O maior Plano Safra da história parece não ser suficiente para atender todo o agro brasileiro e suas particularidades. Na visão da senadora Tereza Cristina (PP-MS), o montante previsto para a subvenção do seguro rural no Plano Safra 2023/24 é insuficiente, o que pode trazer problemas para a tomada de crédito para as próximas safras por parte dos produtores.

A ex-ministra da Agricultura e Pecuária na gestão Bolsonaro conversou com o AgFeed durante o 22º Congresso Brasileiro do Agronegócio, realizado pela Abag em um hotel na cidade de São Paulo.

Até agora, os recursos anunciados ficam em R$ 500 milhões. Mas deveriam ser de pelo menos o triplo disso, na opinião da senadora e da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), movimento de deputados e senadores ligados ao agronegócio, da qual a ex-ministra é uma das principais vozes.

“A dificuldade, é que precisamos de R$ 1,5 bilhão”, comenta. Segundo Tereza Cristina, essa “economia” com os recursos no atual momento pode sair muito cara lá na frente.

“Quando você tem o seguro, o produtor fica mais tranquilo, pois pode plantar e se houver problema ele tem como se socorrer. O seguro não resolve o problema do agricultor, mas resolve o problema do crédito para o próximo ano, já que ele não fica devendo e pode tomar recurso e se desenvolver”, afirmou a senadora.

Com a hora do plantio da safra de verão chegando e o fenômeno do El Niño no radar, entidades passaram a pressionar o Governo Federal para mais recursos subvencionados para o seguro rural.

A CNSeg (Confederação Nacional das Seguradoras), por exemplo, prevê que os recursos acabem já em agosto, algo que tem preocupado os produtores.

Um estudo do Climate Policy Initiative, da PUC do Rio de Janeiro (CPI/PUC-Rio), que constrói um mapeamento sobre o seguro rural no Brasil e foi publicado na Agência Brasil, mostrou que a região Sul responde por 60% do número de apólices e 43% do valor dos prêmios de seguro rural.

Se a região sofreu com a seca na última safra, a chegada do El Niño neste ano pode amenizar o problema, já que historicamente o fenômeno traz mais chuvas para esse pedaço do Brasil.

“Nós precisamos olhar muito atentamente o mapa meteorológico de seca para ver onde essa seca vai se estabelecer. [As regiões afetadas pela] La Ninã já sabíamos, mas El Niño ainda não sabemos”, comentou a ex-ministra.

O atual ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, concorda que o orçamento atual não é suficiente. Em entrevista coletiva também realizada durante o Congresso da Abag, afirmou que o problema "requer uma atenção especial".

“Não sei quais as tratativas do ministro, mas nós da FPA estamos muito preocupados. Com as mudanças climáticas que todos falam toda hora, nós não termos esse R$ 1,5 bilhão é muito preocupante”, comentou Tereza Cristina.

Avaliação do sucessor

Fávaro foi elogiado pela sua antecessora durante a conversa com o AgFeed. Segundo Tereza Cristina, o atual chefe da pasta pegou um “ministério arrumado”.

“O ministro Fávaro tem feito um bom trabalho, e esse ministério, vale dizer, é um que sempre teve em seu quadro bons técnicos. Eu também peguei um ministério arrumado do ministro Blairo [Maggi]. Agora é dar sequência”, disse.

Na visão dela, a dificuldade que Fávaro encontra na gestão é o desmembramento que ocorreu da gestão passada para cá.

Se na época de Tereza Cristina o segmento possuía uma única pasta, Fávaro agora divide o agro com Luiz Paulo Teixeira, que cuida do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar.

“Tive dificuldade para unificar a agricultura num só ministério, só que e eu tinha o apoio incondicional do presidente Bolsonaro para a agricultura brasileira. Resta saber se o Fávaro tem esse apoio do presidente Lula”, comentou.

Agro e o mercado de capitais

Tereza Cristina ainda disse que ela e a FPA continuarão a cobrar Fávaro pelas subvenções e para incluir cada vez mais o agro no mercado de capitais.

Foi na gestão da ex-ministra, vale ressaltar, que foi regulamentada a lei dos Fiagros, por exemplo, bem como o estoque de outros títulos de dívida como CPRs e CRAs tiveram saltos relevantes.

Na visão da senadora, os subsídios que outros países dão para a agricutlura são grandes, enquanto que no Brasil o montante ainda é relevante.

“A Argentina, por exemplo, tem subsídios de 19,5%, enquanto nós temos 2,1%. Em relação ao resto do mundo, é um dos menores subsídios. Por isso, cada vez mais precisamos de opções do mercado de capitais”, disse.

Para ela, é momento de o mercado de capitais e os bancos aproveitarem o início da queda nos juros no país para modernizar os produtos que já existem. “A base legal já foi construída. Agora é criatividade”, acrescentou.