Pouco mais de dois meses após o episódio polêmico da "não visita" à Agrishow, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, foi recebido pelas principais lideranças de entidades paulistas e nacionais no Conselho Superior de Agronegócio da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), nesta sexta-feira.

As falas foram repletas de agradecimentos e "parabéns" pelo Plano Safra, que este ano trouxe aumento no volume total de recursos, quando considerados os dois ministérios, com a agricultura familiar.

O ministro também se mostrou satisfeito com o apoio recebido, de diferentes entidades e até do secretário da agricultura de São Paulo, Antonio Junqueira.

Ao final do encontro, o ex-presidente da Agrishow, Francisco Maturro, disse a Favaro que a questão "está superada", recebendo do ministro um largo sorriso e a frase "há muito tempo".

O encontro do Cosag foi também um convite da Sociedade Rural Brasileira (SRB), que é uma das organizadoras da Agrishow. O presidente da entidade seguiu a mesma linha de "pacificação" do setor, só pedindo mais agilidade no processo de análise do Cadastro Ambiental Rural (CAR).

Pelas regras do Plano Safra, produtores que já têm CAR analisado podem ter desconto de 0,5 ponto percentual nas taxas de juros. Mas Fávaro admitiu que apenas 1,76% dos cadastros até hoje foram validados e que há grande dificuldade no processo de análise.

Ao longo da conversa com as lideranças do setor, o ministro da Agricultura destacou que melhorar a infraestrutura e logística é uma das prioridades e que “pela primeira vez" o agro será contemplado no PAC – Programa de Aceleração do Crescimento – que será anunciado pelo governo Lula no início de agosto.

Entre as medidas que devem ser contempladas estão linhas de crédito para ferrovias, portos e hidrovias.

Fávaro destacou que o objetivo é concluir, no prazo de 10 anos, uma triangulação entre três ferrovias: a Fico (Ferrovia de Integração do Centro-Oeste), a Fiol (Ferrovia de Integracao Oeste-Leste) e a Ferrovia Norte Sul.

No caso da Fiol, que ligará Tocantins a Ilhéus, Fávaro afirmou que, do primeiro trecho de 500 km, faltam 10% por fazer. Já no segundo, de mais 500 km, faltam 40% e o terceiro, com a mesma distância, ainda precisa ser feito.

"Do Araguaia mato-grossense, para exportar, a distância será de 1500 km, mas com três opções de portos: Santos (SP), São Luís (MA) e Ilhéus (BA). Além disso, o plano deve contemplar também a Transnordestina", disse o ministro.

Ele mencionou ainda a construção do terminal da Cofco no porto de Santos, para 14 milhões de toneladas, e ampliação prevista no Tegran, de São Luís, no Maranhão.

"Demora três anos para fazer, mas o aumento da safra é de um ano, aí os outros dois já viraram déficit de novo. Então isso é fundamental, o PAC vai andar nesta direção", ressaltou.

Defensivos e fertilizantes

O ministro foi fortemente aplaudido pela plateia de líderes na Fiesp quando afirmou que "a nova lei dos agroquímicos será aprovada e sancionada este ano".

O projeto que está tramitando no Congresso Nacional define novas regras para aprovação e obtenção de registros de defensivos agrícolas e é considerado fundamental pelo setor em função da possibilidade de adotar moléculas mais modernas no campo, o que seria também benéfico ao meio ambiente.

Outro destaque da fala de Fávaro foi o Plano Nacional de Fertilizantes. Ele disse que se reuniu com lideranças da ANDA, entidade que representa a indústria de adubos, essa semana em São Paulo.

Os motivos para o excesso de dependência do Brasil dos fertilizantes importados são vários, afirmou Fávaro. Por isso a solução envolve temas como questões tributárias e também políticas, que envolvem a Petrobras e o licenciamento para a exploração de matérias-primas.

O ministro disse que o Confert, conselho nacional que está debatendo as políticas do setor, aprovou um pedido para que fertilizante seja considerado assunto de segurança nacional, para ter prioridade.

"Estamos fazendo um diagnóstico mas já adiantei ao presidente Lula que será necessário centralismo democrático neste tema, porque envolve várias áreas".

Gripe aviária e seguro rural

O ministro anunciou que na próxima segunda-feira será formalizado um acordo com "um importante mercado para a carne de frango do Brasil”, mas disse que não poderia revelar qual o país por enquanto.

Além da ampliação das exportações para este mercado, que já aberto, será assinado um protocolo sanitário “inovador”, para caso a gripe aviária venha a atingir granjas comerciais, com efeitos nas exportações, segundo ele.

A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) disse recentemente ao AgFeed que o governo brasileiro estava negociando com diversos países uma mudança nos acordos sanitários com foco na regionalização, ou seja, que viabilize isolar um estado em que haja caso confirmado da doença em granja comercial, suspendendo o comércio somente com aquela região e não com todo o país.

A ABPA confirmou que entre estes países está o Japão, mercado que recentemente suspendeu compras do Espírito Santo – embora não haja embarques do estado para lá – em função de um caso em ave de criação doméstica.

Outro tema tratado pelo ministro da Agricultura foi o seguro rural. Lideranças do agro vêm cobrando o governo sobre qual será o orçamento para a subvenção ao seguro, algo que normalmente era anunciado no Plano Safra, mas desta vez não foi detalhado.

Fávaro disse que modelo atual do seguro precisa ser reformulado e que caberá a câmara setorial ligada ao tema definir uma proposta.

“Fiquei estarrecido ao ouvir das seguradoras de que, ao longo dos 16 anos de exigência de seguro, elas acumulam um passivo de R$ 3 bilhões", afirmou.

O ministro diz que, embora esteja funcionando na ponta com pagamento das apólices ao produtor, para as seguradoras não está adequado.

Questionado sobre o pleito do setor para que no orçamento fossem destinados R$ 3 bilhões, ele respondeu "que não se pode ser simplista”. No ano passado estava previsto liberar R$ 2 bilhões e só foram liberados R$ 1,060 bilhão, relatou ele.

"Só se sustenta se tiver derrame de dinheiro público? Não está certo", disse. Fávaro afirmou que o ex-ministro Roberto Rodrigues – uma das lideranças que questionou a falta de informações sobre seguro após o anúncio do Plano Safra – apresentou uma sugestão interessante, de um modelo que é praticado no México e que deverá ser estudado, para talvez ser adaptado ao Brasil.