O fantasma e os monstros do Halloween chegaram mais cedo para produtores do setor de doces nos Estados Unidos.

Por lá, o The Wall Street Journal revelou que a escassez de oferta de açúcar está elevando os custos das empresas do segmento e, em alguns casos, reduzindo a produção de doces.

As indústrias reclamam da política de protecionismo agrícola norte-americana, que exige que pelo menos 85% das compras de açúcar seja de produtores do próprio país, o que tem gerado o cenário de escassez e custos altos.

Dentro da política agrícola dos EUA, as indústrias que compram açúcar podem importar cerca de 15% de sua oferta anual a uma tarifa de US$ 0,03 por quilo de açúcar refinado.

Empresas como a Spangler Candy, que produz cerca de 250 milhões de bastões de doces em um ano típico, de acordo com a reportagem do jornal norte-americano, já enfrenta problemas com a cadeia de suprimentos. No ano passado, por exemplo, teve de recusar pedidos de doces de Halloween que não poderia atender.

Somado a isso, a empresa identificou no meio do ano que a produção para o Natal ficaria comprometida. Com isso, a produção caiu para 200 milhões de bastões de doces em 2022, abaixo da média histórica.

Essa escassez de oferta de açúcar tem feito com que os preços dos contratos da commodity em Nova Iorque subam. Nos EUA, a oferta total de açúcar, que gira perto das 10 milhões de toneladas, deve cair 2,3% na próxima safra, de acordo com o USDA.

O açúcar nº 11, que é o que é mais usado no mercado internacional, é cotado atualmente próximo aos US$ 0,25 por libra-peso, valor que não era visto desde 2012.

Além dos problemas de produção nos EUA, há também quebra de safra no México, que acaba exportando grande parte do que os americanos consomem dentro dos 15% que são permitidos vir de fora.

Enquanto isso, países que lideram a produção e exportação global de açúcar seguem no aguardo de um sinal verde para que possam exportar mais, sem tarifa.

Na avaliação de Maurício Muruci, analista da consultoria Safras & Mercado, até pode ser que os americanos afrouxem essa regra dos 85%, mas se o fizerem, deve ser uma ação momentânea, até o problema ser resolvido.

Para Julio Maria Borges, sócio-diretor da JOB consultoria, trata-se apenas de uma pressão da indústria de alimentos americana, que está incomodada por pagar preços bem mais caros pelo açúcar.

"O Brasil está exportando tudo o que pode. A prioridade total é essa, tem mercado, tem preço, por isso na minha opinião é uma briga que não vai dar em nada", afirmou o analista.

Segundo ele, mesmo que o governo americano mudasse a política, o benefício para o Brasil seria pouco relevante. Apesar disso, ponderou que o produtor sempre gosta de ter mais opções de venda. Se os EUA abrirem o mercado é bom, mas não muda muito.

O analista da Safras & Mercado concorda:  “Se o mercado se abrir para o Brasil vai ser algo pontual”, diz.

Muruci destaca que a a postura dos EUA, China e países da União Europeia é de proteger sua indústria, não necessariamente os produtores de beterraba, mas a indústria que compra esse produto para transformar em açúcar.

"Eles não querem, também, importar industrializados. Vão, no máximo, importar a commodity”, ressalta o analista.

Atualmente, o Brasil produz, em média, 40 milhões de toneladas de açúcar por ano. Desse total, 10 milhões vão para o consumo interno e o restante é exportado, como explicou Muruci.

Dentre os principais destinos do açúcar brasileiro estão a Argélia, Bangladesh, Nigéria, Arábia Saudita, China e Iraque, de acordo com a Secex.

Para o mercado norte-americano, o analista da Safras & Mercado estima que vão apenas 5% do açúcar brasileiro. É um volume que sai principalmente da região Nordeste, por uma questão de competitividade logística.