Em uma conversa com ou entre produtores rurais, uma das questões mais recorrentes é a conectividade. Com a disseminação da agricultura de precisão e com máquinas cada vez mais focadas em tecnologia, levar acesso a tecnologias digitais e, consequentemente, à internet, é cada vez mais uma prioridade no setor.
Para a Starlink, empresa de telecomunicações do bilionário norte-americano Elon Musk, essa necessidade está no centro da estratégia no Brasil. A companhia, que já atua silenciosamente no País desde 2022, busca uma conexão mais direta com os produtores rurais. E sabe que precisa ter mais capilaridade para chegar a eles.
“Temos buscado parceiros, inclusive outros modelos de parceria além daquela que já temos com a Vivo, por exemplo”, contou Vicente Barsted, gerente sênior de vendas da Starlink no Brasil, durante sua participação no evento Impulso Bayer Talks, realizado no início de novembro, em Campinas.
A Starlink ainda não tem uma equipe própria por aqui. A parceria com a Vivo, citada por Barsted, é parte de um acordo global fechado em agosto com o grupo espanhol Telefônica, dono da operadora. Ainda assim, segundo o executivo, a empresa americana já bateu a marca de 100 mil clientes, entre pessoas jurídicas e físicas.
A companhia de Musk oferece uma solução que envolve uma constaleação de satélites que orbitam em altitudes mais baixas que os convencionais. Assim, consegue uma cobertura total do território brasileiro, inclusive em áreas onde a conexão de fibra óptica ou via redes móveis 3G e 4G não chega.
É justamente nessas áreas que atua o agronegócio, um dos segmentos que mais têm carências por essa limitação das estruturas mais usadas no Brasil. E é este o espaço que a Starlink pretende preencher.
“A cobertura da Starlink é total em todos os 70 países onde está presente. Mesmo no meio da Amazônia, o usuário consegue ter sinal de internet”, diz Barsted.
Além da conexão à internet, um serviço que a Starlink busca oferecer, não só no Brasil, é o de conexão direta para celulares. Mas para isso, a empresa precisa firmar acordos com as operadoras de telefonia móvel, algo que não é fácil.
Segundo explica o gerente da Starlink no Brasil, a ideia é que os smartphones consigam conectar a rede da Starlink automaticamente, quando não houver sinal de 4G ou 5G, por exemplo. Mesmo a parceria com a Vivo, por enquanto, compreende apenas a comercialização de kits de antenas, mas não trata da conexão dos celulares da operadora através do sinal da empresa de Musk.
A Starlink tem cerca de 4,7 mil satélites ativos hoje e, de acordo com Barsted, as velocidades de download e upload são maiores que nas conexões via 4G ou por satélites geoestacionários. Ainda segundo a Starlink, a empresa tem mais de 2 milhões de usuários no mundo.
E seu crescimento preocupa as gigantes das telecomunicações. Para Gregory Riordan, diretor de Tecnologias Digitais da fabricante de máquinas CNH Industrial na América Latina, as operadoras já começam a enxergar a Starlink como uma concorrente perigosa.
“É um caminho natural e é positivo para todo mundo que haja esta concorrência. No fim, o que importa é ter um serviço de qualidade”, diz Riordan.
A própria CNH, através de sua marca Case IH, tem parceria com a TIM no seu projeto Fazenda Conectada, uma área localizada na cidade de Água Boa, em Mato Grosso, que serve como um laboratório para as máquinas da empresa. As duas companhias também integram a iniciativa ConectarAgro, que reúne empresas de vários segmentos para estimular a implantação de redes 4G e 5G em zonas rurais.
Riordan afirma que experiências como a Fazenda Conectada, feita em uma propriedade rural de quase 3,2 mil hectares, têm rendido vendas não só de máquinas, mas também de equipamentos para conectividade.
“Nós já vendemos 37 torres da TIM juntamente com as máquinas. Temos nas lojas transmissão em tempo real sobre o que acontece em Água Boa, nem precisamos pensar em outras áreas para esse mesmo fim”, diz o executivo.
Um dos problemas a serem resolvidos pela Starlink no Brasil diz respeito à demanda específicas dos produtores rurais.
Um produtor que participou do Bayer Talks questionou Barsted sobre a possibilidade de desconto caso quisesse comprar antenas para todas as suas propriedades, mas como pessoa física, já que ele não tem um CNPJ.
O gerente da Starlink no Brasil disse que isso ainda não é possível. Ele mesmo atende grandes empresas que estejam interessadas nos serviços da companhia. Mas pessoas físicas só conseguem comprar diretamente pela página da empresa na internet.
Barsted admite que esta é uma questão que ainda precisa ser resolvida para que a Starlink tenha no Brasil o alcance que já tem, por exemplo, na Austrália, outro país de dimensões continentais e com grandes áreas de fazendas sem cobertura das redes convencionais.
Por lá, graças a parcerias feitas com companhias locais como a Connected Farms, as máquinas agrícolas podem receber kits portáteis das antenas da Starlink, permitindo a transmissão dos dados colhidos em tempo real. Barsted inclusive apresentou, no evento, um vídeo mostrando máquinas da Case com os equipamentos operando em uma fazenda australiana.
Barsted afirma que a ideia da Starlink é ter um cenário bastante parecido no Brasil. “Quero que os próximos vídeos de apresentação tenham casos brasileiros”, diz.