Por Yuri Rugai Marinho e Marcelo Stabile
O Brasil tem dimensões continentais e se consolidou como uma grande produtor e exportador de produtos agropecuários. Na safra de 2022/2023, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), o país produziu 321,4 milhões de toneladas de grãos (um aumento de 18% em relação à safra anterior), além de 8,5 milhões de toneladas de carne bovina, 13,4 milhões de toneladas de frango e 5,3 milhões de toneladas de carne suína em 2023.
Considerando uma população de 215 milhões de habitantes, é como se cada brasileiro produzisse 1,49 tonelada de grãos e 126 kg de carnes (bovina, suína e de frango) por ano. O país é também um grande exportador de produtos agropecuários, com mais de 28% da produção de carne e mais de 60% da safra de grãos exportados em 2023.
Essa produção é baseada, majoritariamente, na disponibilidade de água da chuva. Ou seja, o fator climático é determinante para o sucesso da produção agropecuária –e a conservação da vegetação é o seguro.
De acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA), somente 8,2 milhões de hectares são irrigados no país. Ou seja, dos 282 milhões de hectares usados para a agropecuária, quase 96% dependem de água de chuva para atender a demanda hídrica.
A ciência tem mostrado que a ação humana tem afetado gravemente os ciclos hidrológicos e que estamos nos aproximando de um ponto de não retorno, em que o desmatamento na Amazônia e no Cerrado aceleram as mudanças climáticas. O desmatamento já tem afetado a temperatura média do solo e impactado os ciclos de chuva.
A conservação de vegetação nativa é, portanto, um seguro que garante a sustentabilidade da nossa agropecuária a longo prazo.
As mudanças climáticas são uma grande ameaça à agropecuária brasileira e à segurança alimentar global. Por isso, torna-se necessário estimular e fortalecer ações de conservação de vegetação nativa. Os serviços ecossistêmicos prestados pela natureza são de valor imensurável, e nós devemos fomentar a conservação e melhoria dos serviços ambientais.
Nesse sentido, projetos de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (REDD+) e Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) ganham notável destaque e importância.
Uma parte significativa do Brasil (acima de 65%) ainda é conservada com vegetação nativa. Essa conservação encontra-se em áreas privadas, como ocorre em Áreas de Preservação Permanente, Reserva Legal (por decisão do proprietário ou por exigência legal) ou em áreas públicas, como em Unidades de Conservação, Parques, Territórios Indígenas e Reservas Extrativistas.
Essas áreas asseguram a estabilidade climática que beneficia diretamente os produtores brasileiros e da América do sul, além de viabilizarem a produção agropecuária em outros locais, pela exportação de commodities, matéria-prima para ração animal e produtos que compõem a dieta de bilhões de pessoas no mundo.
Com a expectativa do aumento na demanda por alimentos da ordem de 60% até 2050 – devido ao crescimento populacional e aumento de renda média da população – o país deve estar preparado para expandir sua produtividade sem comprometer a conservação das florestas e a disponibilidade de água.
O Brasil já vem trabalhando na melhoria de produtividade de suas áreas convertidas, com ganhos significativos de produtividade nas últimas décadas devido ao investimento em pesquisa e extensão. Pesam também a adoção de novas tecnologias produtivas, desenvolvendo novas variedades, promovendo a integração de lavouras com pecuária, a fixação biológica de nitrogênio, o melhor manejo de pasto, a genética e a nutrição animal, dentre outras.
As pesquisas conduzidas pela Embrapa foram grandes responsáveis pelo desenvolvimento da agricultura no Brasil. Nas últimas quatro décadas, essas pesquisas viabilizaram, por exemplo, o aumento em cinco vezes da produção de grãos (com aumento de apenas 60% na área plantada).
A produção agropecuária brasileira tem relevante papel a cumprir na segurança alimentar do mundo e no fornecimento de serviços ambientais. Para mantermos esse papel e aumentarmos nossa produtividade, a conservação das florestas é tema obrigatório.
Yuri Rugai Marinho é sócio-diretor da ECCON Soluções Ambientais.
Marcelo Stabile é gerente de carbono da ECCON Soluções Ambientais.