A expansão do mercado para os frigoríficos brasileiros na China e a tendência de redução da abertura de novas áreas para a pecuária ampliam as perspectivas para o confinamento de animais no País.

O sistema de pecuária intensiva tem crescido nos últimos anos e exige uma gestão mais atenta do produtor para garantir rentabilidade.

“O confinamento é uma ferramenta de giro rápido no qual 80% do custo é ração e animais. Para que seja rentável ao produtor, é preciso ter uma boa gestão comercial”, explica o engenheiro agrônomo Alberto Pessina, CEO da Agromove, empresa que desenvolve ferramentas de análise para a pecuária.

Entre essas ferramentas estão o controle de custos alinhado à formação de preços no mercado futuro, com gestão de compra e venda não apenas do boi, mas também de insumos.

“Preços instáveis e altos custos de ração são uma combinação perfeita para sabotar quem está desprevenido”, alerta Pessina.

Os preços do boi gordo no mercado futuro têm se mostrado menos atrativos para os meses de maio e junho, com contratos com menor ágio em relação aos custos de produção, segundo o analista. Costumam pesar sobre os confinamentos a volatilidade nos preços do milho e do farelo de soja, que impactam os gastos com a ração e podem agravar o cenário, em momentos como agora, em que o preço do boi tem registrado quedas consecutivas.

O CEO da Agromove pondera que a relação de troca dos insumos pela ração até está dentro da média histórica, "mas a grande volatilidade do milho nos últimos meses tem gerado insegurança na decisão de confinar".

De acordo com dados do Cepea, o preço do boi vem recuando ao longo do primeiro trimestre deste ano. Na segunda-feira, dia 8 de abril, a arroba estava cotada em R$ 225. O valor é menor que os R$ 240 atingidos em dezembro do ano passado, portanto uma queda de R$ 20 por arroba na receita do produtor.

Pedro Gonçalves e Felipe Fabbri, ambos da Scot Consultoria, lembram que a prática de confinamento é interessante para o primeiro giro da produção, mas que é a pastagem que dá sustentação à oferta de carne, especialmente no mercado nacional – onde há sinais de retomada do consumo, a partir da melhora da economia e da renda da população.

O cenário, segundo eles, muda um pouco no segundo giro, quando a curva futura dos preços tem desenhado expectativa maior de ágio, com projeção de custos menores também para o confinamento.

“Agora, em 2024, estamos acompanhando um aumento notável na produção de carne no Brasil, o que está pressionando os preços do primeiro semestre e aumentando o consumo de carne bovina ", afirma Pessina. Para o segundo semestre, espera-se que a oferta comece a desacelerar, auxiliando a retomada dos preços, que podem se recuperar para os patamares de R$ 250 a R$ 260 a arroba.

A oferta maior segue tendência que vem desde o segundo semestre do ano passado, quando o abate de matrizes elevou a oferta de carne no mercado – resultando em pressão maior nos preços. Mas para esse ano, além do consumo doméstico maior, há uma expectativa mais favorável para o Brasil no mercado internacional devido a redução na produção dos Estados Unidos.

Como entre 24% e 30% da produção de carne com gado confinado é destinada à exportação, uma desaceleração na oferta do segundo semestre, pode impulsionar os preços e incentivar a engorda em confinamentos.

Pessina lembra que as vendas para a China também têm sido adotadas como estratégia, já que os chineses costumam pagar entre R$ 20 a R$ 30 a mais na arroba do “boi China” – que são os animais com no máximo 30 meses de idade.

No ano passado, o Brasil possuía um volume de 7,029 milhões de bovinos confinados, de acordo com o dado mais recente do Censo de Confinamento da dsm-firmenich. O número mostra estabilidade em comparação com o ano anterior, mas representa um crescimento de 46% no total de rebanho de animais confinados no Brasil quando comparado a 2015, quando o levantamento começou a ser realizado.

Hugo Cunha, gerente técnico Latam de Confinamento da dsm-firmenich, comentou ao apresentar os dados que o confinamento vem sendo adotado como uma ferramenta estratégica para melhorar a produtividade dos rebanhos. O que o torna uma tendência.