O Brasil, como um dos principais players globais no agronegócio, enfrenta atualmente um contexto macroeconômico desafiador. Com a taxa básica de juros (Selic) elevada em janeiro de 2025 para 13,25% a.a. e projeções de alcançar 15% ao longo do ano, segundo o Boletim Focus do Banco Central, o custo do crédito tornou-se um fator significativo para agroindústrias, produtores rurais e startups do setor.

Essa realidade é ainda agravada por uma inflação persistente e pela desvalorização cambial, que pressionam a política monetária em uma direção restritiva.

Apesar desse cenário, o setor de agrotecnologia no Brasil continua a demonstrar resiliência e um potencial de crescimento único. Com a expansão dos biológicos e o avanço da inteligência artificial (IA), as agtechs estão ocupando um espaço relevante no ecossistema de inovação.

O aumento dos custos de crédito é um dos principais desafios enfrentados pelo agronegócio atualmente, impactando diretamente os produtores rurais, que dependem de financiamentos para manter a produção e adotar novas tecnologias.

O Plano Safra 2024/25 destinou R$ 400,59 bilhões desde julho de 2024, um aumento de 10% em relação à safra anterior. No entanto, o montante ainda se mostra insuficiente diante da crescente demanda do setor.

Nesse contexto, os financiamentos privados despontam como alternativas importantes. A soma das carteiras ativas de Cédulas de Produto Rural (CPR), Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), Certificados de Direitos Creditórios do Agronegócio (CDCA), Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) e Fundos de Investimentos nas Cadeias Produtivas do Agronegócio (Fiagro) já ultrapassou R$ 1,2 trilhão, representando um aumento de 33% em comparação aos R$ 915,2 bilhões de outubro de 2023.

Entretanto, com a atual taxa de juros e a volatilidade do mercado de commodities, e uma já esperada nova onda de recuperações judiciais no Agro, torna-se desafiador aceitar riscos de alavancagem com margens apertadas.

Até mesmo o venture capital tem adotado uma postura mais cautelosa em seus investimentos, reconhecendo que, com a menor disponibilidade de recursos e margens reduzidas, a capacidade de investimento em novas tecnologias por parte dos produtores e empresas do agronegócio pode ficar aquém do esperado.

Contudo, a falta de investimento em tecnologia resulta em menor eficiência/produtividade, o que se traduz em maiores custos e menor transparência nos dados.

Essa situação afeta diretamente as taxas de crédito oferecidas pelas instituições financeiras.

É crucial destacar que bancos e provedores de crédito estão ávidos por informações mais precisas e abrangentes diretamente do campo. Quanto mais dados padronizados, organizados e confiáveis forem fornecidos, mais rápida será a oferta de crédito justo para empresas e produtores organizados e tecnificados.

Diante desse cenário, é imperativo que agroindústrias, fazendas e startups adotem uma postura de cautela, focando no presente e posicionando-se para serem pioneiras na gestão organizacional.

Isso implica investir em práticas de gestão financeira eficientes, planejamento estratégico e adoção de tecnologias que promovam a transparência e a eficiência operacional. Ao fazê-lo, estarão melhor preparadas para navegar pelas adversidades atuais e aproveitar as oportunidades futuras no agronegócio brasileiro.

A inteligência artificial e o futuro da eficiência no Agro

Se há uma oportunidade latente e transformadora no agronegócio, essa é a inteligência artificial (IA). Em todos os setores onde foi corretamente implementada, a IA tem se provado uma ferramenta revolucionária.

No agro, essa realidade não é diferente. O ponto-chave aqui é entender que o delta da tecnologia está cada vez menor, ou seja, empresas e produtores que começarem desde já a se adequar e explorar essa inovação terão um salto exponencial de eficiência e competitividade.

Para facilitar essa compreensão, basta compararmos a inteligência artificial à energia elétrica. Quando a eletricidade foi descoberta, ninguém imaginava a amplitude de sua aplicabilidade. No início, sua função era simplesmente acender lâmpadas. Hoje, ela é a base de toda a infraestrutura moderna.

A mesma lógica se aplica à IA: atualmente, estamos apenas “ligando e apagando luzes” com a tecnologia, mas seu potencial no futuro vai além dos pensamentos mais inventivos.

Assim como a energia elétrica transformou a indústria, a produção e a vida cotidiana, a IA tem o poder de fazer o mesmo pelo agronegócio.

Desde a otimização de processos produtivos até a automação da gestão financeira e logística, passando pela melhoria na análise de dados e tomada de decisões, a IA será um grande aliado para trazer eficiência, redução de custos e ganho de escala.

Aqueles que compreenderem essa mudança desde agora e se posicionarem estrategicamente, adotando ferramentas baseadas em IA para gestão e produção, estarão à frente de uma nova era no agronegócio.

O momento exige cautela, mas também visão estratégica: quem souber equilibrar a gestão do presente sem perder o olhar para o futuro será o protagonista dessa transformação.

Fernando Rodrigues é fundador e managing partner da Rural Ventures.