Fortaleza (CE) - O algodão foi a cultura mais atrativa na última safra para produtores tecnificados, que se viram desafiados pela queda de preços e clima desfavorável para a soja.
Estima-se que na safra 2023/2024 tenha havido um avanço de quase 20% na área plantada com a pluma, principalmente pela migração do milho para o algodão em regiões que fazem segunda safra.
Na temporada 2024/2025, no entanto, a incerteza ainda paira sobre os negócios. Há quem arrisque dizer que vai plantar menos, como fez Blairo Maggi, no início da semana. Mas entre as grandes companhias de insumos o relato é de que os negócios, até o momento, estão pelo menos empatando com a safra passada.
Em entrevista ao AgFeed, o CEO da Bayer Brasil, Márcio Santos, primeiro afirmou que a Bayer “cresce” em 2024, destacando ganho de market share em alguns produtos.
Em seguida, porém, admitiu: “nós estamos meio que andando de lado num mercado que está sofrendo horrores”, disse ele, lembrando que balanços de concorrentes da Bayer divulgados recentemente sinalizam que o cenário segue “desafiador”.
Entre os destaques positivos, Santos citou o aumento expressivo nas vendas de um produto novo para combater o mofo branco, por exemplo, e a liderança recém alcançada no mercado de sementes de milho.
“A nossa visão é de otimismo. O agro brasileiro vai estar no centro da transição energética”, afirmou, citando o avanço do etanol de milho em Mato Grosso como um dos motores desta “rota de crescimento”.
Para o algodão, especificamente, o CEO da Bayer disse que a premissa “é de uma área andando de lado”, o que na visão dele, pode apresentar uma leve oscilação. “A gente não está enxergado queda de área”.
Já na cultura da soja, Santos acredita em leve crescimento na área de cultivo, enquanto o milho pode, também, “andar de lado”, após o recuo registrado na safra passada.
As atenções no momento estão voltadas para o clima. É permitido por lei plantar a soja a partir deste sábado, dia 7 de setembro, em algumas regiões. Porém o clima seco tem predominado e é sempre um risco para o produtor semear o solo sem a expectativa de que a chuva possa chegar em breve.
“A gente (o produtor) queria plantar soja no dia 15, para poder ter a janela ideal do algodão. Nós não estamos com previsão de chuva até lá. Então, se eu atrasar muito, talvez eu tenha que migrar um pouquinho de algodão para milho. Ou eu vou optar por um algodão na primeira safra e pular a soja. Isso é o que aconteceu ano passado também”, avaliou Márcio Santos.
Na Syngenta, outra gigante de defensivos agrícolas, o gerente de marketing de culturas com foco em algodão, Rafael Borba, avalia que as vendas “estão seguindo o mesmo padrão do ano passado”. Em conversa com o AgFeed, ele lembrou que no ano passado houve alta no comércio de insumos para o algodão. “Se esperava que a área crescesse 10% e acabou aumentando 18%”.
Já este ano Borba diz que o cenário ainda é muito incerto, dependente de diversos fatores, não apenas o preço da commodity mas também do que vier a ocorrer com a soja. Ele diz que ao final do plantio da soja ficará mais claro qual será o avanço no algodão. Em Mato Grosso, maior produtor, a pluma é cultivada prioritariamente como segunda safra, após a colheita da soja.
Já a Mosaic, de fertilizantes, se diz mais confiante de que haverá aumento de área. A diretora regional comercial da empresa, Janice Prestes, afirmou que este foi o relato da maioria dos clientes que conversou no Congresso do Algodão. Ela admite, no entanto, que o ritmo de compra de fertilizantes para a safra 24/25 está mais lento na comparação com o ano passado.
Hora de melhorar produtividade
As empresas que participaram do Congresso Brasileiro do Algodão, em Fortaleza, ao longo desta semana, são unânimes ao dizer que viram produtores muito interessados em buscar novas tecnologias que garantam maior produtividade, a única variável em que realmente o agricultor pode interferir, já que clima e preço internacional muitas vezes surpreendem negativamente.
“Estamos otimistas com o momento, porque nós acreditamos que o produtor está buscando mais tecnologia, que é onde a gente joga. O cara tem que ser mais eficiente, usar um produto em que não arrisque. Por isso, temos perspectiva de conquistar (mais) participação de mercado no Brasil, tanto no negócio de química, quanto nos três negócios de semente que a gente tem, algodão, soja e milho”, afirmou o CEO da Bayer.
Rafael Borba, da Syngenta, também contou que o agricultor “está buscando coisas disruptivas para poder produzir mais, com soluções em que coloque menos produto e tenha eficiência maior”.
Ele explica que, ao contrário da soja, no algodão o produtor não reduz tecnologia em função de preços mais baixos ou margens mais apertadas. Isso porque o investimento necessário na cultura é muito maior e não se pode correr riscos.
Entre os destaques da Syngenta no evento deste ano estava o lançamento de um novo ingrediente ativo para combater o bicudo do algodão, considerado a maior ameaça da cultura. O controle do bicudo costuma demandar quase metade do investimento total em defensivos por parte dos cotonicultores, segundo ele. O novo produto demanda doses bem menores e estaria disponível para aplicação tanto terrestre, quanto aérea.