Por Pedro Forti e Guillermo Grandini

Apesar das divergências sobre as emergências climáticas, a sustentabilidade tem se tornado padrão na busca por soluções para problemas como eventos climáticos extremos, aumento das temperaturas, mudanças na precipitação, perda de biodiversidade, insegurança alimentar e desigualdade social.

Isso impacta a disponibilidade de recursos essenciais e pressiona a resiliência dos sistemas agroindustriais, impulsionando projetos de conservação, regeneração e produção sustentável.

O uso de tecnologias de rastreabilidade e soluções baseadas na natureza são respostas inovadoras para os desafios agrícolas.

Integrando modelos eficientes, o agronegócio avança rumo à sustentabilidade, atendendo a novos requisitos de acesso a financiamento, mercados e mitigação de riscos.

Nesse sentido, algumas tendências tecnológicas devem se destacar no setor em 2024:

Crédito e seguros com precisão: Produtores enfrentam incertezas climáticas e econômicas no Brasil, destacadas pela divergência nas estimativas de safra, especialmente para a soja.

A gestão cuidadosa das propriedades agrícolas, impulsionada pela digitalização, torna-se crucial para mitigar riscos financeiros, como evidenciado pelo aumento de pedidos de recuperação judicial no agronegócio brasileiro em 2023.

A maioria dos produtores brasileiros utiliza tecnologias digitais, proporcionando uma melhor compreensão dos riscos e contribuindo para avanços na gestão de riscos, como o surgimento dos seguros paramétricos agrícolas no país.

Ativos baseados em cadeias rastreáveis: A expansão do agronegócio no Brasil é impulsionada pela tokenização, utilizando a tecnologia blockchain para transformar ativos reais em tokens digitais. Apesar do crescimento, o financiamento para pequenos e médios agricultores ainda é escasso.

A rastreabilidade proporcionada pela blockchain promove alternativas de financiamento, como CPRs, CRAs e FIAGROs. O avanço está ligado à implementação do 5G, possibilitando ferramentas de alta conectividade, como monitoramento de culturas e colheita automatizada.

Porém, apesar dos benefícios, cerca de 73% das propriedades rurais no Brasil ainda carecem de conectividade, representando um potencial a ser explorado.

Biotecnologia para produtividade sustentável: A integração de biotecnologia com inteligência artificial surge como solução promissora, transformando as formas de produção de setores como cosméticos, farmacêuticos e biocombustíveis.

Na agricultura, destaca-se a adoção de práticas regenerativas para restaurar ecossistemas, promovendo a saúde do solo e biodiversidade.

Em 2023, 25% dos defensivos agrícolas registrados pelo MAPA foram de baixo impacto, refletindo a crescente preocupação com práticas sustentáveis.

Essa "biorevolução", movimentando bilhões anualmente, mostra-se essencial para enfrentar desafios globais, atraindo investidores em busca de inovação e impacto positivo.

Ativos em biodiversidade: Diante dos compromissos climáticos do Brasil, surgem modalidades de conservação florestal, como REDD+, Agricultura e Pecuária Regenerativa (ALM) e Restauração Florestal (ARR).

A convergência tecnológica inclui práticas sustentáveis, produção de mudas in vitro, uso de bioinsumos, IA, monitoramento por drones, tokenização e manejo de pastagens.

Projetos de agricultura regenerativa e sistemas agroflorestais (SAF) exploram a extração sustentável de compostos bioativos, alimentos e produtos florestais, atraindo investidores internacionais e gerando renda para comunidades locais.

Investimento com realismo: O crescente interesse de grandes fundos de investimento no agronegócio brasileiro reflete uma tendência global, com foco em oportunidades da agricultura inteligente.

O mercado financeiro busca consolidar sua presença, enfrentando desafios na gestão de portfólios em sistemas agroindustriais complexos.

Startups brasileiras, influenciadas pelo Vale do Silício, encontram apoio no ambiente propício para venture capital, mas enfrentam ceticismo crescente, levando a exigências mais rigorosas e retorno ao 'stage financing', com financiamento progressivo baseado em resultados concretos.

Isso visa mitigar riscos e promover investimentos estratégicos à medida que as startups avançam em seu desenvolvimento.

A convergência de sustentabilidade e tecnologia delineia as tendências do agronegócio em 2024, destacando gestão de ativos, tokenização pela blockchain, valorização da biodiversidade e integração de biotecnologia.

Esses elementos são fundamentais para um agronegócio sustentável e tecnologicamente avançado, atraindo investidores e promovendo práticas conscientes.

À medida em que o setor se reinventa, o investimento em tecnologia e pesquisa não é apenas uma estratégia avançada, mas um compromisso inegociável com a viabilidade a longo prazo do planeta.

Pedro Forti é economista pela ESALQ/USP e Mestre em Administração pelo PPGADM/UFPR.

Guillermo Grandini é engenheiro agrônomo pelo CCA/UFSCar.