preço de 57% da sua produção.

Em 2023, a receita bruta da empresa alcançou US$ 1,4 bilhão, recorde histórico e alta de 6,7% ante 2022. A companhia registrou um lucro líquido de US$ 226,7 milhões, mais que o dobro do que no ano anterior.

O CFO da Adecoagro, Emilio Gnecco, crê que a dinâmica para o etanol está mais promissora. "Em abril, os preços do etanol subiram 30% em relação ao menor patamar deste ano", contou ao AgFeed em maio.

Renato Pereira relembrou que a vinhaça gerada pela empresa também vira fertilizantes orgânicos utilizados nos próprios canaviais da empresa.

No processo de concentração da vinhaça, a parte mineral vira adubo orgânico, de forma que a produção de biometano e a do fertilizante não se substituem.

A cada litro de etanol são gerados 10 litros de vinhaça. Nos cálculos de Pereira, 700 milhões de litros de etanol produzidos geram uma quantidade de fertilizante capaz de suprir a demanda de uma área entre 130 mil a 140 mil hectares de canaviais. Ao todo, a companhia possui 190 mil hectares de área plantada.

Em 2023, de janeiro a dezembro, a Adecoagro produziu 522 milhões de litros de etanol, numa safra mais açucareira do que alcooleira. Numa safra com mix maior para o biocombustível, seria possível produzir os 700 milhões de litros exemplificados pelo executivo.